Entre o final do século XIX e o princípio do século XX assiste-se ao nascimento e desenvolvimento de um movimento de associativismo laico que, não só correspondeu a uma crescente afirmação da sociedade civil, como a uma notória descentralização dos poderes do Estado, fruto da expansão das ideias liberais e democráticas e ainda de um acentuado crescimento urbano, com todas as consequências urbanísticas, culturais, sanitárias e sociais que daí resultaram .
Em Torres Vedras, os serviços que hoje atribuímos aos Bombeiros competiam, em última instância, até à criação daquela associação, à Câmara Municipal.
Isso se pode deduzir quando, por ocasião da fundação da ABVTV, em sessão camarária, se refere a solicitação do “seu [ da Câmara] material d’ incêndios para uso d’ aquelle corpo [de Bombeiros]” (1).
A organização de um serviço oficial de socorro a incêndios está documentada em Portugal desde o tempo de D. João I, quando este expediu uma carta régia sobre o assunto em 25 de Agosto de 1395, dirigida à cidade de Lisboa.
Em Torres Vedras só temos conhecimento de preocupação idêntica em pleno século XIX quando, em sessão camarária de 8 de Agosto de 1872, o Administrador do Concelho, Dr. Manuel António da Costa, presente na mesma, requer da câmara a adopção de “algumas providências para a extinção de incêndios”. Dando seguimento a esse requerimento, a Câmara “deliberou nomear uma commissão para obter donativos, a fim de se levar a effeito a compra de uma bomba e mais utensílios necessários para acudir aos incêndios”.
Para fazerem parte dessa comissão foram nomeados o Dr. Luís António Martins, o prior António Joaquim d’Abreu Castello Branco, José Avelino Nunes de Carvalho e Francisco José de Bastos , ficando a aguardar-se que os mesmos fossem oficiados dessas funções e pedindo-lhes que “se dignassem acceitar por bem do serviço publico” (2).
Se essa comissão chegou a funcionar ou se tomou algumas medidas é assunto que as nossas fontes não permitem esclarecer.
Contudo, não deixa de ser significativo que essa preocupação manifestada pelo administrador do concelho, de nomeação governamental e geralmente em contacto permanente com a capital, seja contemporânea de uma profunda reforma e modernização dos serviços de incêndio em Lisboa, levadas a cabo por Calos José Barreiros, nomeado inspector em 21 de Abril de 1868 e reformado em 1899.
As medidas então tomadas não devem ter passado despercebidas ao dito administrador que as terá procurado implementar em Torres Vedras.
A primeira vez que se manifestou publicamente a necessidade da criação de uma associação de bombeiros neste concelho foi em Junho de 1887, nas páginas do jornal “A Voz de Torres Vedras”.
O motivo foi um incêndio que se registou na madrugada de 2 de Junho desse ano, “na viela chamada de Luís Cardoso, a mais estreita desta vila, onde se achava estabelecido n’ uma casa de proporções muito acanhadas o Restaurant Torreense”, e a dificuldade que os populares enfrentaram para combater o sinistro, com mangueiras em mau estado de conservação.
Após a extinção do incêndio, o Administrador do Concelho reuniu-se com algumas das pessoas que tinham combatido aquele incêndio e “assentou (...) na formação de uma associação de bombeiros, ideia utilíssima e altamente humanitária que estimam ver realizada em breve espaço” (3).
A ideia de criar um corpo local de bombeiros voluntários voltou a ser ventilada pela direcção do Grémio Artístico e Comercial por duas vezes, numa reunião em 18 de Janeiro de 1892 e numa outra, efectuada em 3 de Março de 1898 (4).
Uma nova tentativa teve lugar no ano seguinte, quando Filippe Nery Bally [?] , então a residir na vila, se apresentou na sessão camarária de 13 de Julho de 1899 para dar “as necessárias explicações acerca de um officio que dirigiu à Câmara em 6 deste mês, no qual expunha que desejando formar nesta mesma villa um companhia de bombeiros voluntários, pedia lhe fosse cedido o material de incêndios, pertencente ao Município; ficando a Câmara sem encargo algum, tanto para a installação da alludida companhia de bombeiros, como para reparação do material. A Câmara resolveu encarregar os srns. Presidente e Vice-presidente, de resolverem o assumpto como melhor entendessem”(5).
A tal iniciativa não deve ter sido estranho o facto de, poucos meses antes, se terem dado dois dos maiores incêndios registados em Torres Vedras, um, fogo posto, na “madrugada de 15 de Maio de 1899 na fabrica de gasosas de Cruz & Paiol, instalado no ultimo prédio à saída da vila próximo à ponte da Mentira “ e outro, a 30 de Junho, “no prédio da Viuva Miranda & Filho” (6)
Tais iniciativas não passaram das boas intenções, embora se estivesse cada vez mais próximo do momento decisivo para a concretização de tão premente necessidade.
(1) Livro de actas de Sessões da Câmara Municipal de Torres Vedras (Lº ASCMTV), nº 36 (1901-1909), sessão de 14 de Maio de 1903, f.69, Arquivo Municipal de Torres Vedras (AMTV).
(2) Lº ASCMTV nº 30 (1864-1873), sessão de 8 de Agosto de 1872, f. 279, AMTV.
(3) A Voz de Torres Vedras, Junho de 1887.
(4) COSTA, Emílio Luís, “Emílio Maria da Costa – O Fundador dos Bombeiros de Torres Vedras”, in Torres Cultural, nº 5, 1992, pp.52 a 56.
(5) Lº ASCMTV nº 35 (1895-1901), sessão de 13 de Julho de 1899, f. 232 v, AMTV
(6) VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Livraria da Sociedade Progresso Industrial, Torres Vedras, 1926, pp. 228 e 229.
Em Torres Vedras, os serviços que hoje atribuímos aos Bombeiros competiam, em última instância, até à criação daquela associação, à Câmara Municipal.
Isso se pode deduzir quando, por ocasião da fundação da ABVTV, em sessão camarária, se refere a solicitação do “seu [ da Câmara] material d’ incêndios para uso d’ aquelle corpo [de Bombeiros]” (1).
A organização de um serviço oficial de socorro a incêndios está documentada em Portugal desde o tempo de D. João I, quando este expediu uma carta régia sobre o assunto em 25 de Agosto de 1395, dirigida à cidade de Lisboa.
Em Torres Vedras só temos conhecimento de preocupação idêntica em pleno século XIX quando, em sessão camarária de 8 de Agosto de 1872, o Administrador do Concelho, Dr. Manuel António da Costa, presente na mesma, requer da câmara a adopção de “algumas providências para a extinção de incêndios”. Dando seguimento a esse requerimento, a Câmara “deliberou nomear uma commissão para obter donativos, a fim de se levar a effeito a compra de uma bomba e mais utensílios necessários para acudir aos incêndios”.
Para fazerem parte dessa comissão foram nomeados o Dr. Luís António Martins, o prior António Joaquim d’Abreu Castello Branco, José Avelino Nunes de Carvalho e Francisco José de Bastos , ficando a aguardar-se que os mesmos fossem oficiados dessas funções e pedindo-lhes que “se dignassem acceitar por bem do serviço publico” (2).
Se essa comissão chegou a funcionar ou se tomou algumas medidas é assunto que as nossas fontes não permitem esclarecer.
Contudo, não deixa de ser significativo que essa preocupação manifestada pelo administrador do concelho, de nomeação governamental e geralmente em contacto permanente com a capital, seja contemporânea de uma profunda reforma e modernização dos serviços de incêndio em Lisboa, levadas a cabo por Calos José Barreiros, nomeado inspector em 21 de Abril de 1868 e reformado em 1899.
As medidas então tomadas não devem ter passado despercebidas ao dito administrador que as terá procurado implementar em Torres Vedras.
A primeira vez que se manifestou publicamente a necessidade da criação de uma associação de bombeiros neste concelho foi em Junho de 1887, nas páginas do jornal “A Voz de Torres Vedras”.
O motivo foi um incêndio que se registou na madrugada de 2 de Junho desse ano, “na viela chamada de Luís Cardoso, a mais estreita desta vila, onde se achava estabelecido n’ uma casa de proporções muito acanhadas o Restaurant Torreense”, e a dificuldade que os populares enfrentaram para combater o sinistro, com mangueiras em mau estado de conservação.
Após a extinção do incêndio, o Administrador do Concelho reuniu-se com algumas das pessoas que tinham combatido aquele incêndio e “assentou (...) na formação de uma associação de bombeiros, ideia utilíssima e altamente humanitária que estimam ver realizada em breve espaço” (3).
A ideia de criar um corpo local de bombeiros voluntários voltou a ser ventilada pela direcção do Grémio Artístico e Comercial por duas vezes, numa reunião em 18 de Janeiro de 1892 e numa outra, efectuada em 3 de Março de 1898 (4).
Uma nova tentativa teve lugar no ano seguinte, quando Filippe Nery Bally [?] , então a residir na vila, se apresentou na sessão camarária de 13 de Julho de 1899 para dar “as necessárias explicações acerca de um officio que dirigiu à Câmara em 6 deste mês, no qual expunha que desejando formar nesta mesma villa um companhia de bombeiros voluntários, pedia lhe fosse cedido o material de incêndios, pertencente ao Município; ficando a Câmara sem encargo algum, tanto para a installação da alludida companhia de bombeiros, como para reparação do material. A Câmara resolveu encarregar os srns. Presidente e Vice-presidente, de resolverem o assumpto como melhor entendessem”(5).
A tal iniciativa não deve ter sido estranho o facto de, poucos meses antes, se terem dado dois dos maiores incêndios registados em Torres Vedras, um, fogo posto, na “madrugada de 15 de Maio de 1899 na fabrica de gasosas de Cruz & Paiol, instalado no ultimo prédio à saída da vila próximo à ponte da Mentira “ e outro, a 30 de Junho, “no prédio da Viuva Miranda & Filho” (6)
Tais iniciativas não passaram das boas intenções, embora se estivesse cada vez mais próximo do momento decisivo para a concretização de tão premente necessidade.
(1) Livro de actas de Sessões da Câmara Municipal de Torres Vedras (Lº ASCMTV), nº 36 (1901-1909), sessão de 14 de Maio de 1903, f.69, Arquivo Municipal de Torres Vedras (AMTV).
(2) Lº ASCMTV nº 30 (1864-1873), sessão de 8 de Agosto de 1872, f. 279, AMTV.
(3) A Voz de Torres Vedras, Junho de 1887.
(4) COSTA, Emílio Luís, “Emílio Maria da Costa – O Fundador dos Bombeiros de Torres Vedras”, in Torres Cultural, nº 5, 1992, pp.52 a 56.
(5) Lº ASCMTV nº 35 (1895-1901), sessão de 13 de Julho de 1899, f. 232 v, AMTV
(6) VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Livraria da Sociedade Progresso Industrial, Torres Vedras, 1926, pp. 228 e 229.
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