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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ray Lema - o homem e o piano


Um homem e um piano.
Um homem africano, formado no ocidente em musica clássica, tocando magistralmente e um piano, instrumento típico da musica ocidental, ganhando uma sonoridade tipicamente africana.
Foi assim ontem, no Centro Cultural de Belém, com Ray Lema, que respondeu deste modo ao desafio da “Incubadora d’Artes” para realizar um concerto de homenagem a Ali Farka Touré, musico africano falecido há três anos.
A voz profundamente africana de Ray Lema, acompanhada pela sua virtualidade como pianista, transformando e misturando o som clássico deste instrumento com o irrequieto ritmo dos sons de África, em constante e intimista diálogo com um público colaborante e rendido, fez deste espectáculo o “melhor concerto do mundo” prometido pelo músico.
Nascido no Congo, onde entrou para um seminário com 11 anos, decidido a tornar-se padre, aí descobriu o piano e a musica de Mozart, Bach e o canto gregoriano.
As sua qualidade musicais levaram-no a integrar grandes grupos e orquestras do seu país, integrando nos anos 70 um grupo de musica rock, os Yss Boys.
Abandonando esse grupo, parte para percorrer o seu país num trabalho de recolha da musica tradicional do Congo.
Em 1974 é convidado para formar e dirigir o Ballet Nacional do Zaire. Com esse objectivo percorre o país à procura de dançarinos e músicos, criando um ballet com cerca de uma centena de artistas.
Convidado pela Fundação Rockfeller, parte para os Estados Unidos em 1979, onde grava o seu primeiro disco, “Koteja”, para se instalar definitivamente em França em 1982.
Em França forma o grupo CARMA (“Central Africa Rock Machine”), com músicos de várias origens, onde mistura os ritmos da rumba, do rock, do reggae e tradicionais.
É nos anos 80 que edita um álbum em colaboração como o antigo baterista dos The Police, Stewart Copeland. Desta colaboração resultam alguns temas para a banda sonora do filme “Os Marginais” de Francis Ford Coppola.
O meu primeiro contacto com a musica de Ray Lema deriva deste mesmo trabalho, quando, nos anos 80, comprei um single em vinil com alguns dos temas desse filme.
Ao longo dos anos tenho procurado adquirir outros trabalhos de Ray Lema, tendo esbarrado sempre com a falta de informação generalizada sobre a sua obra e a sua existência.
De qualquer modo, foi esse pequeno single que me levou a ouvir com mais atenção a musica de origem africana, uma das mais originais e criativas da World Music.
Em França Ray Lema edita diversos trabalhos, em colaboração com vários músicos africanos, europeus e latino americano, explorando a fusão do Jazz como o Rock e a musica tradicional africana.
Uma das suas fases mais criativas foi a colaboração como o professor Stefanov, mestre da arte vocal búlgara, compondo um álbum como os famosos cantores das “Vozes Bulgaras”.
Em 1997 escreve uma ópera para uma orquestra de 30 músicos, inspirada na natureza africana, que foi escolhida para a abertura do Festival “Rock in Rio” em 2001.
Nos primeiros anos deste século, preocupado com a situação do ensino musical no continente africano, com a marginalização dos músicos africanos no mercado mundial, e com o desconhecimento e desinteresse dos jovens africanos pela sua musica, Ray LEMA desenvolveu um projecto com o objectivo de apoiar a transmissão dos conhecimentos dos músicos tradicionais à juventude da diáspora africana, e trazendo à Europa muitos músicos africanos..
Entretanto está previsto um novo álbum para 2010, com o seu novo grupo, o « SAKA SAKA ORCHESTRA » .
Mais informações sobre a sua obra podem ser obtidas no site oficial de Ray Lema:

http://www.raylema.com/

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