Não, não vou alinhar no histerismo pró e contra Marcelino da Mata.
A "onda" de Marcelino da Mata, uma espécie de Rambo à portuguesa, não é a minha.
Se cometeu "crimes de Guerra" foi porque participou numa Guerra criminosa, onde se cometeram crimes de ambos os lados (alguns, muito mais graves, até depois da Guerra terminar, como se pode ler na reportagem AQUI, publicada pela revista Sábado).
Marcelino da Mata foi apanhado pela História e acabou do "lado errado da História" (aconteceu-me o mesmo muitas vezes).
Goste-se ou não, a vida de Marcelino da Mata dava um filme, como se pode ler AQUI, num dos seus raros depoimento pessoais, onde relata a sua actividade militar.
Para além do relato das acções em que participou, algumas que resultaram em verdadeiros crimes de guerra, mas pelas quais ele não foi o principal responsável nem mandante, até porque a sua ingenuidade o levou a assumir esses crimes, para além das sevícias e da tortura a que foi sujeito, depois do 25 de Abril, por militares ligados em MRPP, há ma história menos conhecida que ele conta neste texto, o facto de ter trabalhado para o MPLA, muito depois da independência, para preparar militares desse movimento na Guerra Civil contra a UNITA e só saindo de Angola, a bem, e com as contas em dia, como o próprio confirmou, depois de terem surgido em Portugal notícias sobre essa actividade.
Marcelino da Mata foi, na Guiné independente, aquilo que Miguel de Vasconcelos foi para os portugueses de 1640, e maltratado como tal. Outros colegas seus tiveram menos sorte.
Para os comandos e outros militares que nunca resolveram os traumas da Guerra Colonial, ele era um herói.
Marcelino da Mata gabava-se, entre amigos, dos crimes que cometeu, como aconteceu no relato feito a um militar português sobre uma operação em que participou : "entrámos na tabanca, deitamos granadas incendiárias para as palhotas, as pessoas fugiam para o centro da tabanca, matámos todos, homens, mulheres, crianças" (ver AQUI) .
Um amigo meu, Joaquim Carlos Matos, ex-combatente na Guiné, a propósito de um texto perecido com este, que publiquei no facebook, interrogava-se :"pergunto: só ele é que participou em massacres? Quantos militares, alguns deles dos Comandos, que participaram igualmente em centenas de operações repressivas, tiveram posteriormente um papel importante no MFA e foram glorificados por isso?. E o mesmo não se aplica a tantos "democratas do pós-25 de Abril" ?
Numa Guerra, principalmente numa Guerra como foi a Colonial, a fronteira ente os actos de cobardia, de heroicidade, ou criminosos é bastante ténue, muitas vezes, no mesmo combate, uma mesma pessoa consegue comete-los em simultâneo.
Os grandes criminosos, geralmente, nunca sujaram as mãos com os seus crimes, mandam os outros executá-los.
O "debate" sobre Marcelino da Mata acentua as características do mundo em que vivemos, um mundo a preto e branco, com bons e maus, sem possibilidade de diálogo civilizado, sem respeito pelas ideias dos adversários, sem tolerância pelas opiniões contrárias, e baseado na gritaria.
Mamadou Ba e André Ventura revelam-se, neste tema, as duas faces da mesma moeda da intolerância (leia-se, a propósito, esta interessante opinião de Alberto Magalhães).
Como qualquer pessoa que se cruzou com uma História de violência, tragédia e de guerra, Marcelino da Mata foi, tanto "besta", como "herói", ou, parafraseando o conhecido filosofo espanhol José Ortega y Gassset, " homem (Marcelino da Mata) foi o homem e a sua circunstância".
Ou, como diria Charlie Chaplin, pela voz do seu personagem Sr. Verdoux, "quem mata uma pessoa é um criminoso, quem mata um milhão é um herói".
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