A classificação só podias ter origem na cabeça de um líder populista e
chauvinista como o chanceler austríaco, o mesmo que faz parte do grupo dos “austoritários”,
que recusam a solidariedade financeira da União Europeia para combater as
trágicas consequências económico-sociais do COVID-19.
Por iniciativa desse político da direita conservadora e xenófoba foi
criado um grupo de países, intitulados de “inteligentes”, aqueles onde o
COVID-19 teve menor impacto, para estudar conjuntamente a criação de uma
espécie de “mercado comum” com o objectivo da acelerar recuperação económica, turística
e comercial do conjunto desses países.
Os países “inteligentes” escolhido pelo dito chanceler são, para além
da Áustria, a Austrália, a Nova Zelândia, Israel, Dinamarca, República Checa e
Grécia.
Singapura foi convidada, mas, por razões “técnicas” não integrou o
grupo dos “inteligentes”.
Por sua vez a Alemanha, outro país convidado, recusou o convite. Uma
atitude (mais uma) inteligente da chanceler Merkel, que terá percebido naquela
iniciativa mais um factor de desunião no seio da União Europeia.
Não se percebe totalmente o critério para escolher aqueles países e não
outros.
Em comum o menor impacto (até agora) do COVID-19 nesses países, serem
países de mercado livre, dos economicamente
mais liberais, com democracias de tipo
ocidental.
Contudo, mesmo com base naquele conjunto de critérios, não se percebe
porque ficaram de fora países como o Canadá, a Islândia ou o Japão.
Não se percebe, por sua vez, a inclusão de Israel, um país que se tem
aproveitado da situação para atirar os palestinianos para uma situação
catastrófica face ao COVID-19, uma realidade que quase configura genocídio,
criando uma espécie de “ghetto de Varsóvia” para palestinianos.
Também não se percebe a inclusão da Austrália, governado por uma
espécie de Trump austral e que só não vive uma situação catastrófica em relação
ao COVID-19 graças à combinação de alguns factores culturais, demográficos e
genético, para além de uma certa dose de “sorte”, que tem evirado um drama
idêntico aos dos fogos de verão naquele país.
Nem a inclusão da República Checa, a resvalar para um regime de “democracia
ileberal” cada vez mais próximo da Hungria ou da Polónia.
Se este “santa aliança” da “raça superior” dos “inteligentes” tivesse
sido realizada há um mês atrás, nãos seria de admirar a inclusão dos Estados
Unidos, da Holanda e da Suécia (e até do Brasil) nesse grupo de “gente superior”.
Não foi (só) por falta de “inteligência”
que a tragédia do COVID-19 se abateu sobre alguns países, assim como o facto de
alguns países terem escapado à tragédia. Existem factores demográfico (maior ou
menos concentração de populações, envelhecimento e circulação mais intensa),
factores genéticos, factores climatéricos, factores geográficos (maior ou menor
isolamento), e factores culturais ( menos contacto sociais, menos mistura geracional,
maior individualismo) ainda mal estudados, mas que podem explicar as diferenças em relação ao
impacto da epidemia.
É bom não esquecer a própria responsabilidade austríaca no escamoteamento de informação sobre a estância do Tirol que esteve na origem da disseminação do vírus pela Europa,principalmente na Alemanha, na Itália e na França, na Grã Bretanha...e até em Portugal.
A atitude arrogante de se auto-proclamarem como “inteligentes”, face aos
“estúpidos”, que serão o resto do mundo, é revelador de uma atitude, essa sim,
realmente repugnante.
O único critério comum com alguma lógica para a escolha desses países
de “raça e inteligência superior” é o facto de eles registarem um número de óbitos abaixo dos 10
por 100 mil habitantes, única razão que pode justificar a exclusão de países
como Portugal (10,24 por 100 mil) e do Canadá (10,29), embora com uma ligeira
diferença em relação a alguns dos escolhidos .
Contudo, esse critério não explica a eliminação de países como a
Islândia , o Japão, a Irlanda ou mesmo a África do Sul (este, a não ser por
serem negros africanos, que destoavam no meio de tanto branco, liberal e rico).
Desejamos, apesar de tudo, os maiores êxitos para esses países e que o
tempo não venha a destruir este novo mito da “superioridade” de uns países em relação aos outros, como já
aconteceu com o mito holandês ou sueco ( e até, durante algum tempo, com a “superioridade” da resposta norte-americana…).
O mundo não precisa de mais factores de desunião e o vírus, é bom
recordar, não conhece fronteiras nem critérios políticos ou económicos.
A partir de amanhã vamos incluir os países “inteligentes”, que não
estavam incluídos nessa nossa análise,
no nosso balanço semanal da evolução do COVID-19.
Talvez tenhamos algumas surpresas, se não já amanhã, nas próximas semanas.
Sem comentários:
Enviar um comentário