Faleceu hoje o ex-presidente da República Jorge Sampaio.
A sua importância histórica vai muito para além do seu cargo
presidencial.
Foi uma figura de referência na oposição ao Estado Novo,
primeiro nas lutas estudantis de 1962, depois como advogado de defesa de presos
políticos e como candidato nas listas da oposição, pelo CDE, em 1969, numa das
raras ocasiões em que a oposição foi até às urnas, apesar da fraude eleitoral
generalizada que impediu a eleição de deputados da oposição.
Depois do 25 de Abril, foi fundador do MES, secretário de
estado do IV governo provisório, apoiante do Grupo dos Nove, aderindo ao PS em
1978 e sendo eleito deputado em 1979.
Ocupou vários cargos políticos de relevo nacional e internacional,
quase todos ligados à defesa dos Direitos Humanos e à causa de um urbanismo
sustentável.
Eleito Secretário Geral do PS em 1989, concorre à Câmara
Municipal de Lisboa em coligação com o PCP, ganhando a maioria absoluta e
batendo Marcelo Rebelo de Sousa, sendo reeleito em 1993, desta vez também com o
apoio da UDP e do PSR (que viriam a fundar o BE), antecipando assim o que veio
a ser, quase duas décadas mais tarde, a solução governativa conhecida por “geringonça”.
Deixou o cargo em 1995 para se candidatar à presidência da
República, enfrentando Cavaco Silva, que derrotou facilmente, voltando a ter o
apoio indirecto do PCP, por desistência do seu candidato Jerónimo de Sousa. Foi
reeleito em 2006.
Foi o único político que conseguiu derrotar Cavaco Silva,
não deixando de ser curioso que, em circunstância diferentes, derrotou os dois presidentes
que lhe sucederam no cargo (Cavaco e Marcelo).
Como presidente da República governou num dos períodos mais
prósperos, mais esperançosos e dos mais consensuais vividos em democracia.
Contudo, cometeu no final do seu mandato um dos seus piores
erros políticos, embora não intencional e motivado pelas circunstância, que
foi o de facilitar a ascensão à liderança do PS e do país de José Sócrates.
Mesmo assim, comparando o seu mandato com o do seu sucessor, um Cavaco Silva ressabiado, intolerante e faccioso, a sua presidência corresponde a um dos períodos mais brilhante da nossa democracia.
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