Há muitos anos que não se assistia, em Torres Vedras, a umas eleições autárquicas, tão disputadas.
Logo no início marcada pela
tragédia, a morte dramática do ex-presidente Carlos Bernardes, que já tinha
sido apresentado como recandidato e cabeça de lista do PS a estas eleições,
assistiu-se também ao aparecimento de uma candidatura “independente” bastante
forte, capaz, pela primeira vez desde os tempo da liderança de Ana Maria Bastos
nas listas do PSD, de se bater de igual por igual com o PS, que lidera a Câmara
de Torres Vedras desde 1976.
O PS viu-se obrigado, por força
da trágica circunstância do falecimento de Carlos Bernardes, a alterar a sua
candidatura à Câmara, liderada, pela primeira vez, nesse partido, por uma
mulher, Laura Rodrigues, a qual, devido à situação, e seja qual for o resultado
final, tornou-se a primeira mulher presidente desta Câmara.
Inicialmente a situação do PS
parecia muito periclitante, devido ao desgaste dos anos e do próprio Carlos
Bernardes, embora tenha recuperado alguma credibilidade na forma como enfrentou
a crise provocada pelo Covid.
Com a renovação forçada da sua
lista, beneficiando eventualmente do efeito dramático da situação vivida, a
candidatura do PS, liderada por Laura Rodrigues, parece ter recuperado a
iniciativa e, agora, o máximo que os seus opositores talvez consigam, pode ser
retirar a maioria absoluta a esse partido, situação um pouco mais complicada na
Assembleia Municipal, devido ao peso numérico da representação dos Presidentes
de Freguesia, onde se espera que o PS mantenha a maioria.
Dizemos “talvez”, porque é uma
incógnita o resultado nas urnas da dinâmica crescente da candidatura
independente “Unidos por Torres Vedras”, a única capaz de se bater por uma
vitória eleitoral . Pode até acontecer que consiga derrotar o PS na Câmara, mas
muito dificilmente baterá esse partido na Assembleia Municipal, devido às
circunstâncias, acima mencionadas.
Recorde-se que, não sendo a
primeira vez que temos uma candidatura independente, esta ter surgido de uma
importante cisão no sei do partido dominante na autarquia, mas alargando a sua
influência à esquerda (PCP) e à direita (PSD). Esta abertura, a razão da força
desta candidatura, pode ser, a prazo, a sua própria fraqueza, pois, quando se
tiverem de tomar posições mais estruturais e mais politicas no futuro, virão ao
de cima as divergências na visão do mundo de algumas das suas principais
figuras. Mas esse não é o problema do momento e, de facto, esta é, pela
primeira vez, em muitos anos, uma candidatura que pode unir o voto “útil”
anti-PS ou dos eleitores cansados e descontentes com um tão longo domínio de um
único partido no concelho.
Não deixa também de ser
significativo, mais uma característica original deste acto eleitoral, que o
PSD, pela primeira vez, não conte como alternativa de peso ao PS. Além de ter
dado um “tiro no pé” ao apresentar, pela primeira vez na sua história, um candidato
estranho à vivência e à realidade torriense, é um dos partidos que vais sair
mais desgastado no seu eleitorado pela grande quantidade de novas alternativas
ao centro e à direita. A única novidade pode ser a recuperação da freguesia de
Campelos, onde se candidata aquela que podia ser a figura mais forte, e a mais
natural, para uma candidatura camarária
Além de perder eleitores devido à
opção que tomou na escolha do seu candidato, vai perder muitos votos para o
“Unidos Por Torres Vedras”, mas também para uma candidatura bastante forte da
direita, embora com apoio mais abrangente, a candidatura do Aliança, liderada
por Paulo Bento, um dissidente do PSD, uma das figuras mais respeitadas e mais
experientes dessa área, e aquele que, nas suas intervenções públicas durante
esta campanha, se tem revelado mais consistente, mais bem preparado, mais
original nas suas propostas, mostrando um grande conhecimento das realidades do
concelho. O resultado da Aliança pode revelar-se, assim, outra grande surpresa
nestas eleições.
Um outro partido que pode retirar
votos à aliança PSD-CDS é o Chega, embora apresente uma candidatura muito
fraca, com pouco conhecimento da realidade torriense, procurando apenas repetir
o êxito que o seu líder André Ventura obteve nas presidências, como o segundo
mais votado neste concelho. Contudo, a história hoje é outra e, pensamos, o
Chega vai ter um mau resultado no concelho, embora possa contribuir para o
previsível decréscimo eleitoral da candidatura “Afirmar Torres Vedras”
(PSD-CDS-PPM).
À esquerda, a grande novidade vem
da candidatura à presidência do Bloco de Esquerda, um bem preparado Jorge
Humberto, uma das candidaturas mais credíveis das que se apresentam nestas
eleições e neste concelho. Uma grande vitória seria conseguir que esse partido
elegesse, pela primeira vez em Torres Vedras, um vereador.
Já a CDU não apresenta grandes
novidades. Apesar de ter sondado vários candidatos, que pudessem reforçar a sua
influência, acabou por apostar na continuidade. Curiosamente, onde a CDU
apresenta candidatos mais fortes, e onde pode ser uma surpresa, é a nível de
algumas freguesias, como a possibilidade de recuperar a Carvoeira, de obter um
bom resultado em Runa, no Ramalhal e em A-Dos-Cunhados.
Perante este quadro, aqui
revelamos a nossa opção eleitoral: Para a Câmara votamos no candidato do BE;
para a Assembleia Municipal votamos no candidato da CDU; para a Assembleia de
Freguesia, ainda estamos indecisos (entre CDU, BE e a candidata do Unidos por
Torres Vedras).
Como previsão, pensamos que Laura
Rodrigues vais ser a primeira mulher eleita para presidente, embora sem maioria
absoluta, mantendo o PS a maioria absoluta na Assembleia Municipal.
Nas freguesias, vamos assistir a
algumas mudanças, a favor do PS na Freira e na Ponte do Rol, do PSD em Campelos,
e da CDU na Carvoeira, sendo uma grande incógnita o que se vai passar na grande
freguesia urbana, disputada entre o PS e o Unidos Por Torres Vedras.
Gostávamos que a Câmara fosse mais diversificada, com vereadores eleitos de entre o BE, a CDU, a Aliança e Unidos por Torres Vedras.
1 comentário:
Olá Venerando.
Gostei da tua análise.
Aguardo com espetativa os resultados eleitorais.
Abraço.
Rui Prudêncio
Enviar um comentário