Já existia o jornalismo de sarjeta, agora temos o jornalismo de
adivinhação.
Títulos como este podem vender jornais, mas, a fazer fé noutros
exemplos, mesmo em jornais ditos de “referência”, estamos mais uma vez a
assistir a uma tentativa de lançar o medo e o pânico com base em “estudos” mais
que duvidosos ou, no mínimo, tirando conclusões apressadas e abusivas desses “estudos”.
Antigamente tínhamos os curandeiros, adivinhos ou bruxos para explicar
fenómenos desconhecidos ou que atemorizavam as populações, muitas vezes usando
o medo para lucrarem ou ganharem poder à custa das grandes desgraças.
Nos tempos trágicos do socratismo e da troika tivemos os “estudos” económicos
de “especialistas” para justificar as malfeitorias sociais impostas pelas políticas
de austeridade.
Houve até um célebre “estudo à OCDE”, fabricado num gabinete da
ministra Lurdes Rodrigues para justificar o ataque contra os professores.
Com a epidemia de COVID-19 têm proliferado os “estudos” de “especialistas”
com as previsões mais catastróficas sobre essa mesma epidemia, usados com
objectivos políticos precisos ou apenas para dar aos seus autores os sempre
desejados “15 minutos de fama”.
Previsões catastróficas como as daquele “estudo” norte-americano (ser
norte-americano, para a nossa mentalidade provinciana, dá sempre “estatuto” à
coisa) também foram divulgadas por “epidemiologistas” locais no início da epidemia,
em Março.
Claro que o erro dessas previsões já foi convenientemente esquecido,
até porque a nossa memória é curta, e hoje a memória dura o tempo de um Twett
ou de um post.
Mas alguns desses “adivinhos” tornaram-se em astros da comunicação
social, sem nunca se terem retractado daqueles cálculos falhados, beneficiando
da tal memória curta e da espuma dos dias.
Claro que até pode acontecer que, à custa de tanto adivinharem e do uso
abusivo de previsões baseadas em cálculos “científicos”, existindo fórmulas
estatísticas para todos os gostos, um desses adivinhos acerte um dia nas
previsões.
Aconteceu com alguns economistas da nossa praça, décadas a fio a
fazerem previsões catastrofistas, acabando por acertar uma vez, na célebre
crise de 2008.
De qualquer modo, dizer que em Dezembro vamos ter 20 mil casos diários
de COVID-19 e 4 a 8 mil mortos, implicaria que, em apenas três dias, se atingisse
um número de infectados igual ao total dos registados desde Março até hoje, ou
que, nos próximos 3 meses se multiplique por três ou por cinco o número de
mortos registados nos últimos 6 meses. Apesar de tudo este número pode ser um
pouco mais realista.
Em Dezembro já ninguém se vai lembrar desta primeira página…a não ser que, como acontece no euromilhões, por tanto nos atirarem com números catastrófico, um dia acertem.
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