Nos últimos dias, quase sempre que abro a televisão par ver as notícias
tenho de gramar com minutos infindáveis a ouvir falar da transferência do jovem
jogador de futebol João Félix para o Atlético de Madrid.
Não nego as qualidades de tão
jovem jogador, também ele vitima da orgia mediática à volta da sua
personalidade.
Mas, que raio, não existem notícias mais importantes para debater,
abrir telejornais, ocupar páginas de jornais ou o valioso espaço da comunicação
social, do que uma transferência milionária?
Em que é que um jovem jogador de futebol de topo é mais importante do
que um jovem desportista que ganha medalhas noutras modalidades em torneios
internacionais?
E em que é que um jovem jogador de futebol é mais importante do que muitos
jovens artistas, cientistas, investigadores, profissionais ou empresários que
se destacam por cá e por esse mundo fora, na inovação, criatividade e originalidade,
nessas várias áreas da actividade e no conhecimento humano?
A não ser que seja pelos valores envolvidos, valores aos quais nenhum
outro jovem que se destaque em qualquer das actividades acima referidas sonha
algum dia almejar.
A culpa não é de João Félix, um jovem jogador de futebol realmente
talentoso.
A culpa do destaque dado quase exclusivamente a uma actividade e a um
desporto como o futebol, é de uma comunicação social medíocre, rendida ao
fascínio pelo dinheiro envolvido nesse desporto e preguiçosa a investigar ou
divulgar novas realidades.
Se houvesse verdadeiro jornalismo, aquilo que a comunicação social devia estar a fazer há
muito tempo era investigar a origem do dinheiro envolvido em transferências
milionárias.
Se houvesse verdadeiro jornalismo, aquilo que essa mesma comunicação
social estava a fazer era explicar-nos porque é que que um jovem e talentoso
jogador de futebol ganha num ano aquilo que nem um prémio Nobel vai ganhar numa
vida.
É caso para dizer, que vivam os “João Félix” anónimos deste país que,
todos os dias, trazem bons resultados desportivos, noutras modalidades que não
o futebol profissional, produzem riqueza
e inovação, criam arte, fazem descobertas científicas fundamentais para a
melhoria da vida de todos nós, trabalhando em condições precárias e, muitas vezes, com salários miseráveis, muitas vezes , até, gratuitamente.
Estes, como dizia Brecht, são os imprescindíveis, mesmo se continuam
anónimos.
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