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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Centenários - 15 - 23 de Abril de 1909 - O Terramoto de Benavente


Descrição do Terramoto


“Nas torres das egrejas matrizes de Benavente e de Samora tinham soado havia pouco as cinco horas. A faina dos campos estava terminada.

"Crianças brincavam nas ruas. Mães embalavam berços.

"Subito, como um transatlântico no momento de largar, quando acordam no seu ventre profundo as trepidações resoantes das machinas e as aguas marulham á rotação poderosa das hélices, um fragor subterrâneo trespassa o solo, como o echo formidável de um desabamento gigantesco, e tudo oscilla: as arvores vergam, as casas dançam, as torres inclinam-se, as paredes estalam.

"É primeiro a sensação da queda n’um abysmo, como se a terra transformada em onda se cavasse e logo, em refluxo, se reerguesse, n’uma colossal palpitação.

"Depois, um tremor convulsivo abala-a e vareja-a, em oscillações de trampolim.

"Sobre o rugido que ascende das profundidades geológicas, um maior fragor abate.

"As casas sacodem de si as fachadas. Alluem os telhados. Desmorona-se as paredes. Uma nuvem de pó e de caliça inça o espaço como a fumarada densa de um incêndio.

"Durante quinze segundo, as povoações jogam como navios bailando n’um mar tempestuoso. E de segundo a segundo, como a simultânea salva de cem fortalezas, estrondeiam as derrocadas, interceptando o caminho aos que fogem, calando sob os seus trovões o alarido dos espavoridos animaes humanos, que vagueiam entre a poeira e as ruínas.
“Mas já agora a terra serena. Aos poucos, a poeira ascende, como um pano de theatro, descobrindo o espectáculo medonho.

"Só ainda a humanidade treme, reduzida á sua fragilidade miseranda, no espanto de haver sobrevivido, na duvida de que na vasta terra onde toda a sua obra jaz desfeita, o destino lhe permitta continuar respirando e vivendo.

"Torres de egrejas, que havia dois séculos, assentes em fundos alicerces, erguiam para as nuvens os seus cataventos de ferro, tinham-se pulverisado.

" Só o homem fragilíssimo vagueava entre as ruínas”.
(ATRAVÉS DOS ESCOMBROS DO RIBATEJO – O Terramoto de 23 de Abril, in “Ilustração Portugueza”, nº 168 de 10 de Maio de 1909)

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