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domingo, 21 de junho de 2009

28 "Virgens"

Lendo o “manifesto” de um grupo de economistas sobre a situação económica do país e as opções do governo em relação às grande obras públicas, julgar-se-ia que se estava perante uma tomada de posição de um grupo de jovens economistas, não comprometidos com a situação actual.
Contudo, tal documento vem assinado por uma mão cheia de ex-ministros (13 em 28), a maior parte com responsabilidades na área das finanças e da economia, gente que está ou esteve ligada a bancos e a empresas públicas, professores de economia nas principais escolas do país, onde se ensina o pensamento único neo-liberal, manipuladores de dados estatísticos, responsáveis ou ex-responsáveis por várias instituições que têm ditado as decisões económicas e financeiras no nosso país nas últimas décadas.
Alguns têm vindo a atravessar a sua carreira encostados aos mais diversos regimes, governos e partidos políticos que nos têm governado nos últimos quarenta anos, sempre em lugares de decisão político-económica.
Posso concordar com alguns dos diagnósticos e fundamentos da sua análise à situação do país e posso partilhar das dúvidas em relação às opções deste governo ( e dos anteriores) no que respeita às obras públicas que estão projectadas.
Encher o país de auto-estradas não é a melhor opção para combater a poluição ou os gastos energéticos, que tanto têm contribuído para agravar a nossa dívida externa (petróleo, automóveis, matérias-primas…).
A própria estrutura geográfica da rede viária tem contribuído para o crescente desequilíbrio entre o litoral e interior do país, agravando desigualdades sociais e territoriais.
Mas onde estavam essas 28 cabeças quando, há mais de vinte anos (e não apenas nos últimos dez, como esse manifesto pretende fazer crer), tais opções foram tomadas? Muitos deles a concordar entusiasticamente.
Tenho as mesmas dúvidas dos subscritores acerca do TGV, principalmente quanto ao seu traçado, mas não quanto á sua urgente necessidade.
Dos projectos em estudo, considero imprescindível a ligação entre Lisboa e Badajoz, como fundamental para nos aproximar da Europa que tanto apregoamos. Eventualmente a ligação entre o Porto e Vigo pode ser importante para ligar duas regiões económica e culturalmente tão próximas. Já a contrução da ligação entre Lisboa e o Porto é uma autêntica aberração, tendo em conta os reduzidos ganhos de tempo face à situação actual.
De qualquer modo, parece-me errado parar esse projecto, que devia ser pensado em rede com outras apostas no campo do transporte ferroviário em Portugal. No futuro o nível de desenvolvimento de um país vai-se medir pela qualidade e rapidez dos seus transportes públicos, principalmente o ferroviário, enquanto que os quilómetros de auto-estrada e a quantidade de automóveis em circulação será (já o é) um sinal de subdesenvolvimento.
Quanto á construção do aeroporto, não sou defensor do actual projecto, mas da hipótese Portela + 1. É urgente afastar uma grande parte do tráfego aéreo do centro de Lisboa, em nome da segurança de milhares de pessoas. Voltar atrás agora, parar os projectos, é, quanto a mim, não só criminoso e irresponsável, como um autêntico disparate.
Não deixa de ser curioso que, entre os subscritores deste “manifesto” esteja alguém que ganhou dinheiro a apresentar um projecto de viabilidade para a opção do Aeroporto de Alcochete!
O ar de virgens ofendidas com que esta gente se apresenta só pode enganar quem está de má-fé, quem ande distraído ou os incautos.
Apregoar a independência de tal gente, com uma ou outra rara excepção, é um perfeito desplante.
Quase todos eles prestaram bons serviços ao centrão, responsável máximo pela actual situação do país, e, se criticam este governo, fazem-no, com raras excepções, pela direita. Leia-se o que a maior parte dos 28 “sábios” escreveram sobre a actual ministra da educação ou sobre o ataque desferido por este governo contra os funcionários públicos e o mundo do trabalho em geral, para se perceber a ideologia que está por detrás de quase todos. Para eles, este governo só pecou por não ter ido mais longe nas “reformas”.
Agora que se perspectiva o fim da maioria absoluta do PS e o fim da arrogância “socrática”, agora que a ideologia neo-liberal que sempre defenderam está moribunda, procuram uma bóia que os salve e os mantenha á tona.
Este manifesto, usando argumentos demagogicamente simpáticos ao eleitor médio, pode ser a oportunidade para ganharem novo protagonismo (isto é, “bons negócios”).
Mas a pergunta que todos lhes devemos fazer é: que alternativas preconizam?; que tipo de investimento defendem? que alternativas para a rede de transportes nacional?; que fazer aos compromissos internacionais ?; e aos estudos elaborados por técnicos, no mínimo tão competentes como os subscritores, pagos com dinheiro dos contribuintes, sobre os temas que agora questionam?
Fico á espera de respostas.

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