Comemora-se hoje o aniversário do nascimento do poeta Allen Ginsberg, nascido em 1926 e falecido em 1997.
Expoente máximo da Beat Generation, poeta preferido de Jim Morrison e dos The Clash, com quem chegou a actuar, foi também um dos símbolos da cultura gay.
Uma faceta sua pouco conhecida foi a de fotógrafo, revelada no site que lhe é dedicado, (http://www.allenginsberg.org/) , algumas das quais divulgamos em baixo.
Entre a sua imensa obra poética, deixo-vos com “Um Supermercado na Califórnia”,um bom exemplo da ironia e da crítica social que a sua poesia sempre revelou:
UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
Expoente máximo da Beat Generation, poeta preferido de Jim Morrison e dos The Clash, com quem chegou a actuar, foi também um dos símbolos da cultura gay.
Uma faceta sua pouco conhecida foi a de fotógrafo, revelada no site que lhe é dedicado, (http://www.allenginsberg.org/) , algumas das quais divulgamos em baixo.
Entre a sua imensa obra poética, deixo-vos com “Um Supermercado na Califórnia”,um bom exemplo da ironia e da crítica social que a sua poesia sempre revelou:
UM SUPERMERCADO NA CALIFÓRNIA
Muito tenho pensado em ti nesta noite, Walt Whitman,
enquanto caminho pela calçada sob as árvores, com uma incomoda
dor de cabeça e olhando a lua cheia.
Em meu faminto cansaço, e
fazendo compras na imaginação, fui
ao supermercado de néon e frutas, sonhando com as tuas listas de
compras!
Que pêssegos e que penumbra! Famílias inteiras
nas compras da noite! Corredores cheios de maridos! Mulheres nos
abacates e bébés nos tomates! — e você, Garcia Lorca, o que estava a fazer diante dos melões?
Vi-te, Walt Whitman, sem filhos, velho comilão solitário,
apalpando as carnes do refrigerador e lançando olhares
aos jovens vendedores.
Ouvi-te perguntar a eles todos: quem matou as costeletas
de porco? qual o preço das bananas? quem é meu Anjo, tu?
Vagueei por entre as prateleiras brilhantes de latas,
seguindo-te e sendo seguido pelo detective da casa, na minha
imaginação.
Percorremos os grandes corredores, juntos em nossa solitária
fantasia, provando alcachofras, pegando todas as delícias congeladas,
sem passar pela caixa. Para onde estamos indo, Walt Whitman?
Dentro de uma hora
as portas fecham-se. Qual o caminho que a tua barba hoje aponta?
(Toco no teu livro e sonho com a nossa odisseia no super-
mercado — e sinto-me absurdo).
Iremos caminhar a noite toda por essas ruas solitárias? As
árvores acrescentam sombras às sombras, luzes apagadas nas casas,
ambos estaremos sozinhos.
Andando e sonhando com a América perdida de amor, passaremos
por automóveis azuis no estacionamento a caminho do nosso solitário refúgio?
Ah, querido pai, de barbas cinzas, velho e solitário professor de coragem,
que América te conheceu quando Caronte desistiu de empurrar o seu
barco e te desceu na margem enevoada e ficou vendo
o barco desaparecer nas negras águas do Letes?
Allen Ginsberg
(tradução brasileira, corrigida para português, de Flávio Moreira da Costa)
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