Terá sido o meu primeiro de Maio passado fora de Torres Vedras.
A Constituição tinha sido promulgada em 2 de Abril e O PS tinha acabado
de vencer as eleições legislativas de 25 de Abril e já se mediam forças para as
primeiras eleições presidências, a realizar em 27 de Junho e autárquicas, que seriam marcadas para 12 de
Dezembro.
Depois da expulsão de Mário Soares do 1º de Maio de 1975, marcando o
inicio do período mais quente do PREC, seis meses depois do 25 de Novembro,
ainda na vigência do VI Governo Provisório de Pinheiro de Azevedo e sob a
presidência de Costa Gomes, o 1º de Maio
de 1976 foi marcado pela grande divisão à esquerda com cinco manifestações em
Lisboa, em locais diferentes.
Outro acontecimento marcou esse dia, logo pela madrugada, um atentado
terrorista perpetrado pela extrema-direita ligada ao ELP/MDLP, então em franca
actividade (semanas antes tinha sido assassinado o padre Max, padre
progressista ligado à UDP).
Esse atentado, na Avenida da Liberdade, visava a sede do PCP, matou um
jovem trabalhador de 15 anos que por ali passava inadvertidamente pelas 6.35 da
manhã, a caminho do trabalho, e feriu
mais seis pessoas. Os Responsáveis pelo crime nunca foram identificados, mas alguns
dos mandantes, ligados à rede terrorista da extrema-direita, vieram a integrar-se,
nos anos seguintes, em partidos como o PSD e o CDS, onde até chegaram a
desempenhar cargos de relevo.
Aquele atentado atingiu ainda alguns pavilhões da Feira do Livro que ia
abrir por esses dias, e que então se realizava na Avenida da Liberdade.
Nesse mesmo dia Otelo Saraiva de Carvalho assumiu-se como candidato às
eleições presidências, candidatura que eu vim a apoiar.
Foi muito disso que eu acabei por documentar, nalgumas das mais antigas
fotografias tiradas por mim, com uma máquina emprestada e a preto e branco, em
pequeno formato, fotografias que descobri recentemente e que digitalizei, não
sabendo do paradeiro dos negativos.
Nessas fotografias mostro um carro e um pavilhão da feira do livro destruídos
pela bomba terrorista e fotografias da manifestação do Primeiro de Maio
realizada no Terreiro do Paço, penso que organizada pelo MRPP.
Para melhor documentar essas fotografias, incluo algumas páginas e
notícias do Diário de Lisboa de 3 de Maio de 1976.
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