Nada me move contra a jornalista Eduarda Maio. Até a considero uma boa profissional, uma das vozes que mais gosto de ouvir na minha rádio de preferência, a Antena 1.
Contudo, desde que, em Julho do ano passado, foi lançada a sua biografia sobre José Sócrates, passei a ouvir com outros ouvidos o trabalho daquela jornalista.
É que essa biografia não é, ao contrário do que seria de esperar daquela (ou de outro qualquer) jornalista, um trabalho isento e objectivo.
Claro que não li o livro em pormenor. Limitei-me a desfolhar o livro quando ele estava nos escaparates das livrarias, lendo uma ou outra passagem ou as transcrições de partes desse livro na imprensa de então.
Compro e leio livros há muito tempo, possuindo um boa biblioteca, e estou habituado, numa leitura de relance, a concluir da importância ou não de uma obra. Umas vezes engano-me, outras acerto. Neste caso penso que acertei. Não tenho muita paciência para gastar tempo ou dinheiro com obras como aquela.
Mas, do pouco que li, deu para perceber que aquela biografia peca por se basear quase exclusivamente no depoimento de Sócrates ou de amigos próximos e por passar ao lado, ou apenas pela rama, de assuntos polémicos, que pudessem embaraçar o biografado.
Peca igualmente por não se assumir como um panegírico de José Sócrates, isto é, falta-lhe honestidade. Marcelo Caetano e Franco Nogueira publicaram duas bem documentadas biografias de Salazar, a quem não negaram admiração e estima. Por isso, nessas biografias, na segunda, mais do que na primeira, continuam os historiadores a encontrar uma vasta fonte documental sobre o ditador, sabendo distinguir o trigo do joio.
Por ocasião do lançamento daquela biografia procurou-se criar uma ideia de distanciamento, convidando-se para a apresentar, logo por azar, direi eu, um Manuel Dias Loureiros que, poucas semanas depois, passou a ser uma espécie de moedas de troca do PSD em relação aos casos que, recentemente, surgiram envolvendo o primeiro-ministro. Para reforçar ainda mais esse pseudo - afastamento em relação ao biografado, este e os seus colaboradores mais próximos não se deslocaram ao acto. Contudo, a plateia estava cheia de figuras de segundo plano, incondicionais apoiantes de Sócrates. A reforçar a característica “hagiográfica” (na feliz definição de Pacheco Pereira) daquela obra, basta percorrer o modo como, no verão passado, blogs ou sites ligados a concelhias ou federações do PS se referiram àquela edição.
Como se sabe, recentemente viu-se aquela jornalista envolvida em nova polémica, num spot promocional onde vincula a ideologia “socrática” anti-sindical.
Contudo, desde que, em Julho do ano passado, foi lançada a sua biografia sobre José Sócrates, passei a ouvir com outros ouvidos o trabalho daquela jornalista.
É que essa biografia não é, ao contrário do que seria de esperar daquela (ou de outro qualquer) jornalista, um trabalho isento e objectivo.
Claro que não li o livro em pormenor. Limitei-me a desfolhar o livro quando ele estava nos escaparates das livrarias, lendo uma ou outra passagem ou as transcrições de partes desse livro na imprensa de então.
Compro e leio livros há muito tempo, possuindo um boa biblioteca, e estou habituado, numa leitura de relance, a concluir da importância ou não de uma obra. Umas vezes engano-me, outras acerto. Neste caso penso que acertei. Não tenho muita paciência para gastar tempo ou dinheiro com obras como aquela.
Mas, do pouco que li, deu para perceber que aquela biografia peca por se basear quase exclusivamente no depoimento de Sócrates ou de amigos próximos e por passar ao lado, ou apenas pela rama, de assuntos polémicos, que pudessem embaraçar o biografado.
Peca igualmente por não se assumir como um panegírico de José Sócrates, isto é, falta-lhe honestidade. Marcelo Caetano e Franco Nogueira publicaram duas bem documentadas biografias de Salazar, a quem não negaram admiração e estima. Por isso, nessas biografias, na segunda, mais do que na primeira, continuam os historiadores a encontrar uma vasta fonte documental sobre o ditador, sabendo distinguir o trigo do joio.
Por ocasião do lançamento daquela biografia procurou-se criar uma ideia de distanciamento, convidando-se para a apresentar, logo por azar, direi eu, um Manuel Dias Loureiros que, poucas semanas depois, passou a ser uma espécie de moedas de troca do PSD em relação aos casos que, recentemente, surgiram envolvendo o primeiro-ministro. Para reforçar ainda mais esse pseudo - afastamento em relação ao biografado, este e os seus colaboradores mais próximos não se deslocaram ao acto. Contudo, a plateia estava cheia de figuras de segundo plano, incondicionais apoiantes de Sócrates. A reforçar a característica “hagiográfica” (na feliz definição de Pacheco Pereira) daquela obra, basta percorrer o modo como, no verão passado, blogs ou sites ligados a concelhias ou federações do PS se referiram àquela edição.
Como se sabe, recentemente viu-se aquela jornalista envolvida em nova polémica, num spot promocional onde vincula a ideologia “socrática” anti-sindical.
A propósito deste facto, convém recordar o comunicado dos Provedores do telespectador e do Ouvinte da Rádio e Televisão de Portugal, respectivamente Paquete de Oliveira e Adelino Gomes:
“(…) confrontados com a promoção da Antena 1, (…) com um spot que alude a efeitos de uma manifestação no trânsito, consideram seu dever tomar a seguinte posição:
“1. O conteúdo desse spot veicula uma mensagem de tom antidemocrático, violadora de um direito constitucional;
“2. Dado o teor publicitário da campanha, os provedores olham com a maior reserva para a respectiva interpretação por um jornalista profissional;
“3. Em diferentes intervenções internas e externas, os dois provedores têm-se manifestado favoráveis ao aproveitamento das sinergias promocionais resultantes da fusão da RDP e da RTP;
“4. Da aludida promoção publicitária, contudo, os provedores não têm dúvidas de que resultam feridos princípios e direitos que devem ser superiormente respeitados, em especial por operadores com o estatuto de serviço público.
“Nestes termos, os provedores do Telespectador e do Ouvinte são de parecer de que o spot publicitário em causa deve ser imediatamente retirado.”
Na sequência deste comunicado, das notícias de jornal e da indignação geral, muitos, em tom de virgens ofendidas, correram em defesa da jornalista em causa.
Compreendo a nobreza do gesto e a lealdade demonstrada pelos colegas de trabalho da jornalista.
Já não compreendo que, em defesa dela, e contestando a reacção de indignação que aquele acto provocou, procurem apoucar as críticas àquele acto, apelidando-as de “demagogia barata”, “má-fé”, “campanha baixa”, “falta de classe”, “rancorosa e vingativa”. Ou seja, quando contra factos não há argumentos, tenta-se desvalorizar as opiniões alheias com juízos de intenção .
Procuram mesmo considerar como um abuso de opinião o facto de se relacionar o trabalho biográfico daquela jornalista com a sua participação naquele spot.
Por mim, limito-me a constatar a coerência ideológico-política daquelas duas situações, temporalmente bem próximas. (No caso da biografia, não estamos perante uma situação passada em época distante, um “erro” cometido na juventude, uma”nódoa” no seu passado que, ou se procura esconder ou se repudia na actualidade. A Biografia foi lançada no Verão passado!).
Um outro argumento utilizado é o de que aquela jornalista se limitou a gravar umas “falas” que depois terão sido montadas com o sentido que o spot lhe deu. Quanto a mim, este argumento é passar um atestado de estupidez à jornalista em causa. Continuo a acreditar que Eduarda Maio é uma jornalista inteligente, que sabe o que faz, por isso esse argumento não pega.
Um outro argumento, ainda, é tentar confundir, criando a ideia de que aquela indignação pretende atingir os restantes spots, bem como o jornalista e o comentador que neles colaboraram. A indignação é apenas em relação ao conteúdo de um dos spots e não acredito que estas duas figuras da Antena 1 tivessem aceitado dar voz ao spot em causa. Não perceber isto é que raia a “má-fé” e falta de argumentos.
Claro que, para uma parte da geração mais nova de jornalistas, as questões éticas que esta questão levanta são de menor importância, serão até absurdas.
Hoje, para muitos, o jornalismo é visto, ou como uma carreira, ou como mero trampolim para assessorias várias, de cariz político ou económico.
Veremos o que o futuro reserva aos envolvidos nesta matéria.
Nos dias que correm, na política e no jornalismo, não há almoços grátis…
Procuram mesmo considerar como um abuso de opinião o facto de se relacionar o trabalho biográfico daquela jornalista com a sua participação naquele spot.
Por mim, limito-me a constatar a coerência ideológico-política daquelas duas situações, temporalmente bem próximas. (No caso da biografia, não estamos perante uma situação passada em época distante, um “erro” cometido na juventude, uma”nódoa” no seu passado que, ou se procura esconder ou se repudia na actualidade. A Biografia foi lançada no Verão passado!).
Um outro argumento utilizado é o de que aquela jornalista se limitou a gravar umas “falas” que depois terão sido montadas com o sentido que o spot lhe deu. Quanto a mim, este argumento é passar um atestado de estupidez à jornalista em causa. Continuo a acreditar que Eduarda Maio é uma jornalista inteligente, que sabe o que faz, por isso esse argumento não pega.
Um outro argumento, ainda, é tentar confundir, criando a ideia de que aquela indignação pretende atingir os restantes spots, bem como o jornalista e o comentador que neles colaboraram. A indignação é apenas em relação ao conteúdo de um dos spots e não acredito que estas duas figuras da Antena 1 tivessem aceitado dar voz ao spot em causa. Não perceber isto é que raia a “má-fé” e falta de argumentos.
Claro que, para uma parte da geração mais nova de jornalistas, as questões éticas que esta questão levanta são de menor importância, serão até absurdas.
Hoje, para muitos, o jornalismo é visto, ou como uma carreira, ou como mero trampolim para assessorias várias, de cariz político ou económico.
Veremos o que o futuro reserva aos envolvidos nesta matéria.
Nos dias que correm, na política e no jornalismo, não há almoços grátis…
1 comentário:
A falta de isenção que se nota, à distância, no livro de Eduarda, nem me faz abrir a boca (sinal de espanto).
O mesmo se passa em relação ao «spot» em causa.
Um trabalho feito por encomenda.
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