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segunda-feira, 4 de maio de 2009

Até sempre Vasco Granja!



Faleceu esta madrugada, com 83 anos, Vasco Granja.
Foi um dos maiores divulgadores de Banda Desenhada em Portugal, ficando aliás a dever-se a ele esta designação para as tradicionais “Histórias aos Quadradinhos”.
Na RTP teve igualmente um papel importante na divulgação do cinema de animação.
É principalmente da sua actividade na edição portuguesa da revista “Tintin” que mais me recordo dele.
As notícias, que aí publicava sobre a edição de fanzines de BD, levou-me, a mim e a um grupo de amigos, a lançar um dos pioneiros desse tipo de publicações em Portugal, o “Impulso”, no início da década de 70.
Foi aliás ao “Impulso” que Vasco Granja concedeu, uma das suas primeiras entrevistas, editada no nº 4 desse fanzine, em Julho de 1973.
Foi autor dessa entrevista pioneira o José Eduardo Miranda Santos (o “Zico”), um dos elementos permanentes do “Impulso”.
Nela ficamos a conhecer algumas das opiniões daquele divulgador sobre o que na época se passava em Portugal, a nível da BD, mas também sobre o então inovador movimento de fanzines.
Por causa dessa entrevista fomos criticados e ridicularizados na revista “Aleph”, porque Vasco Granja era então identificado, pela extrema-esquerda que dominava aquele fanzine, como representante do “establishment”. O caricaturista que nos desenhou, a nós a equipa do Impulso, como os pintainhos à volta da “galinha”, Vasco Granja, tornou-se mais tarde meu amigo, quando veio viver para Torres Vedras, colaborando comigo num outro projecto de BD, o fanzine “BêDêzine”, em 1986.
Sobre o “Impulso” disse Vasco Granja:
“(…) é um fanzine que está a abrir caminho. É uma realização de gente nova, inexperiente mas que está a marcar um lugar e não há nada como a experiência. O tempo passa e nós vamos ganhando uma certa experiência. É o que me parece que vai acontecer com o “Impulso”. De modo que estes primeiros números parecem-me um bocadinho incipientes, mas estou absolutamente convencido que com o tempo vencer-se-ão estas dificuldades iniciais”.
Um homem sincero e bondoso, a quem eu fico a dever o gosto e o interesse que sempre nutri pela BD e que me ensinou a lê-la como uma arte séria e criativa, uma das mais marcantes do século XX.
Até sempre, Vasco Granja.


4 comentários:

lena b disse...

Vi muitas vezes o programa "Animação"...

O que nos consola é que pessoas assim nunca morrem. De alguma forma ficam por cá a pairar na nossa memória.

Helena B.

Margarida Azevedo disse...

Quem - de determinadas gerações - não se lembra de Vasco Granja!

Relembro com saudade, admiração. Grande senhor. Um esteta!

Cordialmente e obrigada por poder despedir-me de um companheiro 'pré-virtualidades' da minha infância ...

Joaquim Moedas Duarte disse...

Bela evocação, Venerando!
Recordaste factos esquecidos que já fazem parte da história cultural do nosso burgo.

Claro que fiz uma ligação para aqui, lá no meu canto...

Abraço!

CS disse...

Segundo Victor Dias em "o tempo das cerejas" e ele sabe do que fala o Vasco Granja era "membro do PCP desde o início dos anos 50"
Meio século de militância é obra!