Quem ainda não teve o seu momento “talibã” durante este período de
COVID-19 que atire a primeira pedra.
O problema não é o “momento”, mas quando esse “momento” se instala e é
levado a sério.
Sempre detestei qualquer tipo de fundamentalismo, embora também tenha
caído alguma vez nessa atitude.
O grave não é um momento isolado de crise “fundamentalista”.
O problema é quando esse fundamentalismo se torna regra e condiciona as
nossas ideias e atitudes.
Vem isto a propósito de muitas atitudes diariamente presentes nas redes
sociais ou, mais grave ainda, no comentário político da comunicação social, hoje
dominada por “virologistas” e “picólogos” de toda a gama, que substituíram os
“economistas” e o “economês” dos tristes tempos do “ir além da Troika”.
Hoje existe uma verdadeira caça à bruxas, em que se especializaram
esses “talibãs”, para detectar, nas filas de automóveis a atravessar as pontes
ou para o “macdonal´s” ou no passeio à
beira da praia ou nos passeantes nas ruas, perigosos infractores da lei,
completando-se muitas vezes a divulgação dessas imagens com comentários
moralistas ou mesmo “pidescos”.
Essas imagens são muitas vezes enganadoras, porque a perspectiva
cinematográfica ou fotográfica gera uma ilusão de maior aproximação do que aquela que é a
real.
Por outro lado, filas com gente dentro de automóveis, geralmente com
passageiros isolados ou familiares, são exemplo de isolamento social, já que não há contacto
entre passageiros de carros diferentes.
Nas travessias das pontes a esmagadora maioria dos casos era o de
pessoas que estavam a trabalhar para manterem os serviços essências em
funcionamento e os raros casos de infracção foram penalizados por isso.
Gente na rua ou nas praias também não representa, só por si, um perigo
para a saúde pública, desde que se cumpram as regras de distanciamento social,
o uso de máscaras para entrar em estabelecimentos ou para conversas curtas com
distanciamento, sem esquecer que o principal, na protecção pessoal e dos
familiares é o que se não vê:
desinfecção e lavagem de mãos e de outras superfícies e deixar o calçado e
mesmo a roupa à porta das casas.
A tentativa quase pidesca ou até voyeurista de calcular distância das
pessoas na rua ou na praias, ou entre carros, enganadora pela perspectiva, como
já dissemos, é um verdadeiro momento “talibã”, atitude que se tem vindo a
desenvolver de forma preocupante, nas redes sociais e na comunicação social
neste estranhos dias.
Muita dessa atitude pidesca é fomentada por sites ou ideologias de
direita e extrema direita, tendo atingindo o seu auge de fundamentalismo
intolerante por ocasião das cerimónias oficiais do 25 de Abril e da
manifestação do 1º de Maio.
Desmentido o falso alarmismo dessa atitude, os factos vieram desmentir o catastrofismo
fundamentalista dessas opiniões, pois as duas semanas onde se podiam refelectir
a “irresponsabilidade” dos “esquerdalhos” no 25 de Abril e no 1º de Maio,
terminadas no Sábado passado, foram aquelas que registaram em média, os
melhores resultados estatísticos, quer em novos infectados, quer em falecidos.
Nem se conhecem casos de deputados ou sindicalistas infectados, entre os participantes nesses momentos.
Fica assim “cientificamente” provado que a forma como aqueles dois
eventos foram organizados foi eficiente no sentido de preservar a saúde
pública, mostrando mesmo que é possível realizar alguns eventos com umas poucas
dezenas ou centenas de pessoas, cumprindo as recomendações da Direcção Geral de
Saúde.
Comparações com o 13 de Maio ou a Páscoa, essas já roçam o absurdo e a
má-fé.
Há quem diga que as situações de crise revelam, tanto o melhor, como o pior
das pessoas e das sociedades.
O espírito “talibã” que aqui referimos, é um exemplo do pior.
Pelo contrário, existem muitos exemplos de solidariedade e de entre ajuda que superam,
por enquanto, aqueles tristes exemplos.
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