Peniche acolhe os conspiradores
Chegado a Peniche teve de alugar casa para alojar a sua família que tinha ficado em Alverca.
Estando nesta vila vários oficiais e sargentos na mesma situação que ele, viu aí “condições de dar seguimento ao trabalho da ORS”(p.42).
Começou a deslocar-se clandestinamente a várias localidades, onde se encontravam outros sargentos regressados dos Açores, com vista a reorganizar aquele movimento.
Tinha de fazer tudo, não só de modo a não levantar suspeitas, como de não faltar à obrigação diária de assinar um livro de ponto na Fortaleza de Peniche.
Fazia aquelas deslocações “aproveitando as camionetas que transportavam o peixe para os mercados. Havia mais de uma centena delas na vila de Peniche. Quase sempre de madrugada lá seguiam carregadas, voltando à tarde”. Esperava pela “sua passagem em sítio combinado fora da vila e trepava para cima da carga. A alta velocidade lá seguia regressando da mesma forma, sempre a tempo de aparecer na Fortaleza para assinar o Ponto” (pp. 43 e 44).
Com esse estratagema conseguiu deslocar-se “às Caldas da Rainha, a Leiria, a Coimbra, a Santarém, a Tomar, a Mafra e a Lisboa”.
O seu segredo era conhecido por centenas de “motoristas, ajudante de motoristas e negociantes de peixe”,sem nunca o denunciarem às autoridades, situação reveladora do apoio da população local às conspirações dos “reviralhistas”.
Com aquela acção estabeleceram-se vários núcleos da ORS em várias unidades militares chegando a uma dimensão tal que alertou a Polícia Política.
Iniciando-se a prisão de muitos elementos da ORS, Horta Catarino acabou por ser atraído a uma cilada em Lisboa, acabando detido pela Polícia.
Detido na Fortaleza de S. Julião da Barra, acabaria demitido da suas funções militares, em Maio de 1935, perdendo, por isso, o direito de estar detido em presídio militar, sendo enviado para o Aljube e daqui para a Prisão de Peniche, onde ficou a aguardar julgamento.
Nesta prisão, com o apoio dos restantes prisioneiros, planeou a sua fuga e a de outros três militares republicanos aí detidos. A Fuga efectuou-se, com êxito, do dia 1 de Maio de 1936.
O início da Acção Clandestina
A fuga foi feita pelo mar, onde os esperava um pescador que “remando com vigor contra a ondulação e em larga travessia”, os colocou numa praia da costa de Peniche, não identificada.
Aí aguardava-os um automóvel que os conduziu à Lourinhã. Nesta vila receberam abrigo na casa de Américo Marques, lavrador e proprietário, antigo administrador desse concelho durante a República e que pertencia ao Partido da Esquerda Democrática.
Daí deslocaram-se para Torres Vedras onde foram recebidos por Joaquim Henriques da Silva Martinez, “que tinha uma padaria na Serra da Vila”, sendo depois transportados para Belas(p.60).
Tendo, entretanto, a Frente Popular vencido as eleições em Espanha, os republicanos portugueses esperavam auxílio de Espanha para se iniciar a luta contra o salazarismo.
Presos quase todos os militares conspiradores, o grupo de Catarino programou a preparação de um “levantamento revolucionário de núcleos civis devidamente organizados”, devendo cada um agir separadamente, por razões de segurança.
É neste contexto que Horta Catarino seguiu para Torres Vedras “onde já tinha amigos seguros”.
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