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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Competitividade" versus "Desenvolvimento" ?





Acabam de ser publicados os primeiros dados do Relatório Anual sobre Desenvolvimento Humano, elaborado pela ONU.

Aqui há alguns meses saia um relatório, elaborado pelo Fórum Económico Mundial, o chamado Fórum de Davos, que classificava os países de acordo com a sua “competitividade”.

Não deixa de ser curiosa a comparação entre os dados daqueles dois relatórios.

Apesar de elaborados com base em datas diferentes, o da ONU remete-nos para dados de 2007 e o de Davos para dados de 2009 (?), e com uma base estatística diferente, o primeiro tem uma base de 182 países e o segundo com uma base de 133 países, a forma de elaboração desses índices revelam duas maneiras de ver o mundo, que são no fundo os dois modelos actualmente em confronto.

Para a classificação do índice de competitividade, foram utilizados dados oficiais, filtrados por uns milhares de inquéritos feitos a “decisores económicos”, que tomam em linha de conta 110 indicadores, nos quais tem um grande peso a visão dos “empresários”.

Se os custos de despedimento são elevados, isso é “mau” para a classificação nesse índice. O mesmo se passa se os termos de contratação do trabalhador foram desfavoráveis para os patrões, se existirem condições na fixação de um horário de trabalho, se as condições sociais forem demasiado vantajosas para quem trabalha ou se os impostos sobre o capital forem “altos”. Numa palavra, quanto piores as condições sociais (ou humanas) e do factor trabalho, tanto melhor a classificação nesse índice.

Claro que pesam outros factores, alguns tão do agrado dos economistas monetaristas, como o deficit ou a dívida pública. As infra-estruturas, o nível tecnológico e qualidade do sistema de ensino superior contam igualmente para esse índice, o que permite que muitos países de facto desenvolvidos apareçam, apesar de tudo, bem classificados nessa lista.

Por sua vez, para a classificação da ONU pesam o PIB per capita, a Alfabetização e a escolarização, bem como a esperança média de vida.

É curioso observar que, no “top ten” do Desenvolvimento Humano, apenas aparecem 4 países do “top ten” da Competitividade, e destes só dois aparecem melhor classificados: o Canadá, 9º na “competitividade” e 4º no “desenvolvimento” e a Holanda, respectivamente 10º e 6º.

Os cinco primeiros da tabela da “competitividade” descem todos na tabela do “desenvolvimento”: A Suiça, que ocupa o primeiro lugar no primeiro caso, desce para o 9º lugar; Os Estados Unidos passam de 2º para o 13º lugar; Singapura (!!), de terceiro para…23º; a Suécia de 4º para 7º e a Dinamarca de 5º para 16º.

Claro que alguns países se mantém bem classificados em ambos os índices, revelando um bom equilíbrio entre as condições económicas e as condições sociais.

Contudo, se começarmos a ver em pormenor aqueles dois índices, é curioso notara a boa classificação para a competitividade de países como… a Malásia (24 º na competitividade, 66º no desenvolvimento), a China (29º no primeiro… 92º no segundo), o Chile, (em 30º lugar no primeiro, em 44º no segundo), a Tailândia (respectivamente 36ª(!!!) e… 87ª) a Tunísia (40º e…98º), a África do Sul (45º e… 129º), a Índia (49º e… 134) e a Jordânia (50º e …. 96º).

Portugal, ocupando o 43º lugar no índice de “competitividade”, “atrás”(!!!!) de países como a Malásia, a China, o Chile, a Tailândia, ou a Tunísia, pouco distante da África do Sul, da Índia ou da Jordânia, está, felizmente, e como lhe compete, entre o grupo de países de “desenvolvimento muito elevado”, na 34ª posição, embora tenha descido nos últimos anos neste segundo índice (ao mesmo tempo que vai subindo no primeiro….!!!), estando próximo da “descida de divisão”.

Se no primeiro índice a preocupação é meramente economicista, valorizando políticas neo-liberais, o segundo vai ao encontro de uma preocupação mais humanista, valorizando o real desenvolvimento humano.

Infelizmente muitos comentadores e economistas esquecem-se que a economia deve estar essencialmente virada para um verdadeiro equilíbrio entre as mais elementares necessidades humanas , combatendo as desigualdades e contribuindo para a verdadeira felicidade humana.

Daí a importância que eles deram à divulgação do relatório de Davos em detrimento do relatório da ONU.

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