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sexta-feira, 29 de maio de 2009

A Razão dos Professores - uma sondagem animadora

Em vésperas de mais uma manifestação de professores, contra as políticas educativas deste governo, foi sem dúvida muito gratificante conhecer os resultados obtidos pela sondagem da revista “Visão”, sobre aquilo que os portugueses pensam do nosso sistema de ensino e dos seus professores.
Esta sondagem veio revelar aquilo que já se conhecia de outros inquéritos, a confiança e o prestígio de que gozam os profissionais da educação.
Este é um resultado, tanto mais significativo, quanto toda a classe profissional dos professores tem sido alvo de uma violenta campanha para denegrir a sua imagem, dirigida a partir da “5 de Outubro”, com eco em jornais de referência, como o “Expresso”, apoiada por comentadores e economistas.
Uma campanha baseada na manipulação de estatísticas, como os célebres relatórios “à OCDE”, em meias verdades e generalizações abusivas, resumidas em duas frases assassinas, uma da autoria da Sr.ª Ministra da Educação, ao afirmar que “tinha perdido os professores mas tinha ganho a opinião pública.
Juntando-se ao coro de imbecilidades que temos sido obrigados a engolir, é bom que os professores não se esqueçam das crónicas de Vital Moreira, argumentando contra os “interesses corporativos dos professores”, alinhando de modo totalmente acrítico e oportunista ao lado das políticas educativas deste governo.
Mas o inquérito em causa é rico em dados que questionam alguma da argumentação usada contra a luta dos professores.
Em termos gerais, o estado da educação em Portugal é considerado menos negro do que aquilo que por vezes se pretende transmitir à opinião pública, para justificar as políticas educativas.
Mas, se a Educação não cumpre integralmente o que se espera dela, a maior parte dos inquiridos, aponta a responsabilidade, e por esta ordem, aos governantes e ao Ministério da Educação (56,6%) e aos alunos (48,4%).
Pelo contrário são ilibados dessa responsabilidade, e por ordem inversa, os sindicatos (que não têm qualquer responsabilidade pela situação para 51,5%), os pais e as suas associações (para 64,7%), sendo os professores, aqueles a quem os inquiridos menos responsabilizam pela situação (66, 7%).
Tudo isto vai à revelia do discurso oficial e dos seus porta-vozes na comunicação social.
Quando se pergunta aos inquiridos quais são os três aspectos que mais têm contribuído para a menor qualidade da Educação em Portugal, os inquiridos indicam, em primeiro lugar, os alunos que não querem estudar (40,2%), em segundo, as desigualdade sociais (30,7%), e, em terceiro, a insegurança na escola (26,7%). Tudo aspectos que se agravaram com a imagem pública de um primeiro-ministro que transmite uma imagem de “Chico- espertice” como modo para vencer na vida e na política, com as medidas anti-sociais deste governo, agravando as desigualdades sociais e aumentando o desemprego, nomeadamente entre os licenciados, ou com atitudes de desrespeito para como os profissionais do ensino que promovem a insegurança nas escolas.
Outra ideia feita, passada por muitos comentadores, segundo a qual o ensino de outros tempos era melhor que o actual, é igualmente abalada pelos resultados deste inquérito, pois a maioria considera que, no ensino de hoje, a actualização das matérias e dos programas (para 39,4%, contra 19,4%), a qualidade e a preparação dos professores (39,4% contra 20,4%), a forma e métodos de ensinar (40,7% contra 23,5%) e o equipamento escolar e condições de trabalho (60,6%, contra 14,8%) são melhores que a situação há vinte ou trinta anos atrás.
Os únicos aspectos considerados hoje piores são a “intensidade do estudo dos alunos” (para 40,1%, contra 27%) e a disciplina dos alunos (63,7% contra 13,9%).
É ainda significativo que, quando se questionam os inquiridos sobre as vantagens de se estudar mais, prevalecem as razões económicas (melhor salário, estabilidade e realização profissional ) sobre as razões culturais (respeito social, apoio aos filhos e maior cultura e respeito).
Das medidas governamentais, apenas o aumento da escolaridade obrigatória merece o apoio da maior parte dos inquiridos, uma medida popular e que é defendida por muita gente, estando para lá das divergências políticas em relação a este governo, e apoiada pelos professores.
Pelo contrário, pela negativa, a destruição do ensino público que parece estar na origem de muitas das medidas deste governo e do ataque aos professores, encontrou eco entre a maioria dos inquiridos que consideram as escolas secundárias privadas (para 34,7%) melhores que as públicas (25, 2%).
Mais do que nunca, os resultados deste inquérito, na sua generalidade, dão peso à justa luta dos professores.
(Fonte: "Visão" de 28 de Maio de 2009)

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Muito bem, Venerando!
Já deixei link para aqui no meu "Rodar".

Continuo atento ao que escreves.

Abraço!