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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Regresso a Lisboa


Foi em Fevereiro passado, aí pelo período do carnaval, que me desloquei pela última vez, até este mês de Setembro, à minha segunda cidade, Lisboa.

Tendo circulado então pelo Chiado, o verdadeiro coração da bela cidade, lembro-me de ter de andar quase à cotovelada para poder calcorrear aquelas ruas, tal a multidão de turistas que enchia aquele espaço. Lembrei-me na altura de, uns meses antes, ter pago por um gelado raquítico quase 5 euros e de, uma outra vez, para levantar 20 euros numa caixa multibanco, ter sido obrigado a levantar 50, porque as caixas do Chiado não davam quantias inferiores a esta.

Estava a acontecer em Lisboa, principalmente na zona do Chiado, o que já tinha acontecido no Algarve: os indígenas lisboetas e o visitantes nacionais e outros residentes, como nós, eram expulsos pelos preços incomportáveis, pelo atendimento em inglês, mesmo quando eramos portugueses, pelo excesso de gente, caminhando-se para matar, rapidamente, a galinha dos ovos de oiro do turismo.

Era só uma questão de tempo até tudo rebentar, não se esperava é que fosse de modo tão rápido e radical.

Roguei então, e pela segunda vez em pouco tempo, uma praga: tão depressa, e para meu desgosto, não voltaria àquele espaço que sempre calcorreie desde miúdo, quando ía com a minha mãe à consulta dos Drs. Damas Mora ou dr. Rhua, ou para as compras de Natal, não me esquecendo do modo como ficava embasbacado frente às montras cheias de brinquedos que não existiam em Torres Vedras.

Mal sabia eu que a praga que lancei ia resultar poucos dias depois, para meu “arrependimento”.

De facto, devido ao “confinamento” e à COVID, não voltei tão depressa a Lisboa, e ainda menos depressa ao Chiado.

Desde que me lembro, não me recordo de estar tanto tempo seguido sem ir ao coração da cidade.

Durante o confinamento fiz uma rápida incursão pelos arredores do Parque das Nações, passei duas vezes por Lisboa ao longe, atravessando a ponte Vasco da Gama e só no dia 14 de Setembro entrei por Lisboa, embora tendo-me ficado por perto do Campo Grande ,pela Cidade Universitária e pela Biblioteca Nacional.

Finalmente, esta 2ª feira, “aventurei-me” até ao coração da cidade, de automóvel, tendo seguido pela Avenida do Brasil, Areeiro, Avenida de Roma, Alameda, Almirante Reis, Martim Moniz, Rossio, Liberdade, Marquês, subindo ao Príncipe Real, Bairro Alto, Largo de Camões, seguindo para o Cais do Sodré, tendo finalmente estacionado junto ao Mercado da Ribeira.

Para meu alivio e para meu espanto, era fácil, olhando para quem circulava pelas ruas, distinguir os lisboetas e os trabalhadores da cidade, do  novamente exagerado número de turistas.

Os “indígenas” circulavam, na  maioria esmagadora dos casos, com máscara. Os turistas, muitos vindo de países onde o COVID atinge ou está atingir proporções trágicas, raramente tinham máscara.

Por isso mesmo decidi não estacionar junto ao Chiado, e ficar-me pela zona da Ribeira, menos movimentada, ao contrário do que é habitual.

A intensão era dar um pequeno passeio, com máscara posta, pelas ruas e ruelas à volta do Cais do Sodré, tirando algumas fotografias.

Só que, ao pretender usar a máquina fotográfica, apercebi-me que tinha deixado o seu cartão em casa.

Lá tive de subir a colina até ao Largo de Camões, por uma escadaria paralela ao elevador da Bica, à procura de um sitio onde vendessem os cartões. E foi aí que aprendi a diferença entre calcorrear as ruas e colinas de Lisboa em tempos normais, os tais em que “eramos felizes sem sabermos” e os de agora, em tempos COVID. Fiquei rapidamente sem fôlego a meio da subida, devido à dificuldade de respirar muito tempo e em esforço com a máscara colocada.

Claro que vou ter de esperar pelos tempos “normais” para comprovar se fiquei sem fôlego por causa da máscara…ou é a “velhice” a insinuar-se…

Quase a desistir e a pensar voltar para trás (com a sensação que nem isso conseguia), lá fui, depois de descansar e de recuperar o fôlego, subindo até ao cimo, descendo depoia ao Largo de Camões, onde consegui comprar um cartão, visitar saudosamente uma livraria de livros antigos, a Sá da Costa, e voltar a descer até ao Cais do Sodré. Não me atrevi descer o resto do Chiado, para não abusar do fôlego e porque era cada vez mais denso o número de turistas, maioritariamente sem máscara.

Gostei de retomar as minhas saudosas caminhadas lisboetas, mas fiquei ciente que só as poderei repetir quando for possível respirar à vontade o ar de Lisboa.

 

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