“Complexo - Universo Paralelo” é um documentário sobre a célebre favela do “Complexo do Alemão”, uma das mais perigosas do Brasil e onde vivem cerca de 300 mil pessoas.
Os autores deste documentário, Mário e Pedro Patrocínio, viveram durante meses nessa favela, ganhando assim a confiança dos seus habitantes para poderem filmar quase todos os recantos da favela e seguirem a vida de alguns deles.
Sem os paternalismos a que nos habituamos a ver em muitas reportagens sobre os “pobres” da sociedade, a forma como se conta a história da vida das pessoas revela, pelo contrário, um grande carinho e um grande respeito por elas.
Quatro personagens se destacam na narrativa do filme:
A Dona Célia, mãe de oito filhos e com um marido alcoólico, que luta todos os dias por manter alguma dignidade na sua “barraca”, recolhendo ferro-velho para ter dinheiro para a comida e que se refugia na religião para ganhar forças para cada dia que passa;
O rapper McPlayboy que canta a vida dos habitantes da favela que ele tão bem conhece e que foi o responsável pelo interesse que os dois portugueses tiveram por este projecto, já que foi através de um documentário sobre esse músico que eles ficaram a conhecer melhor a realidade do “Complexo”;
O “Seu Zé” líder da Associação de Moradores do “Complexo do Alemão”, que todos os dias calcorreia a favela para tentar, com entusiasmo e determinação, resolver os problemas que surgem todos os dias e que desconfia dos políticos que por ali aparecem em época eleitoral, com promessas vãs;
Por último um grupo de jovens traficantes, anónimos, que mostram o lado negro do bairro e que explicam a razão de terem optado por essa vida de crime. Ficamos a saber no final do filme que todos eles estão mortos e um desaparecido.
A reportagem foi realizada em 2007, muito antes daquela favela se ter tornado mundialmente famosa pela mega-operação policial de Novembro último.
Um documentário destes já valia só pelo tema ou por dar voz às pessoas, mas os seus autores acrescentam-lhe um cuidado estético de grande qualidade, quer na forma como filmam e montam as cenas, quer na excelente fotografia. A beleza estética do filme até se arrisca a que encontremos beleza no que é horrendo.
Estamos perante um grande filme, feito com paixão e muito respeito pelos seus personagens.
É obrigatório ver.
Podem consultar AQUI o site oficial do filme.
(o documentário está em exibição em Torres Vedras, no Shoping Arenas, até ao próximo Sábado, com uma sessão diária, sempre às 19 horas).
(Uma nota à parte: soube recentemente que os dois jovens irmãos são filhos de um meu amigo de juventude e escola, que não vejo há alguns anos, e que têm família aqui em Torres Vedras).
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