(folheto de propaganda nacionalista, distribuido em Torres Vedras, durante a Guerra Civil de Espanha - clicar para ver em tamanho maior)
Francisco Horta Catarino conspira em Torres Vedras
Nesta vila, como o apoio do “sindicalista Mafalda”, do “ferroviário Gomes” e por outros, começou “a preparar o povo de Torres Vedras para um levantamento armado, falando várias vezes perante centenas de pessoas reunidas geralmente durante a noite em pleno campo, no meio das vinhas dos arredores da vila” (p.62).
Enquanto andava foragido, a sua família, mulher e filhos, continuou a viver em Peniche, valendo-lhes a bondade do senhorio da casa, o “Sr. Manuel Coelho”, com o apoio da esposa “Dona Alice Passos Coelho” que, dadas as circunstâncias, deixou de cobrar a renda e fornecia-lhes gratuitamente o pão da padaria de que era dono (p.63).
Dá-se entretanto o movimento militar nacionalista em Espanha, em 18 de Julho de 1936,iniciando-se a Guerra Civil, pelo que o grupo de Horta Catarino considera urgente desencadear a luta em Portugal “em auxílio dos que em Espanha lutavam pela mesma Causa” republicana (p.64).
Horta Catarino conta-nos um episódio passado em Torres Vedras, relacionado com aquele acontecimento político: o autor viu “a passagem” pela vila “de uma coluna motorizada de falangistas vinda do sul, pelo Alentejo, em marcha para a Galiza, onde havia (…) alguma resistência de forças republicanas. De passagem por Torres Vedras obrigaram a seguir com eles um empregado de café, natural da Galiza, que além se encontrava trabalhando. Vinham armados e fardados como se estivessem em terreno conquistado gritando constantemente o seu “Arriba España” (pp. 68 e 69).
Entretanto, numa reunião realizada na quinta da Conceição, em Dois Portos, Torres Vedras, decidem que, “não havendo esperança de” obterem “recursos” a parir de Espanha, decidem conquistá-los, apoderando-se “pela força de dinheiros públicos”. Para esse efeito foi necessário adquirir armamento, pelo que Horta Catarino seguiu de Torres Vedras para Lisboa, “num automóvel arranjado” por Joaquim Martinez, na casa do qual as armas entretanto adquiridas ficaram escondidas (p.65).
Um dos elementos do grupo que se encontrava na Lourinhã “apareceu a informar que na repartição de finanças da Lourinhã havia um funcionário disposto a indicar o dia e a hora apropriados para lá se encontrar boa quantia com o cofre aberto” (p.61).
O Assalto às Finanças da Lourinhã
No dia combinado, 1 de Agosto de 1936, a partir de Torres Vedras, o grupo, de três elementos (o nosso cronista, o “Rocha” e o Martinez) seguiu , “numa camioneta de passageiros que ia para o Bombarral”, tomando aqui um táxi para a Lourinhã.
Tendo dado início ao assalto à repartição de finanças da Lourinhã encontraram resistência por parte dos funcionários, tendo um agarrado Horta Catarino. O seu cúmplice no assalto, para o soltar, disparou, matando o resistente. Tiveram de fugir sem levar dinheiro nenhum, mas deixando um morto.
Dirigiram-se então para Peniche. Aqui chegados, planearam um assalto á fortaleza de Peniche “libertar os presos e armá-los com as armas das forças de guarda lá existentes”, ocupar a vila, apoderarem-se das “camionetas destinadas ao transporte do peixe e” transportarem-se nelas “até à fronteira” na zona ainda ocupada pelos republicanos (p.67).
Com esse fim estabeleceram contacto com a organização local do Partido Comunista. Esta, apoiando a iniciativa, preveniu, contudo que não podia actuar sem autorização dos responsáveis máximos do partido.
A resposta demorou demais. Entretanto caía Badajoz nas mãos dos insurrectos nacionalistas, caindo rapidamente todas as posições republicanas junto da fronteira portuguesa.
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