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domingo, 22 de março de 2009

Republicanos de Torres Vedras - 2

Populares de Torres Vedras, apoiantes da república, perseguem os monárquicos da insurreição de 1914, conhecida pela "revolta da àgua pé" . (Ilustração Portuguesa, 25 de Outubro de 1914).


Em Torres Vedras, se em termos gerais a ascensão ao poder das elites republicanas representou a substituição da tradicional elite monárquica de proprietários rurais por uma nova elite política maioritariamente urbana e ligada à actividade comercial, esta não conseguiu consolidar-se por muito tempo como elite politicamente dominante.
Esta conclusão pode comprovar-se pelo impacto que teve na vida político local a formação, em 1914, do Sindicato Agrícola, ou pelo êxito da candidatura monárquica à câmara em 1922, maioritariamente apoiada por proprietários rurais.
Também o facto de grande parte do comércio local estar então ligado à actividade agrícola, pode ter contribuído para a falta de autonomia política do grupo comercial e para uma certa dependência e identificação com os interesses agrícolas do concelho.
A quase invisibilidade política do grupo industrial é igualmente um dado a reter, se tivermos a noção de que demográfica e eleitoralmente era mais representativo que o grupo do comércio.
Essa situação pode explicar-se por dois motivos:
- o fraco peso económico desse sector, ainda muito marcado pela actividade artesanal ;
- a possível influência junto dele de correntes sindicais ou políticas hostis ou alheias à 1ª República.
É significativo que a primeira vez que esse grupo social aparece em força na vida política local, só aconteça em 1931, quando da formação da Aliança Republicano-Socialista, situação que talvez se possa explicar, quer pelo facto de se registar então no concelho um maior desenvolvimento industrial, quer pelo comprometimento político do Partido Socialista nesse projecto frentista.
Outro dado a reter da nossa investigação foi a falta de homogeneidade das elites políticas republicanas locais um dos motivos que dificultou a sua consolidação.
Podemos dividir essa elite torriense em três grandes grupos:
- O grupo dos "independentes", colocando os interesses ditos "regionais" à frente dos interesses político - partidários, interesses regionais esses que, em termos locais, se confundiam com os interesses agrícolas, nomeadamente "vitivinícolas", e por isso abertos à colaboração com monárquicos e ex-monárquicos, já que, em termos locais, as suas preocupações eram convergentes. A criação do "Centro Republicano Torreense" em 1912, o desenvolvimento do Sindicato Agrícola de Torres Vedras, fundado em 1914, o apoio às "candidaturas agrícolas" lideradas por Tiago Sales nas eleições legislativas de 1919 e 1921, a organização de "Listas do Concelho" em 1917 e 1925 e da "Associação Regionalista de Torres Vedras" em 1924, reflectiram os interesses deste grupo;
- O grupo "institucional", próximo do Partido Democrático, procurando adaptar as reformas do regime às condições locais, combatendo de forma aguerrida a influência do clero e dos monárquicos e beneficiando das sua ligação ao poder nacional republicano.
Este foi o único grupo que no concelho manteve, ao longo do regime, de forma continuada, uma forte influência política, menos evidente na câmara, onde ela se foi reduzindo ao longo da década de 20, mais evidente no exercício do cargo político de administrador do concelho, muito importante em momentos eleitorais.
A influência deste grupo ultrapassava os limites do concelho já que, sendo este sede de círculo eleitoral onde os "democráticos" sempre foram vencedores, tinham uma palavra a dizer sobre a escolha dos candidatos ao parlamento, pois o círculo elegia três deputados e os "democráticos" sempre elegeram, no mínimo, um desses deputados.
Em momentos de grande "fervor republicano", como aconteceu durante os governos de maioria democrática, nas conjunturas de resistência às várias incursões monárquicas, ou nas "revoluções" de Maio de 1915 e Outubro de 1921, este grupo exerceu forte influência política no concelho;
- O grupo "conservador" , ligando-se à força política que em cada momento se apresentava como a alternativa mais forte, dentro do regime, aos "democráticos", tendo transitado do "evolucionismo", para o "liberalismo" e para o "nacionalismo".
Foram igualmente os principais apoiantes das soluções autoritárias durante a primeira república, como aconteceu com a ditadura de Pimenta de Castro, com o "sidonismo" e, pelo menos inicialmente, com a ditadura militar saída do 28 de Maio.
Tiveram origem neste grupo o grosso dos republicanos que, nos anos 30, aderiram à "União Nacional".
Há contudo de ter em conta que esta classificação não é estanque, no sentido em que existia uma margem de convergência entre essas três tendências .
Conjunturalmente, "independentes" e "conservadores" colaboraram em projectos comuns, como na formação da "Lista do Concelho" em 1917, ou durante as ditaduras "pimentista" e "sidonista". Sempre que sentiram a República em perigo, essa aproximação congregou as três tendências, como aconteceu durante a "Monarquia do Norte", em 1919, ou quando foi necessário combater os monárquicos nas eleições administrativas de 1925.
Individualmente também se registaram percursos pessoais que atravessaram aquelas três classificações.

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