Aí estão eles de volta, os rankings das escolas.
Muita tinta e saliva vão gastar-se nos próximos dias para comentar, com ares pseudo-científicos , os seus resultados.
Mas, na realidade, o que é que medem esses rankings?. Segundo os seus autores, classificam as “melhores” e as “piores” escolas, de acordo com os resultados dos exames.
Os critérios variam de autor para autor e de órgão de comunicação para órgão de comunicação.
O número de disciplinas a ter em conta e o número de provas a considerar, varia ao sabor dos tais critérios “científicos”.
O resultado é sempre o mesmo: as privadas e as urbanas obtêm sempre os melhores resultados.
Porque será?
As privadas seleccionam os alunos que propõem a exame, vão “correndo” para o público com aqueles alunos que, ao longo dos ciclos, lhes dão problemas, garantindo sempre um melhor resultado.
As privadas garantem melhor qualidade, com menos alunos, estão mais bem apetrechadas, dão mais autoridade e consideração aos professores, responsabilizam aos encarregados de educação, garantem uma equipa motivada e estável.
As privadas abrigam os filhos dos quadros superiores, com um ambiente cultural na família muito superior à média nacional.
Assim é fácil obter bons resultados.
Mas o que é isso de um bom resultado? Segundo esses ranking é ter notas altas.
Mas será isso um bom resultado?
Em muitas escolas (geralmente públicas), localizadas em zonas problemáticas, com alunos problemáticos, um grande resultado é conseguir “agarrar” um aluno até ao fim de um ciclo de ensino. A nota no exame é o que menos interessa.
Para isso é preciso muito trabalho, muitas dores de cabeça, muita insistência junto de famílias problemáticas, por vezes muito risco físico. No final esta escola fica na cauda do ranking, mas os seus professores e funcionários trabalharam muito mais e tiveram que por à prova muitas competências que duvido que sejam inferiores às dos profissionais das privadas bem classificadas ou de algumas públicas socialmente melhor localizadas.
O que seria curioso era comparar o número de alunos que se inscrevem no início de um ciclo e os que chegam ao fim, era comparar a origem cultural e social dos alunos que frequentam as escolas, no público e no privado e analisar os resultados com base nessa observação.
Os resultados seriam provavelmente surpreendentes. Mas esse estudo, além de trabalhoso e realmente científico, já não convém, seria politicamente inconveniente, punha em causa muito do discurso neo-liberal, quer de certa comunicação social, quer da gente que ainda vive no Ministério da Educação agarrado às estatísticas.
O “ranking” é assim uma grande falácia, apenas contribui para justificar medidas neo-liberais no ensino, para culpabilizar os professores do ensino público e para justificar toda a campanha e medidas de que estes têm sido vítimas .
O “ranking” é transformar uma coisa complexa e séria, como é o ensino, numa espécie de campeonato de futebol . É a “futebolização” do ensino com os resultados que estão à vista.
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