Já tinha prometido AQUI que me ia pronunciar sobre a minha escolha para as próximas eleições presidenciais.
Pela segunda vez, em mais de 40 nos de democracia, vou votar num
candidato do PCP, em João Ferreira.
A última vez que o fiz foi em 1991, quando votei em Carlos Carvalhas.
Nas últimas eleições votei e declarei apoio público a Sampaio da Nóvoa.
Claro que espero um bom resultado para Marisa Matias e para Ana Gomes,
e não nego alguma simpatia pela simplicidade e espontaneidade de um Vitorino
Silva.
O célebre “Tino de Rãs” foi, aliás, o único que deixou o Ventura ko nos
debates a dois, com as suas metáforas e a melhor resposta ao racismo
anti-cigano do candidato da extrema
direita.
Estas são umas das eleições mais atípicas de sempre, não só porque a
reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, o melhor presidente de sempre em
democracia, está garantida, mas também por causa da situação de crise sanitária
em que se vive.
Claro que há um grande risco de se atingir o record de abstenções, e
que essa situação pode baralhar tudo, inclusive levar a uma inesperada segunda
volta. Neste caso votaria em Marcelo.
Pelo que tenho visto até agora, e confirmou-se no debate de ontem, só
existem dois candidatos credíveis e com um discurso estruturado, Marcelo e João
Ferreira.
Marisa Matias é uma candidata credível, mas não vem trazer nada de novo
à campanha, a não ser segurar o eleitorado fiel do BE. Pela minha parte,
enquanto me lembrar da posição do BE na votação do último orçamento, não
voltarei a votar em candidatos do BE, como aconteceu pontualmente no passado.
Ana Gomes tem um passado que a honra, foi das raras militantes do PS
que denunciou desde o princípio, o clima de corrupção que se instalou no PS nos
tempos de Sócrates, mas tem uma postura
demasiado turbulenta, roçando por vezes o mais boçal e arruaceiro populismo, que, quanto a
mim, não se coaduna com o cargo de Presidente da República.
Estando garantida a reeleição de Marcelo, existem outras situações que
estão em jogo nestas eleições.
À direita o candidato da IL e o candidato do Chega procuram reforçar a
mensagem antissocial e neoliberal do primeiro e antidemocrática e extremista do
segundo.
O candidato do IL é o mais fraquinho de todos, com uma retórica muito básica de preconceitos ideológicos de cariz neoliberal, apesar da simpatia que
por ele nutrem os comentadores da SIC e do Expresso, e dele não é de esperar melhor
que o último lugar. Pelo contrário, se por absurdo esse candidato conseguisse ultrapassar pelo menos um
candidato da esquerda, poderá cantar "vitória".
Já a posição do Ventura é mais preocupante. Se conseguir ficar à frente
de, pelo menos, dois dos candidatos da esquerda, conseguindo o objectivo de
disputar a segunda posição com Ana Gomes e ter mais votos que os candidatos do
BE e do PCP juntos, pode gerar uma preocupante dinâmica de crescimento da
extrema-direita em Portugal.
Claro que, um resultado que não seja esse, vai esvaziar rapidamente o
projecto antidemocrático e xenófobo desse candidato, o que seria uma benesse
para o país.
Pela nossa parte, o único candidato à esquerda que trás algo de novo e pode dar um
contributo para mudar alguma coisa nesta área, é João Ferreira, já que, para
além de ser o candidato melhor preparado, a par de Marcelo, conseguindo um resultado
significativo, poderá dar inicio a uma dinâmica que o leve a ser escolhido para substituir
Jerónimo de Sousa na liderança do PCP, à frente do qual pode contribuir para a
necessária renovação de um partido fundamental para manter acesa a chama defesa
dos direitos socias e de quem trabalha, inovando o discurso e abrindo o partido.
O melhor que podia acontecer a João Ferreira era ficar em 3º ou 4º
lugar, à frente de Ventura, conseguindo, com os votos de Marias Matias, ou por
si só, ter mais votos que o candidato da extrema-direita.
Se ficar atrás deste candidato e atrás de Marisa Matias e com uma
votação abaixo de 5%, João Ferreira perderá as condições para liderar o PCP e
este partido deixará de ter condições para se renovar, acentuando o seu declínio
dos últimos anos.
Por tudo isto, declaro aqui, publicamente, o meu voto no candidato João
Ferreira.
1 comentário:
Obrigada pelo exercício que fez, que ajuda a clarificar um pouco as ideias. Temo é que a posição relativamente ao candidato do Chega não se fique por aqui, mesmo no caso de não vir a medir forças com Ana Gomes, ou no caso de não ficar à frente dos candidatos do PCP e do BE. Parece-me, infelizmente, que está a ganhar dimensão e muita visibilidade à custa, precisamente, do seu discurso xenófobo e extremista. Espero bem que os portugueses, de tão desalentados que estão, não se deixem levar por toda esta conversa fiada...
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