…E já lá vão quase TRINTA ANOS de Cavaquismo…
Passaram ontem três anos sobre a reeleição de Cavaco Silva com
Presidente da República.
Aos oito anos de Cavaco com Presidente, devemos juntar os dez anos como primeiro-ministro
(1985-1995), para além de uma anterior curta passagem pelo governo de Sá Carneiro
como ministro das finanças (1981-1982)…quase trinta anos de cavaquismo, com um
interregno de dez anos (embora o mesmo espírito cavaquista estivesse presente
no governo de Durão Barroso, entre 2002 e 2004).
Chegou a primeiro-ministro na altura em que Portugal
integrou a União Europeia (então CEE), e numa altura de “vacas gordas” para a
economia portuguesa.
A abundância de dinheiro, permitida pela canalização de
chorudos fundos europeus, deixou os portuguese deslumbrados com o culto da
riqueza e do dinheiro, e Cavaco muito contribui para isso.
Em vez de usar esses fundos no financiamento de projectos de
desenvolvimento com futuro, preferiu canaliza-los para o betão e para o
consumismo, destruindo o frágil aparelho produtivo português, a pesca, a
industria, a agricultura.
Criou a ilusão do
dinheiro fácil, distribuindo as migalhas pelo “povo”, enquanto facilitou as grandes negociatas dos
amigos políticos, das quais o BPN foi apenas um dos casos mais conhecidos.
O novo-riquismo tonou-se a ideologia do “novo regime”. O
velho slogan do país do “Fado, Fátima e Futebol” dava lugar ao país da “Cultura
Pimba”, do culto do consumismo e do ter sobre o ser e…do Futebol!!!.
O Futebol tornou-se o grande culto nacional. Desbaratou-se
dinheiro na construção de majestosos estádios para a grande festa de
consagração do “novo regime cavaquista”, o Euro 2004.
Graças a uma comunicação social cada vez mais acrítica e
amorfa, dominada pelas grandes empresas e pelo poder financeiro, principais
beneficiários dos fundos europeus e da “ideologia” cavaquista, o futebol ganhou
uma dimensão nunca conhecida, nem durante o Estado Novo.
Os clubes de Futebol
tornaram-se em grandes e apetecíveis empresas, onde corre dinheiro de
origem duvidosa, imune à crise e onde se misturam “comentadores”, políticos,
especuladores financeiros e toda uma trupe de gente pouco recomendável.
O mais grave é que grande parte da esquerda política, como o
Partido Socialista, se deixou seduzir por essa ideologia neo-saloia, das
negociatas e do dinheiro fácil, da cultura do “popular” e do “pimba”, das “praxes” e do Futebol, onde a educação tinha como
objectivo, mais do que o saber, a obtenção de um título de “doutor” para prestigiar políticos
de carreira.
No meio deste desvario e desta atitude económica e
culturalmente subdesenvolvida, houve algumas situações onde se sentiram
melhorias, como na educação, na investigação científica, na cultura, na saúde,
nas ligações viárias, no bem-estar geral da população.
Mas muitos desse avanços fizeram-se sempre de forma pouco
sustentável, aos soluços, beneficiando
muitas vezes das migalhas dos fundos que lhes eram destinados, já que o grosso era
desbaratado em benefícios para amigos da
política e das finanças.
Entre o que caminho que se podia ter feito e aquele que se
fez, houve evolução mas muito lenta, pouco sustentável, perdendo-se tempo pela
ignorância dos políticos e meios pela corrupção instalada que absorvia o grosso
do investimento.
Era um pouco como aquela anedota que se contava nos tempos
áureos do cavaquismo e dos fundos europeus a rodos: um dia um ministro
português visita o seu congénere espanhol. Este leva-o a visitar a sua casa, um
imenso palacete com todas a comodidades. Admirado com o luxo o português
pergunta-lhe como conseguiu. O espanhol leva-o à varanda e aponta para uma auto
estrada que se via em frente: - está a ver aquela auto-estrada? Metade do seu
financiamento está aqui na minha casa. Passados uns meses o ministro espanhol
visita o homólogo português e este
leva-o à sua casa, um palacete ainda maior e mais luxuoso do que aquele que
tinha visitado em Espanha. O ministro espanhol pergunta-lhe:- Como é que
conseguiu isto? . responde-lhe o português :- está a ver aquela estrada? O
espanhol olha em redor e não vê estrada nenhuma : - não vejo nada!, ao que o ministro
português reponde: - Pois não. Foi tudo para esta casa!
Mas, desde que não houvesse percalços, desde que o dinheiro
não faltasse, lá se ía andando, lentamente, melhorando lentamente a vida
daqueles sectores essenciais, conseguindo-se até resultados muito para além do
reconhecimento e dos apoios financeiros a que estavam sujeitos a cultura, a
ciência a educação e a saúde…
Muitos destes êxitos ficaram-se a dever ao trabalho de muita gente esforçada e anonima e a raros políticos com alguma visão, casos esporádicos, raramente com continuidade, boicotados
rapidamente pelos herdeiros nos cargos (um Marçal Grilo na educação, uma Maria
de Belém na saúde, um Mariano Gago na Ciência…).
Costuma-se dizer que é nas curvas apertadas da estrada que
se vêem o bons condutores.
Quando as coisas começaram a correr mal, em vez de termos um
presidente da República que exigiu responsabilidades pelo descalabro,
enfrentando o poder da corrupção politico-financeira, os “mercados” especulativos
, as mentirolas de Bruxelas e da srª Merkel sobre os portugueses, acatou todas as medidas “austoritárias” que
salvaguardaram e pouparam os responsáveis pelo descalabro (políticos,
banqueiros, grandes empresários, especuladores…) e conduziram o país ao empobrecimento, à
emigração, ao desemprego, à destruição do que de positivo se fez na
investigação, na educação e na saúde, tivemos um presidente conivente,
silencioso e ausente, transformado num mero “corta-fitas”...
O cavaquismo é este país que temos …e ainda vamos ter de
viver com ele mais alguns anos…
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