Com a morte de Eric Hobsbawm desaparece a última linhagem de
grandes historiadores universalistas e rigorosos, iniciada com Marc Bloch e
Fernand Braudel.
Ficamos a dever a Hobsbawm a mais brilhante e informada
história global da época contemporânea, iniciada com “A Era das Revoluções” e
concluída com a “Era dos Extremos”.
Na sua obra soube aliar uma visão estrutural e global das grandes tendências históricas da
nossa era, com uma preocupação pelo estudo dos particularismos culturais e
sociais, nunca esquecendo as pessoas.
Aliás, o seu percurso de vida cruzou-se com os grandes acontecimentos e controvérsias do século XX, sendo um observador activo e interventivo do seu tempo.
Apesar de ser um marxista assumido, comunista que evoluiu
para a tendência eurocomunista, revelou sempre um distanciamento e uma
objectividade e até um poder critico e autocritico em relação à sua ideologia e
à sua história de vida, pouco habitual no meio historiográfico dito "liberal", principalmente
entre os seus detractores, como, por exemplo, Tony Judt,
um historiador tendencioso, mas muito apreciado em Portugal, que chegou a
caluniar Hobsbawm.
Nas suas quatro obras mais conhecidas e mais divulgadas,
Hobsbawm resumiu de forma clara as
grandes tendências em que se pode subdividir a chamada época contemporânea, a
“Era das revoluções”, entre 1789 e 1848, marcada pela afirmação dos
nacionalismos, a “Era do Capital”, entre 1848 e 1875, marcada pelo
desenvolvimento da segunda revolução industrial , a “Era do Império”, entre
1875 e 1914, marcada pelo colonialismo e pela afirmação dos grandes impérios
europeus, e a “Era dos Extremos”, entre 1914 e 1991, marcada pela afirmação dos
grandes conflitos militares e pela afirmação dos totalitarismos, culminando com
o fim do modelo soviético, período que também foi por si baptizado como o
“curto século XX”.
Perante o deserto da historiografia contemporânea, a
frescura e inovação da sua obra continuará a perdurar muito tempo, como uma
leitura fundamental para compreendermos a nossa época.
Pela minha parte, irei homenageá-lo relendo as suas obras
que li e procurando ler as que ainda não li, obras sempre motivantes para quem gosta de História.
Deixo-vos com duas interessantes entrevistas com Eric Hobsbawm, seprada por mais de vinte anos:
...e aquela que foi uma das suas últimas entrevistas dada ao The Guardian em Janeiro deste ano, e que pode ser lida AQUI.
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