Durante a primeira metade do ano findo gerou-se grande expectativa em
torno das eleições alemãs.
Ele era que “depois das eleições Merkel mudaria a política de
austeridade”, que a “construção do projecto europeu voltaria a estar no centro
das preocupações da Alemanha”…blá, blá blá blá, blá…
Depois foi o que se viu, Merkel
quase ganhou com maioria absoluta e continuou na senda do mesmo discurso “austeritário”
e vingativo para como os “inferiores” do sul.
Mas como tinha de se aliar aos “social-democratas” para formar governo,
lá vieram os optimistas do costume….
Ele era que agora Merkel seria obrigada a recuar e a interessar-se
novamente pelos princípios solidários e sociais que estiveram na origem da
construção europeia…
Ele era que o tenebroso ministro das finanças Schäuble tinha os dias
contados….
Mas….”surpresa” das “surpresas”, foram os “social-democratas” que se
vergaram ao ditames da Merkel e o tenebroso Schäuble manteve-se ainda com mais
força e poder e , nalguns casos, o discurso dos “social-democratas” revelou-se
ainda mais radicalmente anti europeu (naquilo que o projecto europeu deve ao
social e ao sentido igualitário e solidário) do que a própria srª Merkel…
François Hollande veio ontem colocar o último prego no caixão que
transporta o sonho do projecto Europeu.
Sobrava ainda alguma esperança na França de Hollande…mas ao longo do
tempo o “socialista” francês foi-se revelando mais uma fraude, entre as muitas
que a “social-democracia” europeia transporta no seu historial recente (Blair,
Schroder, Sócrates…) e ontem encerrou finalmente qualquer veleidade de uma
França capaz de romper com a arrogância alemã e de repensar o projecto europeu,
numa perspectiva cultural, social e solidária. Pelo contrário, entregou-se de
vez à Chantagem do poder financeiro que tem vindo a minar o projecto europeu.
Aquela Europa que assentava na superioridade moral das suas democracias
solidárias, defensoras dos seus cidadãos, na construção de um Estado Social
forte e coeso, no principio da subsidiariedade entre as diversas regiões,
combatendo as desigualdades, rendeu-se de vez à ganância financeira, ao ditame
dos poderosos, ao esmagamento e empobrecimento dos mais fracos, à velha Europa
das nações onde mandam os mais fortes, como a Alemanha.
É óbvio que, se a União Europeia sobreviver, vai ser à custa do sacrifício dos países do sul, já que, para a a Alemanha, o seu "espaço vital" está a leste.
A agonia do projecto Europeu pode durar anos ou décadas, mas a partir
de agora ela já é definitiva.
As próximas eleições europeias vão dar inicio à irreversibilidade da
decadência desse projecto, que neste momento já é um “não-projecto”.
A abstenção vai ser histórica e os cidadãos que se derem ao trabalho de
ir votar vão fazê-lo para darem poder aos projectos radicalmente mais
antieuropeus, principalmente os da extrema-direita xenófoba.
Chegou a hora de os políticos com visão começarem a discutir, não o
pós-troika, mas o pós-europa e Portugal tem um importante património histórico do que é sobreviver sem
“Europa”.
Agora que o projecto Europeu já era, quem estiver interessado em
defender de facto os interesse dos cidadãos portugueses deve começar a olhar
para a nossa vocação atlântica, se possível em parceria com a Espanha e
ligando-se aos povos do Mediterrâneo.
Continuar a apostar num projecto sem futuro à vista, é comprometer a
nossa sobrevivência como país e o bem-estar dos cidadãos aos ditames do
austeritarismo europeu.
É a hora de fazer escolhas.
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