Ainda sou do tempo em que um jornal e o jornalismo valia pelo nome e pelo prestígio dos seus jornalistas.
Nesse tempo tinham opiniões fundadas, grandes reportagens, entrevistas
históricas e uma informação plural.
Era assim em jornais como o “Diário de Lisboa” ou o “República”, mas
também no “Diário Popular” e n’ “A Capital”.
Surgiram depois títulos que revolucionaram tudo, como “O Jornal” ou o “Expresso”.
Neste último destacavam-se, desde os anos 80, as grandes reportagens e
os excelentes ensaios da “Revista”, exemplo da independência e criatividade em
jornalismo.
Vicente Jorge Silva, que tinha transformado um pequeno jornal regional,
o “Comércio do Funchal”, num jornal de referência e num bom exemplo de como se
pode fazer bom jornalismo com poucos meios, fora o responsável pela qualidade
acima da média daquele suplemento do “Expresso”, ao ponto de, a partir de certa
altura, muitos, como eu, comprarem esse
semanário apenas pela revista.
A sua saída para fundar o “Público”
foi uma machadada na qualidade daquele semanário, que passou a viver apenas do
prestígio passado, nunca mais recuperando a qualidade perdida.
Pelo contrário, Vicente Jorge Silva levou para o “Público” o melhor
desse histórico semanário.
Quando saiu do jornal que fundou, também o “Público” se ressentiu da
sua perda.
Ainda existem alguns, mas Vicente Jorge Silva é um dos últimos
jornalistas cujas qualidades pessoais se impunham no órgão de imprensa onde
trabalhava e que faziam a imagem e a marca do mesmo jornal.
Felizmente Vicente Jorge Silva deixou “escola”, o pouco com qualidade,
independência e criatividade ainda sobrevivente na (cada vez mais rara) imprensa de referência, mais
no “Público”, na “Visão” ou no “Diário de Notícias”, menos no “Expresso”.
Nos momentos agitados que se avizinham, Homens com a clarividência de um Vicente Jorge Silva vão-nos fazer muita falta.
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