Já aqui tínhamos referido que esta segunda parte da campanha ia ser dominada pelos “casos”, procurando o PS e o PSD explorar a seu favor todos esses “casos”.
A campanha até começou bem, com uma preocupação nunca vista em revelar e debater os programas eleitorais, com um esquema de debates políticos que permitia esclarecer as propostas de cada candidato, que obtiveram níveis raros de audiência.
Infelizmente, o desespero perante as primeiras sondagens, com um PS que não descolava do PSD e com um PSD que sentia dificuldade em aproximar-se do PS, levou o centrão a mover todas as suas influências, junto da comunicação social, recorrendo à única forma de política a que nos foram habituando nas últimas décadas, a baixa política.
Também já o disse que, quem conseguisse o “melhor caso” ganharia as eleições.
E "o melhor caso" foi o caso “Fernando Lima” ,cujo resultado favorece eleitoralmente o PS.
Tudo começou com uma atitude deontológica e eticamente repugnante do “Diário de Notícias”, ao usar um documento interno de outro jornal, o “Público”, obtido de modo obscuro, denunciando uma fonte anónima.
Depois só foi preciso esperar pela reconhecida inabilidade política de Cavaco Silva, o homem dos “tabus”, que diz uma coisa num dia, "não queria tomar uma posição durante a campanha eleitoral" e, um dia depois, deixa cair a bomba da demissão de Fernando Lima, a tal fonte denunciada pelo “DN”.
A imagem que passa é que a apregoada “asfixia democrática”, que foi o eixo motivador da campanha de Ferreira Leite, foi uma grande mentira, construída nos bastidores da política.
Ao apostar quase exclusivamente nesse dogma da “asfixia democrática”, deixando de lado muitos pontos fracos da governação socialista, da qual nunca se demarcou convincentemente, Ferreira Leite perde toda a credibilidade política que lhe restava
Com essa atitude, Cavaco Silva, dá um forte apoio ao PS, atitude que não é inédita ao longo do seu mandato (veja-se o que se passou na Educação), jogando talvez, a médio/longo prazo, na hipótese de um PSD renovado, com um líder mais capaz de enfrentar de forma decisiva e vitoriosa, daqui a dois anos, um PS entretanto enfraquecido, dirigido por um José Sócrates, cada vez mais acossado por escândalos e pela sua incapacidade de governara em minoria.
Entretanto, talvez conte receber como “contrapartida” o apoio do PS para a sua recandidatura.
Cavaco fez ao PSD aquilo de Jorge Sampaio fez a Ferro Rodrigues, numa atitude que abriu caminho a José Sócrates.
Mas, se não esclarecer convincentemente esta situação aos portugueses, Cavaco Silva pode comprometer o seu próprio futuro político.
O caso do dia, e quanto a mim decisivo para estas eleições, também jogou a favor de José Sócrates, ao evitar as repercussões do lançamento do livro, desde ontem vendido online ( www.rcpedicoes.com ), da autoria do jornalista Rui Costa Pinto (ex-O Independente e ex-Visão), intitulado "José Sócrates - o homem e o líder" que traça, citando o “DN”, “ o percurso de um político feito de "sucessos e derrotas. Um percurso "sempre marcado pelas cartas anónimas e suspeições de envolvimento em casos de corrupção, tráfico de influências e paraísos offshores, por ora nunca comprovados na justiça, nem cabalmente esclarecidos em termos de opinião pública". A biografia terá como "quadro de fundo", segundo o autor, "uma caracterização do ambiente de corrupção em Portugal".
.Com a democracia cada vez mais ferida, por enquanto ainda não de morte, esperam-se novos episódios desta telenovelas.
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