"Agonia
por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
"A desesperada viagem do primeiro-ministro a Berlim, revelando que, afinal, a construção europeia estagnou num repulsivo Directório, é apenas uma metáfora da enorme provação em que o País se instalou. Como num pesadelo experimentado ao mesmo tempo por dez milhões e meio de almas tolhidas, todos percebemos que ainda não batemos no fundo, e que o pior parece estar sempre à espreita no porvir.
"A oposição, a começar pelo PSD, bem gostaria que o problema residisse apenas neste primeiro- -ministro. Quando Passos Coelho for empurrado para o governo, como para um altar de sacrifício, logo se verá que o actual chefe do Executivo não está sozinho no seu estilo de fazer política com teleponto e agências de comunicação. Todos dirão que o homem, afinal, não tinha estatura para o cargo, mas não faltarão na nova corte aqueles que acreditam, com a sobranceria própria da ignorância, que a governação no mundo perigosamente complexo do século XXI se pode fazer sem estudo metódico, sem sabedoria estratégica, sem uma ética de rigor, de serviço público, e honra pessoal. Por nossa culpa, e para nossa infelicidade, este primeiro-ministro é apenas o rosto mais visível da vaga multipartidária de aventureiros, arrimados a estadistas, que nos enche os telejornais de trivialidades.
"Num país que deixou de controlar, minimamente, o seu destino, que é o elo mais fraco duma União Europeia temente do futuro, quem se poderá escandalizar por, no próximo dia 12 de Março, irmos assistir à primeira manifestação que se propõe "a demissão de toda a classe política", transformando o niilismo numa espécie de programa político?"
in Diário de Notícias, 10 Março 2011
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