Deveu-se a Emílio Maria da Costa a iniciativa de sensibilizar as elites torrienses de então para a necessidade de se criar um corpo de bombeiros neste concelho.
Natural de Santarém, onde nasceu em 10 de Junho de 1865, e cabeleireiro de profissão, era proprietário em Torres Vedras de “uma barbearia na rua Paiva de Andrada, frente ao actual Café Império, sendo a sua clientela constituída por elementos da melhor sociedade da época”.
Emílio Costa tinha experiência como bombeiro, pois, antes de da sua vinda para Torres Vedras, pertenceu à Corporação dos Bombeiros Voluntários de Santarém(1).”Tanta propaganda fez sobre o assunto, tanto maçou o bichinho do ouvido dos seus clientes e amigos que organizou uma Comissão” para fundar uma associação de bombeiro (2).
Torna-se pela primeira vez pública a existência de tal comissão em 26 de Abril de 1903 quando, num artigo do jornal “Folha de Torres Vedras” é feita “referência a uma petição com grande número de assinaturas, destinada a ser entregue às companhias de seguros e cujo fim procuraria avaliar as possibilidades de comparticipação das mesmas, caso se formasse uma corporação de Bombeiros” (3).
No dia seguinte, 27 de Abril, é distribuído pela população torriense um aviso convocando para uma reunião, marcada para as “8 horas da noite no salão-theatro do Grémio Artístico-Commercial” (4).
Esse documento era subscrito por Theodoro da Cunha, José Maria de Miranda, João Guimarães Júnior, José Joaquim de Miranda e Júlio Vieira.
Theodoro da Cunha era notário da Comarca e tinha sido o primeiro director do jornal “Folha de Torres Vedras”, vivendo na vila e com a idade de 35 anos.
José Maria de Miranda era farmacêutico em Torres Vedras e tinha 44 anos.
João Guimarães Júnior era um conceituado comerciante da vila, então com 51 anos.
José Joaquim de Miranda era um proprietário agrícola da vila com 34 anos.
Júlio Vieira era o mais jovem e também, na actualidade, o mais conhecido de todos, então no início da sua vida social. Tinha apenas 27 anos, era comerciante e editor e administrador do jornal “Folha de Torres Vedras”(5).
Aquela assembleia, presidida por Joaquim José de Bastos, vice-presidente da Câmara, reuniu cerca de 150 pessoas e dela saíram três subcomissões destinadas a criar condições para a formação de um associação de bombeiros.
A cada uma foram atribuídas tarefas distintas: uma destinava-se à angariação de donativos (dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, António Agostinho da Silva Henriques, presidente da câmara, Manuel Francisco Marques, dr. Francisco de Carvalho Martins e Manuel José de Paula Guimarães) ; outra à elaboração dos estatutos (Theodoro da Cunha, Júlio Vieira e José Maria de Miranda); a terceira à “organização de festejos e diversões destinadas a criar receitas” (José Joaquim de Miranda, João Ferreira Guimarães Júnior, José Pedro Lopes, José Augusto Cabral, José Rodrigues, José Maria de Almeida Trigueiros e Emílio Maria da Costa)(6).
Dos 17 membros dessa “grande comissão”(7), 16 viviam na vila, 11 pertenciam ao sector terciário (5 comerciantes, 1 barbeiro, 1 escrivão de direito, 1 farmacêutico, 1 advogado, 1 conservador e 1funcionário público), 5 eram proprietários e 1 pertencia ao sector secundário ( 1 alfaiate ).
Pouco mais de metade, 9, tinham menos de 36 anos. As tradicionais elites políticas estavam aqui bem representadas, sendo significativa a presença de personalidades ligadas ao Partido Regenerador, em número de 6, contra apenas duas do Partido Progressista.
Era, contudo, esmagadora a presença de personalidades sem opção política até então conhecida, em número de 9. Destes, em breve, quase metade vai aderir à República.
Através da composição dessa comissão anuncia-se uma recomposição da elite local que tradicionalmente participava neste tipo de iniciativas, quer pela juventude da maior parte deles, quer pelo estatuto social urbano esmagadoramente dominante e renovado pela presença de profissões geralmente marginalizadas da vida social, como as de alfaiate e de barbeiro .
Se é verdade que nela encontramos as mais destacadas figuras que representavam as tradicionais tendências políticas, como o Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, advogado, líder concelhio do Partido Regenerador, ou Manuel Francisco Marques, proprietário, líder local do Partido Progressista, também é verdade que encontramos duas das figuras que vão marcar as novas tendências políticas que se desenvolverão no princípio do século: Júlio Vieira, então apenas com 27 anos, que se destacará em breve como um dos mais dinâmicos propagandistas do ideário republicano e Mário Galrão, então também um jovem de 29 anos, que em breve vai liderar localmente o recém criado Partido Regenerador-Liberal (“Franquista”), e, futuramente, vai ser um dos mais destacados líderes monárquicos anti-republicanos.
Mas uma outra realidade que se afirma com a composição desta comissão é a forte componente regionalista que, ao longo da história local da primeira metade do século XX, se sobrepõe às clivagens políticas, sociais e geracionais quando se trata de construir algo para o bem da comunidade.
Foi este espírito que, desde o princípio, esteve presente nos destino da Associação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras.
(1) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.
(2) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.; O Torreense, nº 30, 11 de Outubro de 1943.
(3) ROSA, António da Silva, “O Gérmen da Corporação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, in “75º Aniversário dos Bombeiros Voluntários”, Suplemento especial do nº1188 do jornal Badaladas, 13 de Outubro de 1978.
(4) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Especial Bombeiros – Um Século de Coragem”, suplemento do jornal FrenteOeste, 30 de Janeiro de 2003.
(5) Dados elaborados a partir do cruzamento de vários cadernos eleitorais de 1908 a 1914, AMTV. Existe uma ligeira margem de erro no que diz respeito às idades de + 1 ano de idade.
(6) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(7) ROSA, António da Silva, ob.cit; “Torres Vedras e os seus Bombeiros ...”, ob. cit.
Natural de Santarém, onde nasceu em 10 de Junho de 1865, e cabeleireiro de profissão, era proprietário em Torres Vedras de “uma barbearia na rua Paiva de Andrada, frente ao actual Café Império, sendo a sua clientela constituída por elementos da melhor sociedade da época”.
Emílio Costa tinha experiência como bombeiro, pois, antes de da sua vinda para Torres Vedras, pertenceu à Corporação dos Bombeiros Voluntários de Santarém(1).”Tanta propaganda fez sobre o assunto, tanto maçou o bichinho do ouvido dos seus clientes e amigos que organizou uma Comissão” para fundar uma associação de bombeiro (2).
Torna-se pela primeira vez pública a existência de tal comissão em 26 de Abril de 1903 quando, num artigo do jornal “Folha de Torres Vedras” é feita “referência a uma petição com grande número de assinaturas, destinada a ser entregue às companhias de seguros e cujo fim procuraria avaliar as possibilidades de comparticipação das mesmas, caso se formasse uma corporação de Bombeiros” (3).
No dia seguinte, 27 de Abril, é distribuído pela população torriense um aviso convocando para uma reunião, marcada para as “8 horas da noite no salão-theatro do Grémio Artístico-Commercial” (4).
Esse documento era subscrito por Theodoro da Cunha, José Maria de Miranda, João Guimarães Júnior, José Joaquim de Miranda e Júlio Vieira.
Theodoro da Cunha era notário da Comarca e tinha sido o primeiro director do jornal “Folha de Torres Vedras”, vivendo na vila e com a idade de 35 anos.
José Maria de Miranda era farmacêutico em Torres Vedras e tinha 44 anos.
João Guimarães Júnior era um conceituado comerciante da vila, então com 51 anos.
José Joaquim de Miranda era um proprietário agrícola da vila com 34 anos.
Júlio Vieira era o mais jovem e também, na actualidade, o mais conhecido de todos, então no início da sua vida social. Tinha apenas 27 anos, era comerciante e editor e administrador do jornal “Folha de Torres Vedras”(5).
Aquela assembleia, presidida por Joaquim José de Bastos, vice-presidente da Câmara, reuniu cerca de 150 pessoas e dela saíram três subcomissões destinadas a criar condições para a formação de um associação de bombeiros.
A cada uma foram atribuídas tarefas distintas: uma destinava-se à angariação de donativos (dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, António Agostinho da Silva Henriques, presidente da câmara, Manuel Francisco Marques, dr. Francisco de Carvalho Martins e Manuel José de Paula Guimarães) ; outra à elaboração dos estatutos (Theodoro da Cunha, Júlio Vieira e José Maria de Miranda); a terceira à “organização de festejos e diversões destinadas a criar receitas” (José Joaquim de Miranda, João Ferreira Guimarães Júnior, José Pedro Lopes, José Augusto Cabral, José Rodrigues, José Maria de Almeida Trigueiros e Emílio Maria da Costa)(6).
Dos 17 membros dessa “grande comissão”(7), 16 viviam na vila, 11 pertenciam ao sector terciário (5 comerciantes, 1 barbeiro, 1 escrivão de direito, 1 farmacêutico, 1 advogado, 1 conservador e 1funcionário público), 5 eram proprietários e 1 pertencia ao sector secundário ( 1 alfaiate ).
Pouco mais de metade, 9, tinham menos de 36 anos. As tradicionais elites políticas estavam aqui bem representadas, sendo significativa a presença de personalidades ligadas ao Partido Regenerador, em número de 6, contra apenas duas do Partido Progressista.
Era, contudo, esmagadora a presença de personalidades sem opção política até então conhecida, em número de 9. Destes, em breve, quase metade vai aderir à República.
Através da composição dessa comissão anuncia-se uma recomposição da elite local que tradicionalmente participava neste tipo de iniciativas, quer pela juventude da maior parte deles, quer pelo estatuto social urbano esmagadoramente dominante e renovado pela presença de profissões geralmente marginalizadas da vida social, como as de alfaiate e de barbeiro .
Se é verdade que nela encontramos as mais destacadas figuras que representavam as tradicionais tendências políticas, como o Dr. Aleixo Cesário de Sousa Ferreira, advogado, líder concelhio do Partido Regenerador, ou Manuel Francisco Marques, proprietário, líder local do Partido Progressista, também é verdade que encontramos duas das figuras que vão marcar as novas tendências políticas que se desenvolverão no princípio do século: Júlio Vieira, então apenas com 27 anos, que se destacará em breve como um dos mais dinâmicos propagandistas do ideário republicano e Mário Galrão, então também um jovem de 29 anos, que em breve vai liderar localmente o recém criado Partido Regenerador-Liberal (“Franquista”), e, futuramente, vai ser um dos mais destacados líderes monárquicos anti-republicanos.
Mas uma outra realidade que se afirma com a composição desta comissão é a forte componente regionalista que, ao longo da história local da primeira metade do século XX, se sobrepõe às clivagens políticas, sociais e geracionais quando se trata de construir algo para o bem da comunidade.
Foi este espírito que, desde o princípio, esteve presente nos destino da Associação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras.
(1) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.
(2) COSTA, Emílio Luís, ob.cit.; O Torreense, nº 30, 11 de Outubro de 1943.
(3) ROSA, António da Silva, “O Gérmen da Corporação de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras”, in “75º Aniversário dos Bombeiros Voluntários”, Suplemento especial do nº1188 do jornal Badaladas, 13 de Outubro de 1978.
(4) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Especial Bombeiros – Um Século de Coragem”, suplemento do jornal FrenteOeste, 30 de Janeiro de 2003.
(5) Dados elaborados a partir do cruzamento de vários cadernos eleitorais de 1908 a 1914, AMTV. Existe uma ligeira margem de erro no que diz respeito às idades de + 1 ano de idade.
(6) ROSA, António da Silva, ob.cit.; “Torres Vedras e os seus Bombeiros Voluntários – Passa amanhã o 30º aniversário da sua fundação – A sua vida e os seus serviços”, in Alta Extremadura, 10 de Outubro de 1933, p.2 (autor anónimo).
(7) ROSA, António da Silva, ob.cit; “Torres Vedras e os seus Bombeiros ...”, ob. cit.
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