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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

João Ferreira, Obviamente!


Já tinha prometido AQUI que me ia pronunciar sobre a minha escolha para as próximas eleições presidenciais.

Pela segunda vez, em mais de 40 nos de democracia, vou votar num candidato do PCP, em João Ferreira.

A última vez que o fiz foi em 1991, quando votei em Carlos Carvalhas.

Nas últimas eleições votei e declarei apoio público a Sampaio da Nóvoa.

Claro que espero um bom resultado para Marisa Matias e para Ana Gomes, e não nego alguma simpatia pela simplicidade e espontaneidade de um Vitorino Silva.

O célebre “Tino de Rãs” foi, aliás, o único que deixou o Ventura ko nos debates a dois, com as suas metáforas e a melhor resposta ao racismo anti-cigano do candidato da extrema  direita.

Estas são umas das eleições mais atípicas de sempre, não só porque a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, o melhor presidente de sempre em democracia, está garantida, mas também por causa da situação de crise sanitária em que se vive.

Claro que há um grande risco de se atingir o record de abstenções, e que essa situação pode baralhar tudo, inclusive levar a uma inesperada segunda volta. Neste caso votaria em Marcelo.

Pelo que tenho visto até agora, e confirmou-se no debate de ontem, só existem dois candidatos credíveis e com um discurso estruturado, Marcelo e João Ferreira.

Marisa Matias é uma candidata credível, mas não vem trazer nada de novo à campanha, a não ser segurar o eleitorado fiel do BE. Pela minha parte, enquanto me lembrar da posição do BE na votação do último orçamento, não voltarei a votar em candidatos do BE, como aconteceu pontualmente no passado.

Ana Gomes tem um passado que a honra, foi das raras militantes do PS que denunciou desde o princípio, o clima de corrupção que se instalou no PS nos tempos de Sócrates, mas tem uma  postura demasiado turbulenta, roçando por vezes o mais boçal e arruaceiro populismo, que, quanto a mim, não se coaduna com o cargo de Presidente da República.

Estando garantida a reeleição de Marcelo, existem outras situações que estão em jogo nestas eleições.

À direita o candidato da IL e o candidato do Chega procuram reforçar a mensagem antissocial e neoliberal do primeiro e antidemocrática e extremista do segundo.

O candidato do IL é o mais fraquinho de todos, com uma retórica muito básica de preconceitos ideológicos de cariz neoliberal, apesar da simpatia que por ele nutrem os comentadores da SIC e do Expresso, e dele não é de esperar melhor que o último lugar. Pelo contrário, se por absurdo esse candidato conseguisse ultrapassar pelo menos um candidato da esquerda, poderá cantar "vitória".

Já a posição do Ventura é mais preocupante. Se conseguir ficar à frente de, pelo menos, dois dos candidatos da esquerda, conseguindo o objectivo de disputar a segunda posição com Ana Gomes e ter mais votos que os candidatos do BE e do PCP juntos, pode gerar uma preocupante dinâmica de crescimento da extrema-direita em Portugal.

Claro que, um resultado que não seja esse, vai esvaziar rapidamente o projecto antidemocrático e xenófobo desse candidato, o que seria uma benesse para o país.

Pela nossa parte, o único candidato à esquerda que trás algo de novo e pode dar um contributo para mudar alguma coisa nesta área, é João Ferreira, já que, para além de ser o candidato melhor preparado, a par de Marcelo, conseguindo um resultado significativo, poderá dar inicio a uma dinâmica que o leve a ser escolhido para substituir Jerónimo de Sousa na liderança do PCP, à frente do qual pode contribuir para a necessária renovação de um partido fundamental para manter acesa a chama defesa dos direitos socias e de quem trabalha, inovando o discurso e abrindo o partido.

O melhor que podia acontecer a João Ferreira era ficar em 3º ou 4º lugar, à frente de Ventura, conseguindo, com os votos de Marias Matias, ou por si só, ter mais votos que o candidato da extrema-direita.

Se ficar atrás deste candidato e atrás de Marisa Matias e com uma votação abaixo de 5%, João Ferreira perderá as condições para liderar o PCP e este partido deixará de ter condições para se renovar, acentuando o seu declínio dos últimos anos.

Por tudo isto, declaro aqui, publicamente, o meu voto no candidato João Ferreira.

1 comentário:

Sof disse...

Obrigada pelo exercício que fez, que ajuda a clarificar um pouco as ideias. Temo é que a posição relativamente ao candidato do Chega não se fique por aqui, mesmo no caso de não vir a medir forças com Ana Gomes, ou no caso de não ficar à frente dos candidatos do PCP e do BE. Parece-me, infelizmente, que está a ganhar dimensão e muita visibilidade à custa, precisamente, do seu discurso xenófobo e extremista. Espero bem que os portugueses, de tão desalentados que estão, não se deixem levar por toda esta conversa fiada...