Annie Lennox e Julia Ormond, dois dos rostos da denuncia.
Em cada três segundo morre uma criança no mundo.
Este alto índice de mortalidade infantil deve-se, em 90% dos caos, a doenças como a SIDA, a malária, a diarreia ou o sarampo, que encontram um forte aliado na má nutrição, na falta de água potável e, sobretudo, na falta de acesso a cuidados de saúde.
Estes dados contam de um relatório da ONG “Save the Children”, apresentado esta semana, dia 30 de Setembro, aos meios de comunicação, por ocasião do anúncio dos galardoados na 4ª edição de “Amigos das Crianças”, atribuído anualmente em reconhecimento do trabalho solidário realizado por gente do mundo das artes e dos espectáculo.
Na companhia de dois dos galardoados, a cantora Annie Lennox e a actriz Julia Ormond, foi igualmente anunciada a nova campanha dessa ONG, baptizada “Todos contamos para salvar vidas”, que vai começar a partir de 5 de Outubro.
Para além da actriz britânica Julia Ormond e da cantora escocesas Annie Lennox, foram ainda galardoados este ano o autor uruguaio Eduardo Galeano, a actriz tunisina Claudia Cardinale e a soprano norte-americas Bárbara Hendricks.
Ao receber o galardão, Annie Lennox afirmou que estes prémios “podem ser ferramentas muito úteis para se poder levantar a voz” na denuncia desta situação, sugerindo que a comunicação social deve anunciar em destaque os problemas que “afectam as crianças”, em vez de remeterem essas notícias para as páginas interiores, rematando com a afirmação de que não se trata de caridade, mas “sim dos direitos das crianças”.
Por sua vez Júlia Ormond, apelando a uma maior colaboração entre ONG’s diferentes, denunciou o facto de “10% da Economia mundial “ ter origem na lavagem de dinheiro, sendo que a venda de crianças faz parte dessa percentagem, acrescentando que “hoje em dia a escravatura” infantil é um facto, concluindo que “os governos deviam investir menos em tanques e armamento, para poder dar mais dinheiro para as crianças”.
Segundo o relatório apresentado, 97% das mortes infantis ocorrem em 68 países, das quais 50% se concentram em 6 países: Índia, Nigéria, Republica Democrática do Congo, Etiópia, Paquistão e China, sendo a Índia, cujo “modelo emergente” é tão gabado por economistas e comentadores, o pior de todos eles. Proporcionalmente ao número de nascimentos, o Afeganistão é o que apresenta resultados mais dramáticos, pois uma em cada cinco crianças que nascem morre antes dos cinco anos.
O continente Africano é responsável por 50% dessas mortes, enquanto a Ásia contribui com 3,8 milhóes.
Teme-se que a situação de crise mundial em que se vive agrave em 400 mil o número de crianças mortas anualmente.
Recorde-se que, no ano 2000, foi estabelecido, no acordo Objectivos do Milénio a redução para um terço, até 2015, da mortalidade dos menores de cinco anos. Esse objectivo parece fortemente comprometido perante a actual conjuntura económica, embora ainda esteja ao alcance da humanidade. Este ano prevê-se que morram 9 milhões e meio de crianças quando, para conseguir aqueles objectivos, não deviam morrer mais de 5 milhões.
Para inverter a situação será necessário melhorar a nutrição das crianças e das suas mães, incrementar planos nacionais credíveis, focalizar a atenção nos recém-nascidos, mobilizar recursos e melhorara as condições sanitárias.
Enfatiza aquela ONG que “todas as crianças têm direito a sobreviver”, insistindo para isso na necessidade de levar a efeito uma autêntica “revolução para a sobrevivência infantil”.
Notícias como esta, que não mereceram uma linha, uma palavra ou uma imagem na comunicação social portuguesa, fazem-nos ter vergonha das querelas políticas internas, que tanto animam os debates, as declarações e a escrita de comentadores e políticos.
(Fonte: reportagem de Victor Martinez para a edição on-line do El Mundo, de 30 de Setembro de 2009)
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