A afirmação foi de Ramalho Eanes, numa entrevista dada à SIC.
O primeiro presidente eleito
quis assim reassumir a importância dessa data, criticando implicitamente
aqueles que querem fazer um distinção entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro.
Para ele o 25 de Novembro não
pode ser interpretado separado da data fundadora da democracia, respondendo assim,
de forma indirecta, àqueles que querem comemorar o 25 de Novembro separando a
data do 25 de Abril.
Recorde-se que alguma direita
(Moedas e Passos Coelho), a direita radical (CDS e Iniciativa Liberal) e a
extrema-direita (CHEGA) têm insistido em desvalorizar o 25 de Abril,
enfatizando a “superioridade” do 25 de Novembro em relação ao “dia inicial inteiro
e limpo” (citando Sofia de Mello Breyner).
Não deixa, assim, de ser
importante que o militar que comandou as operações do 25 de Novembro venha recordar
a importância do 25 de Abril, considerando que o 25 de Novembro foi o reassumir
do compromisso democrático inicial.
Recorde-se que o 25 de
Novembro foi conduzido por militares do 25 de Abril, de Ramalho Eanes a Salgueiro Maia, de Victor
Alves a Melo Antunes e de Vasco Lourenço, entre outros.
Eanes deita por terra a
tentativa de uma certa direita fazer do 25 de Novembro uma data revanchista em
relação às conquitas do 25 de Abril.
Transcrevemos em baixo a
reportagem publicada no site da Rádio Renascença, sobre essa entrevista, que
também pode ser ouvida no site da SIC :
“O antigo Presidente da
República António Ramalho Eanes defendeu, em entrevista à SIC, que “faz
inteiramente sentido" que o 25 de Novembro de 1975 seja celebrado, tal
como o 25 de Abril de 1974 e entende que quem quer separar as duas datas está "a
cometer um erro histórico”.
“Os erros históricos nunca
são convenientes, porque a história quando é apresentada na sua totalidade,
permite-nos que a ela voltemos, para nela aprender e evitar cometer erros que
foram cometidos no passado”, assinalou.
O comandante operacional do
25 de Novembro e primeiro Presidente da República eleito em democracia
sublinhou, no entanto, que “há uma data fundadora da Democracia, é o 25 de
Abril, que assume perante o povo português o compromisso de honra de lhe
devolver a soberania e a liberdade, de fazer com que os portugueses façam
aquilo que entendem para viver o seu presente e desenhar o seu futuro”.
“Houve, como toda a gente
sabe, sobretudo os mais velhos, aquela perturbação terrível a que chamaram PREC
e, houve, obviamente, ameaças significativas à intenção original do 25 de
Abril, que era a intenção democrática. O 25 de Novembro reassumiu esse compromisso
original”, explicou.
Nesta entrevista, fazendo
um balanço dos 50 anos do 25 de Abril, Ramalho Eanes destacou as mudanças
positivas, sobretudo, nas áreas da Saúde e Educação e na parte social,
referindo que em 1974 havia “uma miséria pungente” que foi atenuada, mas que
ainda não desapareceu.
Já sobre o que mudou menos
desde a revolução, o general apontou a economia, que não se modernizou, nem se
desenvolveu.
A finalizar a entrevista,
deixou ainda um apelo aos portugueses: “Se me permite, gostaria de deixar um
apelo, tendo em consideração que sou um velho. Tenho quase 90 anos. Gostaria de
dizer aos portugueses que é muito importante que se debrucem sobre 25 de Abril,
que façam uma reflexão sobre aquilo que se conseguiu”.
“Mas acho que é mais
importante ainda fazerem uma reflexão daquilo que querem que venha a ser o
país. Uma reflexão que lhes permita ver o que é necessário para que tenhamos um
presente melhor. De maior inclusão e, sobretudo, que tenhamos um futuro que corresponda
ao desejo dos portugueses. Eu digo isto não por mim, porque sou um velho, nem
pelos homens da minha geração. Mas, sobretudo, para as gerações mais novas e
para as gerações vindouras, porque a elas cabe assegurar a continuidade da
pátria”, concluiu”.
Poe Olímpia Mairos, no site
da Rádio Renascença, 22 abril de 2024 - 08:35
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