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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Face Oculta"



Tenho por hábito desconfiar sempre daqueles que “começaram por baixo” e rapidamente chegam a cargos e funções de topo.

Não nego que existe muito boa gente que “começa por baixo” e, mercê do seu talento, do seu esforço, do seu estudo e do seu trabalho consegue, de forma honesta, “subir na vida”.
Contudo, estes últimos, geralmente, mantêm-se humildes, lidam humanamente com os seus subordinados, procuram ajudar o seu semelhante e, principalmente, não ostentam o seu poder e a sua riqueza, não procuram esconder as suas origens, e lidam de forma legal e honesta com a sociedade. Além disso o tempo da “subida” é uma vida inteira e não meia dúzia de anos.
Os tais que “começaram por baixo” e dos quais eu desconfio, correspondem ao perfil que hoje é descrito no “Público” sobre alguns dos arguidos no caso “Face Oculta”.
Estão lá as duas faces da mesma moeda:

o “empresário” que compra favores a políticos e a altos funcionários de Estado, começando por pequenos favores aqui e ali, ajudando instituições de caridade ou pessoas carenciadas, como forma de limpar consciências e ganhar apoios sociais, que contribui para colocar “amigos” em cargos políticos onde pode obter vantagens financeiras ou informações de valor acrescentado;

o “político” que se faz encostado a uma rede de clientela política, que faz favores em troca de uma “carreira de sucesso” em empresas pública, ocupando “cargos de nomeação política”, transferindo-se para o sector privado, geralmente para empresas que beneficiaram dos seus favores quando ocupava cargos políticos. Eça de Queirós já havia retratado essa gente no século XIX: está lá tudo no “Conde de Abranhos”.

Alguém se interrogava, procurando “limpar” a imagem desse político, como é que alguém se sujava por “10 mil euros, quando ganha cerca de 500 mil euros”. Não lhe ocorreu que este terá sido o único montante que a Polícia Judiciária conseguiu provar e de que , quem aceita uma vez 10 mil euros em troca de favores, já os terá aceite, com estes ou outros valores, muitas outras vezes, só que nada se consegue provar. Al Capone não foi preso pela negócios ilegais ou pelas mortes em que se envolveu, mas apenas por um descuido fiscal.
Se a PJ conseguiu provar aquele negócio de 10 mil euros, já conseguiu ir muito longe.
Aliás, parece ser este tipo de relação entre os “empresários” e o poder político que o representante dos patrões defende, como se depreende das afirmações ontem proferidas numa conferência pouco divulgada, mas reveladas na Antena 1, onde considerou que a compra de favores, a corrupção e fuga ao fisco e às leis, eram uma boa forma de obter vantagens económico-financeiras nos mercados da União Europeia (disse-o por outras palavras, mas o sentido era este).
Por último é sabido qual o destino desta investigação: por qualquer “erro processual”, por “prescrição dos crimes”, pela dificuldade em obter provas, pelo emaranhado do nosso sistema legal, todos os arguidos do caso vão-se sair airosamente, provavelmente no papel de vítimas, recebendo ainda alguma indemnização por “danos morais”.
Quanto muito talvez se condene simbolicamente um funcionário de segunda linha que aceitou uma almoçarada em troca de um pequeno favor, mas não tem o poder dos restantes para contratar bons advogados.
É esta a Justiça que temos …Diria mesmo mais… é este o país que temos .

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais um caso que se irá arrastar,certamente, pelos tribunais pelos jornais e televisões por longo tempo até ficar esquecido, pelo surgimento de novo caso, e sem conclusão.
Triste país...
Fernando Sarzedas