Decorre esta manhã a cerimónia de trasladação dos restos mortais do poeta, escritor e ensaista Jorge de Sena.
Trinta e um anos após a sua morte, o escritor regressa à Pátria de onde teve de sair para fugir ao regime salazarista há 50 anos, primeiro para o Brasil, depois para os Estados Unidos, onde faleceu em 4 de Jnho de 1978.
Esse exílio nunca impediu Jorge de Sena de continuar a seguir atentamente a vida portuguesa e escrever em revistas e suplementos literários.
Nascido em 1919, Jorge de Sena, apesar de ser pouco conhecido do grande público, é um dos grandes nomes da literatura portuguesa.
Em sua homenagem transcrevemos aqui um dos seus poemas:
Ode à Mentira
Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.
(Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal')
1 comentário:
Há que saudar o regresso de Jorge de Sena a Portugal, mas estou de acordo com Manuel Alegre quando ele diz que deveria ter ido par o Panteão Nacional e não para os Prazeres.
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