Este Monumento Nacional está situado à entrada da mais importante porta da antiga vila de Torres Vedras.
Dessedentava as montadas, pelo que aí se concentravam várias actividades profissionais como as de ferrador, correeiro, albardeiro, situação ainda evidente pela existência de uma ferradura na parede indicativa da actividade de ferrador.
Já existia em 1331, de acordo com Julio Vieira, que refere a existência de um pergaminho do arquivo da Igreja de S.Pedro, depositado na Torre do Tombo, datado da era de 1369 ( ano de 1331), “o qual nos dá a certeza da sua existência nessa data, por virtude do emprazamento de umas casas da referida igreja junto á fonte dos Canos “ (1).
Num estudo mais actualizado, Ana Maria Rodrigues considera a origem do chafariz anterior a 1322, pois “se o primeiro documento que refere a praça da Corredoira não revela existir nela qualquer fonte, naquele ano é dada uma soma de dinheiro a um homem para os canos de Torres Vedras. Tratar-se-ía da sua reparação ou construção? Inclinamo-nos mais para esta segunda hipótese, já que em 1323 “os canos de agoa que vem pera a villa” eram uma das confrontações de uma propriedade, e o próprio chafariz serviu de ponto de referência de uma casa, em 1331, tornando-se depois esta situação frequente” (2).
Um outro documento do mesmo arquivo e citado por aquele autor, mas datado já de 1508, volta a referir-se à existência desse monumento ao descrever um emprazamento de outras casas na rua que vai “dos Paços da sr.ª Rainha para o chafariz e fonte dos Canos”(3).
Este Chafariz foi reconstruído em 1561 pela infanta D. Maria, filha do rei D.Manuel:
“A primeira notícia de uma intervenção directa da Infanta num edificado é de 1561, quando a vila de Torres Vedras se queixa do estado de degradação em que se encontrava o Chafariz dos Canos (...) que fornecia água a toda a população.
“Uma placa com inscrição - colocada na face central do chafariz e envolta numa cartela simples de memória flamenga- assinala o reparo do tanque e da bica mandado fazer pela Infanta:
“(...) Esta obra foi levantada debaixo da inspecção do Licenciado Duarte Velho, Juiz, por mandado da Infanta Nossa Senhora no anno de 1561” (traduzido do latim por Madeira Torres).
“Esta acção não é inócua. D. Maria era senhora de Torres Vedras e de Viseu -vilas que pertenciam à casa da rainha e que a Infanta tinha herdado depois do casamento de sua irmã Isabel com Calos V- tendo autonomia na jurisdição e justiça da vila.(...) a resposta a este pedido das gentes da vila tem de ser vista, também, dentro de um quadro de poder paralelo, simbolizado pela presença de uma personagem real que está atenta e empenhada em resolver as necessidades dos seus súbditos” (4).
Do ponto de vista artístico esse monumento pode ser descrito como “ um pavilhão de cinco faces salientes, com seis colunas externas a que correspondem cinco portas ogivais, tendo em remate, sobre o friso terminal, paralelo aos capitéis naturalistas, a sobreposição duma cinta debruada, ao alto, pelo cordão manuelino” (5), sendo “o conjunto rematado por coruchéus e pelas características ameias chanfradas do século XVI. No interior, o espaço é ocupado pelo tanque, onde se vêem duas grandes bicas barrocas. A pequena abóbada é de cruzaria, com grossas nervuras que assentam sobre mísulas cónicas. Esta fonte é, portanto, um monumento onde se encontram elementos de diferentes épocas, mas onde domina a arte gótica, de apuramento igual, nos perfis das arquivoltas e no lavor dos capitéis, ao da arquitectura religiosa da época.” (6).
Existe, nas faces das colunas do monumento, um conjunto de quatro escudos “de forma antiga: os da frente ostentando o brazão real que remonta ao século XIII, sendo com toda a probabilidade do reinado de D.Afonso III, e os dois laterais da mesma epoca, representando em tres castelos de linhas sevéras, sobrias de atavios, o velho brazão da antiga Turribus Veteribus.” (7).
Rafael Salinas Calado questiona a forma original do Chafariz, interrogando-se sobre como teria sido a sua cobertura e o seu telhado: “Entre o remate final de pedras aparelhadas, e o cordão manuelino vêem-se “espetadas”, na cinta de alvenaria, umas gárgulas, animais de meio tronco, que, da maneira como estão dispostas, ali estão nitidamente deslocadas. Teriam pertencido ao monumento?
“Como teria sido, a cúpula do Chafariz dos Canos?
“Apenas o exterior da cúpula artesonada, que corresponde ao tecto do interior?’
“Um telhado, moiriscado, recoberto com telha de canudo, possìvelmente vidrada?’
“O monumento de aspecto exterior pentagonal, a ter tido telhado, este teria remate, que seria também linear.”(8) .
Ainda no princípio do século XX existia um tanque de água em frente ao chafariz, feito em 1831, “onde pela boca de dois golfinhos esculpidos em bôa pedra cáe a agua para uso dos animais”(9) e que Julio Vieira descreve nos seguintes termos:
“Debaixo da aboboda artezoada do pavilhão erguem-se duas bicas que correm para um pequeno tanque e, em todo o comprimento da frente, num plano inferior, existe um espaçoso tanque mais moderno feito para aproveitar as aguas que sobejam da fonte e que servem par uso dos animais.
“Na mesma ocasião o chafariz sofreu reparações e a noticia desta reconstrução fê-la o corregedor Inacio Pedro Quintela Emauz inserir em duas lapides em latim que mandou incrustar sobre os dois primeiros porticos laterais, para que constasse aos vindouros.
“Uma orla de marcos de cantaria defende este tanque que um futuro mais ou menos proximo condenará á demolição, por contrario á moderna higiene veterinaria” (10).
Em 1950 indignava-se Salinas Calado com o facto de aquele tanque já ter sido “imolado, numa inconsciência de mau gosto e como um apeamento da sua imponente dignidade arquitectónica”, recordando “a indignação veemente de Vítor Batalha Reis, ilustre Cônsul de Portugal em Inglaterra, quando soube do inacreditável vandalismo, bem como a de Silvério Moniz Botelho de Sequeira, que foi prestigioso presidente da Câmara torriense, quando uma vez, a meu pedido fulminou e impediu a primeira investida contra o gracioso tanque”, que aquele estudioso data do século XVIII, propondo “reunir as suas lajes grandes e aparelhadas de que era feito, e reconstruí-lo em homenagem devida ao Chafariz dos Canos e aos setecentistas que tão elegantemente o mandaram construir”(11).
Tal sugestão nunca foi ouvida, agravando-se mesmo as condições em que se devia enquadrar tão importante monumento torriense, ex-libris desta cidade, com as discutíveis opções urbanísticas tomadas na área envolvente do monumento durante as últimas décadas.
Daquele tanque restam os dois golfinhos de pedra, actualmente colocados no pequeno canteiro em frente à capela de S. João.
Dessedentava as montadas, pelo que aí se concentravam várias actividades profissionais como as de ferrador, correeiro, albardeiro, situação ainda evidente pela existência de uma ferradura na parede indicativa da actividade de ferrador.
Já existia em 1331, de acordo com Julio Vieira, que refere a existência de um pergaminho do arquivo da Igreja de S.Pedro, depositado na Torre do Tombo, datado da era de 1369 ( ano de 1331), “o qual nos dá a certeza da sua existência nessa data, por virtude do emprazamento de umas casas da referida igreja junto á fonte dos Canos “ (1).
Num estudo mais actualizado, Ana Maria Rodrigues considera a origem do chafariz anterior a 1322, pois “se o primeiro documento que refere a praça da Corredoira não revela existir nela qualquer fonte, naquele ano é dada uma soma de dinheiro a um homem para os canos de Torres Vedras. Tratar-se-ía da sua reparação ou construção? Inclinamo-nos mais para esta segunda hipótese, já que em 1323 “os canos de agoa que vem pera a villa” eram uma das confrontações de uma propriedade, e o próprio chafariz serviu de ponto de referência de uma casa, em 1331, tornando-se depois esta situação frequente” (2).
Um outro documento do mesmo arquivo e citado por aquele autor, mas datado já de 1508, volta a referir-se à existência desse monumento ao descrever um emprazamento de outras casas na rua que vai “dos Paços da sr.ª Rainha para o chafariz e fonte dos Canos”(3).
Este Chafariz foi reconstruído em 1561 pela infanta D. Maria, filha do rei D.Manuel:
“A primeira notícia de uma intervenção directa da Infanta num edificado é de 1561, quando a vila de Torres Vedras se queixa do estado de degradação em que se encontrava o Chafariz dos Canos (...) que fornecia água a toda a população.
“Uma placa com inscrição - colocada na face central do chafariz e envolta numa cartela simples de memória flamenga- assinala o reparo do tanque e da bica mandado fazer pela Infanta:
“(...) Esta obra foi levantada debaixo da inspecção do Licenciado Duarte Velho, Juiz, por mandado da Infanta Nossa Senhora no anno de 1561” (traduzido do latim por Madeira Torres).
“Esta acção não é inócua. D. Maria era senhora de Torres Vedras e de Viseu -vilas que pertenciam à casa da rainha e que a Infanta tinha herdado depois do casamento de sua irmã Isabel com Calos V- tendo autonomia na jurisdição e justiça da vila.(...) a resposta a este pedido das gentes da vila tem de ser vista, também, dentro de um quadro de poder paralelo, simbolizado pela presença de uma personagem real que está atenta e empenhada em resolver as necessidades dos seus súbditos” (4).
Do ponto de vista artístico esse monumento pode ser descrito como “ um pavilhão de cinco faces salientes, com seis colunas externas a que correspondem cinco portas ogivais, tendo em remate, sobre o friso terminal, paralelo aos capitéis naturalistas, a sobreposição duma cinta debruada, ao alto, pelo cordão manuelino” (5), sendo “o conjunto rematado por coruchéus e pelas características ameias chanfradas do século XVI. No interior, o espaço é ocupado pelo tanque, onde se vêem duas grandes bicas barrocas. A pequena abóbada é de cruzaria, com grossas nervuras que assentam sobre mísulas cónicas. Esta fonte é, portanto, um monumento onde se encontram elementos de diferentes épocas, mas onde domina a arte gótica, de apuramento igual, nos perfis das arquivoltas e no lavor dos capitéis, ao da arquitectura religiosa da época.” (6).
Existe, nas faces das colunas do monumento, um conjunto de quatro escudos “de forma antiga: os da frente ostentando o brazão real que remonta ao século XIII, sendo com toda a probabilidade do reinado de D.Afonso III, e os dois laterais da mesma epoca, representando em tres castelos de linhas sevéras, sobrias de atavios, o velho brazão da antiga Turribus Veteribus.” (7).
Rafael Salinas Calado questiona a forma original do Chafariz, interrogando-se sobre como teria sido a sua cobertura e o seu telhado: “Entre o remate final de pedras aparelhadas, e o cordão manuelino vêem-se “espetadas”, na cinta de alvenaria, umas gárgulas, animais de meio tronco, que, da maneira como estão dispostas, ali estão nitidamente deslocadas. Teriam pertencido ao monumento?
“Como teria sido, a cúpula do Chafariz dos Canos?
“Apenas o exterior da cúpula artesonada, que corresponde ao tecto do interior?’
“Um telhado, moiriscado, recoberto com telha de canudo, possìvelmente vidrada?’
“O monumento de aspecto exterior pentagonal, a ter tido telhado, este teria remate, que seria também linear.”(8) .
Ainda no princípio do século XX existia um tanque de água em frente ao chafariz, feito em 1831, “onde pela boca de dois golfinhos esculpidos em bôa pedra cáe a agua para uso dos animais”(9) e que Julio Vieira descreve nos seguintes termos:
“Debaixo da aboboda artezoada do pavilhão erguem-se duas bicas que correm para um pequeno tanque e, em todo o comprimento da frente, num plano inferior, existe um espaçoso tanque mais moderno feito para aproveitar as aguas que sobejam da fonte e que servem par uso dos animais.
“Na mesma ocasião o chafariz sofreu reparações e a noticia desta reconstrução fê-la o corregedor Inacio Pedro Quintela Emauz inserir em duas lapides em latim que mandou incrustar sobre os dois primeiros porticos laterais, para que constasse aos vindouros.
“Uma orla de marcos de cantaria defende este tanque que um futuro mais ou menos proximo condenará á demolição, por contrario á moderna higiene veterinaria” (10).
Em 1950 indignava-se Salinas Calado com o facto de aquele tanque já ter sido “imolado, numa inconsciência de mau gosto e como um apeamento da sua imponente dignidade arquitectónica”, recordando “a indignação veemente de Vítor Batalha Reis, ilustre Cônsul de Portugal em Inglaterra, quando soube do inacreditável vandalismo, bem como a de Silvério Moniz Botelho de Sequeira, que foi prestigioso presidente da Câmara torriense, quando uma vez, a meu pedido fulminou e impediu a primeira investida contra o gracioso tanque”, que aquele estudioso data do século XVIII, propondo “reunir as suas lajes grandes e aparelhadas de que era feito, e reconstruí-lo em homenagem devida ao Chafariz dos Canos e aos setecentistas que tão elegantemente o mandaram construir”(11).
Tal sugestão nunca foi ouvida, agravando-se mesmo as condições em que se devia enquadrar tão importante monumento torriense, ex-libris desta cidade, com as discutíveis opções urbanísticas tomadas na área envolvente do monumento durante as últimas décadas.
Daquele tanque restam os dois golfinhos de pedra, actualmente colocados no pequeno canteiro em frente à capela de S. João.
(1) VIEIRA, Julio, Torres Vedras Antiga e Moderna, ed. Torres Vedras, 1926, p. 95.
(2) RODRIGUES, Ana Maria, Torres Vedras -A Vila e o Termo nos Finais da Idade Média, ed. Fundação Calouste Gulbenkian e J.N.I.C.T., Lx. 1995, p.175.
(3) VIEIRA, Julio, ob.cit, p. 95.
(4) PINTO, Carla Alferes, A Infanta Dona Maria de Portugal - O Mecenato de Uma Princesa Renascentista, ed. Fundação Oriente, 1998, p.96.
(5) CALADO, Rafael Salinas, “O Chafariz dos Canos de Torres Vedras”, in Estremadura, nº23 2ª série, 1959, 35-39, p.35.
(6) AZEVEDO, Carlos de, e GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. IV, ed.Junta Distrital de Lisboa, 1963, p. 50.
(7) VIEIRA, Julio,ob.cit., p. 93.
(8) CALADO, Rafael Salinas, ob.cit.p.36.
(9) TORRES, Manuel Agostinho madeira, Descripção Historica e Economica da villa e termo de Torres Vedras, 2º edição anotada, Coimbra 1862, p.64.
(10) VIEIRA, Julio, ob.cit.,p. 95.
(11) CALADO, Rafael Salinas, ob.cit, pp.37 e 38.
Sem comentários:
Enviar um comentário