Foi em Fevereiro passado, aí pelo período do carnaval, que me desloquei pela última vez, até este mês de Setembro, à minha segunda cidade, Lisboa.
Tendo circulado então pelo Chiado, o verdadeiro coração da bela cidade,
lembro-me de ter de andar quase à cotovelada para poder calcorrear aquelas
ruas, tal a multidão de turistas que enchia aquele espaço. Lembrei-me na altura
de, uns meses antes, ter pago por um gelado raquítico quase 5 euros e de, uma outra
vez, para levantar 20 euros numa caixa multibanco, ter sido obrigado a levantar
50, porque as caixas do Chiado não davam quantias inferiores a esta.
Estava a acontecer em Lisboa, principalmente na zona do Chiado, o que
já tinha acontecido no Algarve: os indígenas lisboetas e o visitantes nacionais
e outros residentes, como nós, eram expulsos pelos preços incomportáveis, pelo
atendimento em inglês, mesmo quando eramos portugueses, pelo excesso de gente, caminhando-se
para matar, rapidamente, a galinha dos ovos de oiro do turismo.
Era só uma questão de tempo até tudo rebentar, não se esperava é que
fosse de modo tão rápido e radical.
Roguei então, e pela segunda vez em pouco tempo, uma praga: tão
depressa, e para meu desgosto, não voltaria àquele espaço que sempre calcorreie
desde miúdo, quando ía com a minha mãe à consulta dos Drs. Damas Mora ou dr.
Rhua, ou para as compras de Natal, não me esquecendo do modo como ficava
embasbacado frente às montras cheias de brinquedos que não existiam em Torres
Vedras.
Mal sabia eu que a praga que lancei ia resultar poucos dias depois,
para meu “arrependimento”.
De facto, devido ao “confinamento” e à COVID, não voltei tão depressa a
Lisboa, e ainda menos depressa ao Chiado.
Desde que me lembro, não me recordo de estar tanto tempo seguido sem ir
ao coração da cidade.
Durante o confinamento fiz uma rápida incursão pelos arredores do
Parque das Nações, passei duas vezes por Lisboa ao longe, atravessando a ponte
Vasco da Gama e só no dia 14 de Setembro entrei por Lisboa, embora tendo-me
ficado por perto do Campo Grande ,pela Cidade Universitária e pela Biblioteca
Nacional.
Finalmente, esta 2ª feira, “aventurei-me” até ao coração da cidade, de
automóvel, tendo seguido pela Avenida do Brasil, Areeiro, Avenida de Roma,
Alameda, Almirante Reis, Martim Moniz, Rossio, Liberdade, Marquês, subindo ao
Príncipe Real, Bairro Alto, Largo de Camões, seguindo para o Cais do Sodré,
tendo finalmente estacionado junto ao Mercado da Ribeira.
Para meu alivio e para meu espanto, era fácil, olhando para quem
circulava pelas ruas, distinguir os lisboetas e os trabalhadores da cidade, do novamente exagerado número de turistas.
Os “indígenas” circulavam, na
maioria esmagadora dos casos, com máscara. Os turistas, muitos vindo de
países onde o COVID atinge ou está atingir proporções trágicas, raramente tinham
máscara.
Por isso mesmo decidi não estacionar junto ao Chiado, e ficar-me pela
zona da Ribeira, menos movimentada, ao contrário do que é habitual.
A intensão era dar um pequeno passeio, com máscara posta, pelas ruas e
ruelas à volta do Cais do Sodré, tirando algumas fotografias.
Só que, ao pretender usar a máquina fotográfica, apercebi-me que tinha
deixado o seu cartão em casa.
Lá tive de subir a colina até ao Largo de Camões, por uma escadaria
paralela ao elevador da Bica, à procura de um sitio onde vendessem os cartões.
E foi aí que aprendi a diferença entre calcorrear as ruas e colinas de Lisboa
em tempos normais, os tais em que “eramos felizes sem sabermos” e os de agora,
em tempos COVID. Fiquei rapidamente sem fôlego a meio da subida, devido à
dificuldade de respirar muito tempo e em esforço com a máscara colocada.
Claro que vou ter de esperar pelos tempos “normais” para comprovar se
fiquei sem fôlego por causa da máscara…ou é a “velhice” a insinuar-se…
Quase a desistir e a pensar voltar para trás (com a sensação que nem
isso conseguia), lá fui, depois de descansar e de recuperar o fôlego, subindo
até ao cimo, descendo depoia ao Largo de Camões, onde consegui comprar um
cartão, visitar saudosamente uma livraria de livros antigos, a Sá da Costa, e
voltar a descer até ao Cais do Sodré. Não me atrevi descer o resto do Chiado,
para não abusar do fôlego e porque era cada vez mais denso o número de
turistas, maioritariamente sem máscara.
Gostei de retomar as minhas saudosas caminhadas lisboetas, mas fiquei
ciente que só as poderei repetir quando for possível respirar à vontade o ar de
Lisboa.
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