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terça-feira, 1 de setembro de 2020

FESTA DO AVANTE. Os “prós” e os “contra”

 


Como tudo na vida, nem tudo é preto, nem tudo é branco.

Infelizmente o debate nas redes sociais, contaminando cada vez mais o debate na comunicação social, alimenta um discurso fundamentalista e extremista sobre todos os temas.

Quem pensa ou concorda como nós é bestial, quem pensa de forma diferente e discorda de nós é uma “besta”.

Este discurso de ódio e intolerância contamina cada vez mais a opinião pública, impedindo um debate sereno e aberto.

A COVID-19 tem alimentado esse discurso, com muita gente a assumir tentações totalitárias e fundamentalistas sobre saúde pública, discurso alimentado, aliás, por instituições pseudoindependentes (mas maioritariamente ligadas a um partido político), como a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente do Médicos e, embora de forma mais atenuada e disfarçada, a Associação de Médicos de Saúde Pública, com palco diário privilegiado na comunicação social para expandir o seu discurso mais de  propaganda do que de esclarecimento.

Já tivemos o discurso do “ir além da Troika”, temos agora o discurso do “ir além das recomendações da OMS e da DGS”.

O debate sobre a realização da Festa do Avante não tem escapado a esse discurso fundamentalista, de ambos os lados, diga-se em abono da verdade.

Já se tinha visto uma discussão idêntica por ocasião das comemorações do 25 Abril e da realização da manifestação do 1º de Maio.

Com sabem, apoiei a realização do 25 de Abril nos moldes em que se comemorou, revelei algumas dúvidas sobre o 1º de Maio, mas reconheço que a sua realização foi um bom exemplo de como se podiam realizar eventos públicos em segurança.

Contudo, a Festa do Avante é um evento bastante diferente daqueles, quer pela sua dimensão, quer pela sua localização, quer pela sua duração.

Ao mesmo tempo é totalmente absurda qualquer comparação entre a Festa do Avante e os grandes festivais de musica de Verão ou a realização de jogos de futebol com público.

A diferença começa logo no tipo de público, jovem e dinâmico nos festivais de Verão, irresponsável e violento nos estádios de futebol, familiar na Festa do Avante, logo com comportamentos diferentes, difícil de controlar nos dois primeiros casos, mais fácil de controlar no segundo.

Claro que muita da polémica foi gerada pelos próprios organizadores da Festa que continuaram a insistir numa Festa igual à outras, falando mesmo na presença de 110 mil pessoas por dia, reduzindo depois o número para 33 mil, números discutíveis e “perigosos” mesmo para um espaço de 33 hectares ( equivalente, aproximadamente, a 33 campos de futebol).

Coube à DGS publicar um conjunto de normas mais realistas (VER AQUI) , de acordo aliás com o que já tinha afirmado a Ministra da Saúde (que não seria permitido o que está proibido, nem proibido o que está permitido).

Aliás, basta olhar para a normas de  ocupação de praias, outros eventos, como a Feira do Livro, espectáculos vários, ocupação de espaços de lazer e restaurantes, para perceber o alcance das  palavras da Ministra da Saúde.

Cruzando as normas impostas pela DGS com as normas já assumidas pelos organizadores da festa (VER AQUI), se forem todas cumpridas com rigor, para se perceber que, agora, finalmente se pode dizer que o espaço da Festa é um espaço seguro, embora, como em todo o lado, não isento de riscos.

Aliás, a leitura atenta dessas normas, mostra a má fé e a falácia de algumas afirmações de comentadores, muitas revelando um grande desconhecimento do espaço em causa e sem terem lido as normas: ao contrário de algumas afirmações que já ouvi, haverá um máximo de 2 mil pessoas, sentadas, no espaço do palco principal, haverá, à entrada medição de temperatura, embora voluntária (quanto a nós devia ser obrigatória) e é obrigatório o uso de máscaras para os maiores de 10 anos em todos os espaços.

Claro que existem algumas dúvidas. Como é que a organização vai cumprir o limite de 16 mil pessoas? Como é que vai conseguir controlar rigorosamente o distanciamento e a ocupação dos espaços?

Se neste momento não tenho grandes dúvidas sobre a segurança no interior do recinto, continuo a achar exagerado o tempo, a quantidade de realizações e a dificuldade em evitar grandes movimentações entre espaços.

Para mim, o principal problema continua a ser a movimentação de pessoas no exterior e nas ruas circundantes do espaço da Festa e, principalmente, os transportes para o local.

É aliás esta questão e esta dúvida que me levou a decidir não me deslocar este ano à Festa do Avante.

Podia ir de carro até próximo da festa, mas sei da dificuldade em encontrar estacionamento. Por isso teria de tomar dois transportes públicos, comboio de Lisboa até próximo do Seixal e autocarro, sempre superlotado, até à festa.

Acho por isso que teria sido mais sensato seguir o exemplo das Festas irmãs do PC espanhol e do PC francês, que foram suspensas e substituídas por actos simbólicos.

Sabemos que para muitos fundamentalistas de serviço nas redes sociais e na comunicação social, teriam a mesma atitude intolerante, tivesse a festa mil pessoas ou 200 mil.

Pela nossa parte vamos analisar se existe algum impacto no número de casos devido à Festa, acompanhando, nos próximos dias, a evolução nos concelhos próximos da Festa, comparativamente com a evolução nacional. Os resultados serão apresentados daqui a uns 15 dias.

Esperamos também alguma responsabilidade por parte dos órgão de comunicação social no acompanhamento do evento, com menos manipulação visual ( é diferente mostra público filmado a partir do chão ou a partir de um drone) e mais informação independente e credível.

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