Durante o “Estado Novo”, “não existiam” pedintes. A esmola foi extinta por um decreto que a proibia.
Contudo, a miséria era a que se sabia, e, portanto, as “autoridades”, que tinham da solidariedade social uma visão meramente caritativa, deixado-a a cargo das instituições católicas, fechavam os olho àquele que era o único recurso de sobrevivência para muitas famílias, a esmola.
Lá nos idos de 60/70 do século passado, existia, em Torres Vedras, um vagabundo de “estimação”, conhecido por Caramujo, sinónimo de burrié, vá-se lá saber porquê.
Percorria regularmente, todas as manhãs, esmolando, as mesas dos cafés “Império” e ” Havaneza”, muito frequentados pela elite local, o primeiro, mais pelos “reviralhistas” e o segundo, por gente da “situação”, quase só homens. As mulheres frequentavam esses locais apenas na companhia dos “esposos”, geralmente só ao fim de semana.
Conta-se que, certo dia, o Caramujo se dirigiu a uma mesa no Havaneza, onde estavam sentados os maiores empregadores da região, donos das principais fábrica do concelho (Casa Hipólito e Francisco António da Silva), pedindo, como era habitual, uns “tostõezinhos” .
Todos se recusaram a dar-lhe esmola, e um dos industriais respondeu-lhe:
- Se quiseres, vais lá à minha fábrica, dizes que vais da minha parte, e dou-te lá trabalho.
O Caramujo, sem dizer nada, completou o percurso pelas restantes mesas do café e, quando se aproximou da porta de saída, virou-se para a mesa dos industriais e gritou-lhes:
- Vão trabalhar “voceses” ! … ia lá agora trabalhar para as vossas fábricas para “voceses” poderem passar os dias aí sentados ?! … Vão trabalhar “voceses”…!
Lembro-me muitas vezes desta frase do Caramujo, cada vez que oiço as opiniões de alguns dos nossos economistas e comentadores de economia, quando falam em descer ordenados, em aumentar as jornadas de trabalho, em “flexibilizar”, numa palavra … em desvalorizar o factor trabalho.
Essas opiniões são geralmente vinculadas por muitos daqueles que têm sido os principais responsáveis pelo estado da nossa economia nos últimos trinta anos.
Eles foram antigos ministros da economia ou das finanças, gestores de bancos e de empresas públicas, administradores do Banco de Portugal, …eu sei lá que mais.
Hoje, muitos deles gozam de rendimentos e reformas privilegiadas graças àqueles cargos que ocuparam.
Nem um único previu a situação actual, apesar dos vastos estudos de que se dizem portadores ou das informações privilegiadas a que tiveram acesso…
Nem um único assume qualquer responsabilidade pela situação a que deixaram o país chegar.
Nem um único prescinde dos privilégios de que usufrui.
Apetece-me gritar-lhes, como o Caramujo: ….
Contudo, a miséria era a que se sabia, e, portanto, as “autoridades”, que tinham da solidariedade social uma visão meramente caritativa, deixado-a a cargo das instituições católicas, fechavam os olho àquele que era o único recurso de sobrevivência para muitas famílias, a esmola.
Lá nos idos de 60/70 do século passado, existia, em Torres Vedras, um vagabundo de “estimação”, conhecido por Caramujo, sinónimo de burrié, vá-se lá saber porquê.
Percorria regularmente, todas as manhãs, esmolando, as mesas dos cafés “Império” e ” Havaneza”, muito frequentados pela elite local, o primeiro, mais pelos “reviralhistas” e o segundo, por gente da “situação”, quase só homens. As mulheres frequentavam esses locais apenas na companhia dos “esposos”, geralmente só ao fim de semana.
Conta-se que, certo dia, o Caramujo se dirigiu a uma mesa no Havaneza, onde estavam sentados os maiores empregadores da região, donos das principais fábrica do concelho (Casa Hipólito e Francisco António da Silva), pedindo, como era habitual, uns “tostõezinhos” .
Todos se recusaram a dar-lhe esmola, e um dos industriais respondeu-lhe:
- Se quiseres, vais lá à minha fábrica, dizes que vais da minha parte, e dou-te lá trabalho.
O Caramujo, sem dizer nada, completou o percurso pelas restantes mesas do café e, quando se aproximou da porta de saída, virou-se para a mesa dos industriais e gritou-lhes:
- Vão trabalhar “voceses” ! … ia lá agora trabalhar para as vossas fábricas para “voceses” poderem passar os dias aí sentados ?! … Vão trabalhar “voceses”…!
Lembro-me muitas vezes desta frase do Caramujo, cada vez que oiço as opiniões de alguns dos nossos economistas e comentadores de economia, quando falam em descer ordenados, em aumentar as jornadas de trabalho, em “flexibilizar”, numa palavra … em desvalorizar o factor trabalho.
Essas opiniões são geralmente vinculadas por muitos daqueles que têm sido os principais responsáveis pelo estado da nossa economia nos últimos trinta anos.
Eles foram antigos ministros da economia ou das finanças, gestores de bancos e de empresas públicas, administradores do Banco de Portugal, …eu sei lá que mais.
Hoje, muitos deles gozam de rendimentos e reformas privilegiadas graças àqueles cargos que ocuparam.
Nem um único previu a situação actual, apesar dos vastos estudos de que se dizem portadores ou das informações privilegiadas a que tiveram acesso…
Nem um único assume qualquer responsabilidade pela situação a que deixaram o país chegar.
Nem um único prescinde dos privilégios de que usufrui.
Apetece-me gritar-lhes, como o Caramujo: ….
Vão trabalhar “voceses”!
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