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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Nos 40 anos da Revolta estudantil de 1969

(o "luto" dos jogadores da Académica, na final da Taça de 1969)


Passam hoje 40 anos que, por ocasião da inauguração do Edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra, Américo Tomás foi confrontado com a contestação dos estudantes, que atingiu o seu momento mais simbólico com o pedido de intervenção do então Presidente da direcção recém eleita da Associação Académica de Coimbra, Alberto Martins (o actual líder da bancada parlamentar do PS).
Sendo-lhe negada a palavra, a cerimónia terminou logo ali e Alberto Martins foi detido pela Pide nessa mesma noite.
Iniciou-se então um longo período de contestação estudantil em Coimbra, com os estudantes a decretaram luto académico e greve aos exames e o Ministro da Educação da altura, José Hermano Saraiva, a decretar o encerramento da Universidade.
Em 2 de Junho a Universidade de Coimbra é ocupada por destacamentos da GNR, PSP e da Polícia de Choque.
Em 22 de Junho os estudantes voltam a manifestar-se, desta vez em Lisboa, por ocasião da final da Taça de Portugal, onde a Académica jogava contra o Benfica. Excepcionalmente a RTP não transmitiu, como era habitual, esse jogo, nem o presidente da republica compareceu ao evento.
A contestação estudantil expandia-se para Lisboa.
O regime resolve alterar em Julho a lei do adiamento militar, e vários alunos são chamados para cumprir serviço militar. Alguns destes vão ter um papel activo no 25 de Abril de 1974.
Este acontecimento foi o meu primeiro confronto com a realidade política do país, quando, no Verão desse ano de 1969, então com treze anos, me desloquei a Coimbra com os meus pais e o meu irmão, como era habitual acontecer todos os anos para visitarmos os meus avós paternos, que viviam numa rua perto da Sé Velha.
O meu pai, nascido em Coimbra, tinha-se envolvido na luta política contra o regime nos anos 40/50, fazendo parte da estrutura local do MUD Juvenil. Preso nessa altura, cumpriu dois anos de prisão em Peniche, no início dos anos 50, julgado no conhecido processo dos “108”.
Por esse motivo perdeu o seu emprego em Coimbra, tendo conseguido que uma pessoa amiga, um antigo director do Diário de Coimbra, o “sr. Proença”, que tinha uma empresa de comércio de vinhos em Torres Vedras, a “UVA”, o empregasse aqui. Aqui conheceu a minha mãe e por aqui viveu o resto da sua vida.
Nessa deslocação a Coimbra, o meu pai levou-nos até à zona da Universidade e então aí assisti pela primeira vez, ao aparato policial aí montado. Lembro-me dos jipes militares, do ar agressivo dos homens fardados. Lembro-me de a polícia mandar dispersar um pequeno ajuntamento de estudantes.
Também nós fomos abordados pela polícia. Experiente naquele tipo de situações, o meu pai deu como desculpa para estarmos ali, o facto de “morarmos” na zona, desculpa que a polícia engoliu, deixando-nos prosseguir e observar o aparato repressivo.
Embora em casa se falasse de política e se tivesse consciência da situação política que se vivia, aquele contacto com a polícia em Coimbra deu-me, pela primeira vez, uma dimensão real do regime repressivo salazarista (nessa altura já era “marcelista”).
O que não deixa de ser curioso é que, hoje em dia, muitos dos que lideraram essa revolta usam, contra os sindicatos e os manifestantes anti-governamentais, muitos dos argumentos que o regime de então usava contra os estudantes. Ironias da História.

1 comentário:

Rui Prudêncio disse...

Olá Venerando.

Sobre a PIDE ouvi uma pequena estória, em primeira mão. Uma estória não de repressão e perseguição, mas também do autoritarismo da PIDE, de como os pides gostavam de ser tratados de maneira diferente mesmo em pequenas coisas.

Conheci há poucos dias um dirigente da Casa do Benfica de Santarém (CBS) nos anos 72-74. O sr. contou-me que nesses anos a CBS decidiu abrir aulas de judo. Logo uns quantos pides, conhecidos dos escalabitanos, quiseram frequentar as aulas sem estarem inscritos préviamente como sócios, conforme regulamentava os estatutos. A Direcção da CBS não aceitou os pedidos dos pides enquanto estes não se tornassem sócios da CBS, até ao momento em que foram chamados a Lisboa e levaram uma "ensaboadela" da autoridade superior (do Comando Central da PIDE, talvez). Tiveram de ceder às exigências da PIDE, senão...