A revista “Sábado” de hoje noticia aquilo que já se sabia doutras fontes : na Europa Portugal é o campeão das desigualdades sociais. Ou seja, é aquele que apresenta maior diferença proporcional entre os 20% de população mais rica e os 20% da população mais pobre (8 x).
Em Espanha e em França essa proporção é quase metade (5,6 x) e na Finlândia a diferença é ainda menor (3,4%).
Ao “nosso nível” dois outros campeões da desigualdade: os Estados Unidos (8,5%) e o Reino Unidos (7,2%).
Os dados foram revelados pelo “The Guardian” que alerta ainda para o facto de “que todos os problemas sociais – dos crimes violentos à gravidez na adolescência – são provocados pela diferença de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres”.
Recorde-se, a propósito, que um estudo coordenado por Bruto da Costa já havia revelado que a maior parte da pobreza em Portugal era provocada pelos baixos rendimentos e pela precariedade do emprego. Seria lógico que, para combater esse risco, os nossos economistas e “opinadores” defendessem a valorização do factor trabalho.
Contudo, a reboque da crise, provocada pelo modelo que estes defendem e que foi formatado na maior parte das escolas de economia, chantageando com o desemprego, começam a ouvir-se cada vez mais vozes a defender propostas como a de redução dos salários e a redução de direitos do trabalho.
É essa a proposta maioritariamente defendida por um painel de economistas e empresários hoje interrogados pela revista Visão. É o que defendem António Nogueira Leite, João César da Neves e João Salgueiro.
Registe-se a lucidez da opinião do economista Sandro Mendonça, (um quase desconhecido – não será por acaso!). Considera este que a redução salarial “iria contrair a procura e agravar pressões deflacionistas, no pior momento possível”, apontando como alternativa a expansão das “prestações sociais aos desempregados” e o reforço da “formação profissional”. Defende ainda a publicação obrigatória de “dados sobre a situação vivida na empresa, quanto às assimetrias remuneratórias”.
Surpreendentemente, também o presidente da CIP, Francisco Van Zeller, considera que a “redução de salários de uma forma generalizada, obviamente não é uma medida socialmente aceitável, mesmo que pudesse melhorar a competitividade”.
Penso que muitos portugueses até aceitariam, temporariamente, algumas limitações aos seus direitos e a redução dos seus salários, se começassem a ver o exemplo a vir de cima, começando pelos próprios defensores dessas propostas, muitos deles gozando vastos privilégios pelos cargos que ocupam em instituições ou empresas. Em defesa desta situação, dirão alguns que isto é demagogia, ou, em linguagem “socrática”, “inveja social”,que eles são uma minoria e as suas funções exigem renumerações em conformidade. Mas defender aquelas medidas para os que ganham menos , a maioria, já não é demagogia?. Faz lembrar aquela frase de Chaplin, segundo a qual “quem mata uma pessoa é um criminoso, quem mata milhões é um herói”.
Neste caso, o raciocínio é ao contrário, quem defende que sejam os gestores de topo e os defensores dessas propostas a dar o exemplo , reduzindo os seus privilégios e os seus rendimentos, é classificado com demagogo, e quem defende a redução de “privilégios” e salários para os outros é uma pessoa séria e credível.
No sistema onde ainda vivemos, onde é o consumo que incentiva a produção e é a produção que cria empregos e aumenta o valor dos salários e dos lucros, defender a redução da capacidade de consumo daqueles que ainda a têm, parece-me, não só ignorância económica, como perigoso e explosivo.
Ao menos que aprendessem com a leitura da notícia hoje editada no Público onde se procura perceber como é que “pensões milionárias, demissões e fechos de fábricas fazem disparar a agitação social”, um pouco por toda a Europa. Par o sociólogo Sérgio Aires, a resposta está no facto de, enquanto uns são despedidos, outros recebem prémios, o que provoca em qualquer cidadão um choque enorme”. Alerta ainda para o a hipótese de “o clima de agressividade” aumentar “ a parir do momento em que o número de pessoas desesperadas aumentar” e, principalmente, “quando a crise atingir a sério as classes médias”.
Quando os mesmos economistas, “opinadores” ou políticos, que, ainda não há muito tempo, defendiam o sistema agora em crise, são os mesmos que agora se propõem debelar os efeitos da crise, avançando com propostas estapafúrdias, devemos desconfiar da sua seriedade e das suas “boas intenções”.
É tempo de procurar soluções novas e diferentes da cartilha económica que nos tem sido vendida nos últimos anos por políticos, economistas, gestores, órgãos de comunicação social e universidades de “referência”.
É tempo de dizer basta a tanta trafulhice ideológica!
Em Espanha e em França essa proporção é quase metade (5,6 x) e na Finlândia a diferença é ainda menor (3,4%).
Ao “nosso nível” dois outros campeões da desigualdade: os Estados Unidos (8,5%) e o Reino Unidos (7,2%).
Os dados foram revelados pelo “The Guardian” que alerta ainda para o facto de “que todos os problemas sociais – dos crimes violentos à gravidez na adolescência – são provocados pela diferença de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres”.
Recorde-se, a propósito, que um estudo coordenado por Bruto da Costa já havia revelado que a maior parte da pobreza em Portugal era provocada pelos baixos rendimentos e pela precariedade do emprego. Seria lógico que, para combater esse risco, os nossos economistas e “opinadores” defendessem a valorização do factor trabalho.
Contudo, a reboque da crise, provocada pelo modelo que estes defendem e que foi formatado na maior parte das escolas de economia, chantageando com o desemprego, começam a ouvir-se cada vez mais vozes a defender propostas como a de redução dos salários e a redução de direitos do trabalho.
É essa a proposta maioritariamente defendida por um painel de economistas e empresários hoje interrogados pela revista Visão. É o que defendem António Nogueira Leite, João César da Neves e João Salgueiro.
Registe-se a lucidez da opinião do economista Sandro Mendonça, (um quase desconhecido – não será por acaso!). Considera este que a redução salarial “iria contrair a procura e agravar pressões deflacionistas, no pior momento possível”, apontando como alternativa a expansão das “prestações sociais aos desempregados” e o reforço da “formação profissional”. Defende ainda a publicação obrigatória de “dados sobre a situação vivida na empresa, quanto às assimetrias remuneratórias”.
Surpreendentemente, também o presidente da CIP, Francisco Van Zeller, considera que a “redução de salários de uma forma generalizada, obviamente não é uma medida socialmente aceitável, mesmo que pudesse melhorar a competitividade”.
Penso que muitos portugueses até aceitariam, temporariamente, algumas limitações aos seus direitos e a redução dos seus salários, se começassem a ver o exemplo a vir de cima, começando pelos próprios defensores dessas propostas, muitos deles gozando vastos privilégios pelos cargos que ocupam em instituições ou empresas. Em defesa desta situação, dirão alguns que isto é demagogia, ou, em linguagem “socrática”, “inveja social”,que eles são uma minoria e as suas funções exigem renumerações em conformidade. Mas defender aquelas medidas para os que ganham menos , a maioria, já não é demagogia?. Faz lembrar aquela frase de Chaplin, segundo a qual “quem mata uma pessoa é um criminoso, quem mata milhões é um herói”.
Neste caso, o raciocínio é ao contrário, quem defende que sejam os gestores de topo e os defensores dessas propostas a dar o exemplo , reduzindo os seus privilégios e os seus rendimentos, é classificado com demagogo, e quem defende a redução de “privilégios” e salários para os outros é uma pessoa séria e credível.
No sistema onde ainda vivemos, onde é o consumo que incentiva a produção e é a produção que cria empregos e aumenta o valor dos salários e dos lucros, defender a redução da capacidade de consumo daqueles que ainda a têm, parece-me, não só ignorância económica, como perigoso e explosivo.
Ao menos que aprendessem com a leitura da notícia hoje editada no Público onde se procura perceber como é que “pensões milionárias, demissões e fechos de fábricas fazem disparar a agitação social”, um pouco por toda a Europa. Par o sociólogo Sérgio Aires, a resposta está no facto de, enquanto uns são despedidos, outros recebem prémios, o que provoca em qualquer cidadão um choque enorme”. Alerta ainda para o a hipótese de “o clima de agressividade” aumentar “ a parir do momento em que o número de pessoas desesperadas aumentar” e, principalmente, “quando a crise atingir a sério as classes médias”.
Quando os mesmos economistas, “opinadores” ou políticos, que, ainda não há muito tempo, defendiam o sistema agora em crise, são os mesmos que agora se propõem debelar os efeitos da crise, avançando com propostas estapafúrdias, devemos desconfiar da sua seriedade e das suas “boas intenções”.
É tempo de procurar soluções novas e diferentes da cartilha económica que nos tem sido vendida nos últimos anos por políticos, economistas, gestores, órgãos de comunicação social e universidades de “referência”.
É tempo de dizer basta a tanta trafulhice ideológica!
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