Como tudo na vida, nem tudo é preto, nem tudo é branco.
Infelizmente o debate nas redes sociais,
contaminando cada vez mais o debate na comunicação social, alimenta um discurso
fundamentalista e extremista sobre todos os temas.
Quem pensa ou concorda como nós é bestial,
quem pensa de forma diferente e discorda de nós é uma “besta”.
Este discurso de ódio e intolerância
contamina cada vez mais a opinião pública, impedindo um debate sereno e aberto.
A COVID-19 tem alimentado esse discurso,
com muita gente a assumir tentações totalitárias e fundamentalistas sobre saúde
pública, discurso alimentado, aliás, por instituições pseudoindependentes (mas maioritariamente
ligadas a um partido político), como a Ordem dos Médicos, o Sindicato
Independente do Médicos e, embora de forma mais atenuada e disfarçada, a
Associação de Médicos de Saúde Pública, com palco diário privilegiado na
comunicação social para expandir o seu discurso mais de propaganda do que de esclarecimento.
Já tivemos o discurso do “ir além da Troika”,
temos agora o discurso do “ir além das recomendações da OMS e da DGS”.
O debate sobre a realização da Festa do
Avante não tem escapado a esse discurso fundamentalista, de ambos os lados,
diga-se em abono da verdade.
Já se tinha visto uma discussão idêntica
por ocasião das comemorações do 25 Abril e da realização da manifestação do 1º
de Maio.
Com sabem, apoiei a realização do 25 de
Abril nos moldes em que se comemorou, revelei algumas dúvidas sobre o 1º de
Maio, mas reconheço que a sua realização foi um bom exemplo de como se podiam
realizar eventos públicos em segurança.
Contudo, a Festa do Avante é um evento
bastante diferente daqueles, quer pela sua dimensão, quer pela sua localização,
quer pela sua duração.
Ao mesmo tempo é totalmente absurda qualquer
comparação entre a Festa do Avante e os grandes festivais de musica de Verão ou
a realização de jogos de futebol com público.
A diferença começa logo no tipo de público,
jovem e dinâmico nos festivais de Verão, irresponsável e violento nos estádios
de futebol, familiar na Festa do Avante, logo com comportamentos diferentes,
difícil de controlar nos dois primeiros casos, mais fácil de controlar no
segundo.
Claro que muita da polémica foi gerada
pelos próprios organizadores da Festa que continuaram a insistir numa Festa
igual à outras, falando mesmo na presença de 110 mil pessoas por dia, reduzindo
depois o número para 33 mil, números discutíveis e “perigosos” mesmo para um
espaço de 33 hectares ( equivalente, aproximadamente, a 33 campos de futebol).
Coube à DGS publicar um conjunto de normas
mais realistas (VER AQUI) , de acordo aliás com o que já tinha afirmado a
Ministra da Saúde (que não seria permitido o que está proibido, nem proibido o
que está permitido).
Aliás, basta olhar para a normas de ocupação de praias, outros eventos, como a
Feira do Livro, espectáculos vários, ocupação de espaços de lazer e restaurantes,
para perceber o alcance das palavras da
Ministra da Saúde.
Cruzando as normas impostas pela DGS com as
normas já assumidas pelos organizadores da festa (VER AQUI), se forem todas
cumpridas com rigor, para se perceber que, agora, finalmente se pode dizer que
o espaço da Festa é um espaço seguro, embora, como em todo o lado, não isento de riscos.
Aliás, a leitura atenta dessas normas, mostra a má fé e a falácia de algumas afirmações de comentadores, muitas
revelando um grande desconhecimento do espaço em causa e sem terem lido as normas: ao contrário de algumas
afirmações que já ouvi, haverá um máximo de 2 mil pessoas, sentadas, no espaço
do palco principal, haverá, à entrada medição de temperatura, embora voluntária
(quanto a nós devia ser obrigatória) e é obrigatório o uso de máscaras para os
maiores de 10 anos em todos os espaços.
Claro que existem algumas dúvidas. Como é
que a organização vai cumprir o limite de 16 mil pessoas? Como é que vai
conseguir controlar rigorosamente o distanciamento e a ocupação dos espaços?
Se neste momento não tenho grandes dúvidas
sobre a segurança no interior do recinto, continuo a achar exagerado o tempo,
a quantidade de realizações e a dificuldade em evitar grandes movimentações entre
espaços.
Para mim, o principal problema continua a
ser a movimentação de pessoas no exterior e nas ruas circundantes do espaço da
Festa e, principalmente, os transportes para o local.
É aliás esta questão e esta dúvida que me
levou a decidir não me deslocar este ano à Festa do Avante.
Podia ir de carro até próximo da festa, mas
sei da dificuldade em encontrar estacionamento. Por isso teria de tomar dois transportes
públicos, comboio de Lisboa até próximo do Seixal e autocarro, sempre
superlotado, até à festa.
Acho por isso que teria sido mais sensato
seguir o exemplo das Festas irmãs do PC espanhol e do PC francês, que foram
suspensas e substituídas por actos simbólicos.
Sabemos que para muitos fundamentalistas de
serviço nas redes sociais e na comunicação social, teriam a mesma atitude
intolerante, tivesse a festa mil pessoas ou 200 mil.
Pela nossa parte vamos analisar se existe
algum impacto no número de casos devido à Festa, acompanhando, nos próximos
dias, a evolução nos concelhos próximos da Festa, comparativamente com a
evolução nacional. Os resultados serão apresentados daqui a uns 15 dias.
Esperamos também alguma responsabilidade por parte dos órgão de comunicação social no acompanhamento do evento, com menos manipulação visual ( é diferente mostra público filmado a partir do chão ou a partir de um drone) e mais informação independente e credível.
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