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segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Falácia dos Exames

(cartoon da autoria de Antero Valério, in blog Anterozóide)



Num mundo onde o pensamento crítico se substitui aos ditames das modas ideológicas, poucos são aqueles que questionam a importância real da realização de exames.
De facto, de há alguns anos para cá, generalizou-se a opinião em defesa da realização de exames nos vários níveis escolares, como apanágio para melhorar a qualidade do ensino.
De uma situação em que se considerava quase crime avaliar os alunos com base nos testes realizados ao longo do ano, valorizando-se outras actividades, como trabalhos de grupo ou a postura na aula, para não “traumatizar” as crianças e os jovens com o esforço do estudo e da memorização, passou-se para o extremo oposto.
Tudo passou a ser feito para preparar os alunos para os exames, como se estes tivessem qualquer efeito na melhoria da qualidade do ensino.
Pergunto, para que servem os exames?
Dir-me-ão os seus defensores que podem aferir da qualidade das escolas, dos professores e do ensino em geral, comparando médias e a evolução ao longo dos anos, por disciplinas e por escolas.
Contudo, tudo isso é uma falácia.
Uma escola mal posicionada no ranking nacional pode ter feito um trabalho muito superior a outra mais bem classificada.
Como toda a gente que dá aulas sabe, é muito fácil uma escola com alunos oriundos de famílias mais cultas, onde os pais tenham mais formação e com acesso fácil aos mais variados meios educativos, obter bons resultados.
Porém, no ensino, muitas vezes uma grande vitória é conseguir que alunos, mais desfavorecidos que os referidos acima, se mantenham na escola, mesmo obtendo resultados fracos nos exames.
Um aluno que parta em melhores condições, apesar de obter uma nota alta, pode prefigurar um mau resultado, tendo em conta as suas capacidades de partida. Mas para a opinião pública que tem uma ideia futebolística da educação, a escola e os professores deste alunos serão considerados melhores que os da escola mal classificada no ranking.
E , já agora, o que dizer das escolas que impedem os alunos mais fracos de irem a exame, para não descerem a sua média, situação muito comum no ensino particular?
E que dizer do facto de a maior parte dos exames não contarem para nada, ou apenas para muito pouco, na nota de cada aluno? Que motivação e responsabilidade sente a maior parte dos alunos para se empenhar na preparação para os exames?
Se juntarmos a tudo isto a injustiça que é fazer depender o trabalho de um ano do resultado obtido em cerca de duas horas de exame ou a disparidade, de ano para ano, quanto ao grau de dificuldade das provas, perguntar-se-á para que servem os exames?
Quanto a mim servem apenas de desculpa para continuar a “malhar” nos professores e nas escolas, transformando uma coisa séria, como é a educação, num simulacro de “campeonato nacional” de “sabedoria”.
Como professor que já por várias ocasiões leccionei em anos de exame, interrogo-me ainda que seriedade reside na elaboração dos exames nacionais, quando, nessa situação, nem uma única vez fui ouvido sobre o assunto?
Nunca fui convocado para uma única reunião para debater com colegas de outras escolas e com os responsáveis pela elaboração dos exames as condições em que se leccionam determinados conteúdos ou a pertinência dos mesmos como tema de exame.
Não seria tempo de relançar o debate sobre a importância dos exames para a qualidade do nosso ensino?

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