Comemora-se hoje o Dia Internacional dos Museus.
Em Torres Vedras as comemorações iniciaram-se no passado Sábado, dia 16, com um colóquio intitulado “A Guerra Peninsular nos Livros escolares e na nossa memória”.
O debate foi moderado por Ana Miguel, tendo participado Mónica Green, de origem inglesa, e Stephanie de Jesus, de origem francesa, ambas professoras em Torres Vedras, bem como Alicia Laspra, espanhola, professora da Universidade de Oviedo, em Torres Vedras para participar na 12ª edição dos encontros Turres Veteras, e eu próprio, nascido em Torres Vedras, professor.
O objectivo era confrontar pessoas, com origem nos quatros países envolvidos na Guerra Peninsular, para falarem, não só na forma como lhes chegou a memória desses acontecimentos, mas também na forma como esse acontecimento é transmitido no sistema de ensino.
Coube-me a mim falar da situação portuguesa, e é com base nos tópicos que recolhi para a minha comunicação que alinhavei as seguintes linhas:
Comecei por fazer um breve levantamento dos programas oficiais de História, divulgados no site do Ministério da Educação, para perceber como se aborda o tema das Invasões Francesas nos programas de ensino.
Assim, no programa do 1º ciclo não existe qualquer referência explicita em relação a esse acontecimento histórico, mas insiste-se na abordagem de temas de História Local, pelo que depende da memória histórica de cada lugar ou do interesse do professor, a hipótese de se abordar esse tema.
Já no 2º ciclo, a referência no programa de História às Invasões Francesas surge de forma explicita e elaborada, integrada no subtema “1820 e o Triunfo dos liberais”. Sugere-se “uma breve referência” ao Bloqueio Continental, relacionando-o com a 1ª Invasão e com a fuga da Corte para o Brasil.
De “forma sucinta” propõe-se ainda a abordagem à resistência contra o invasor, à identificação de algumas batalhas, e ao papel do exército inglês.
Como actividade sugere-se ainda o registo, num mapa, dos itinerários das três invasões francesas.
Tudo isto, com ligação à expansão do liberalismo, o tema principal, e sempre com um tempo muito limitado para abordar o assunto.
Infelizmente, nos restantes ciclos, o tema merece ainda menos atenção.
No programa do 3º ciclo, no tema “O Triunfo das Revoluções Liberais”, apenas se sugere a “análise de mapas que permitam localizar (…) as invasões francesas em Portugal” e “a recolha de testemunhos da tradição popular e da toponímia sobre as invasões francesas”, embora os temas principais a estudar neste capítulo sejam a Revolução Francesa e a Revolução Liberal Portuguesa .
Chegados ao ensino secundário, desaparece, pura e simplesmente, qualquer referência explicita à Guerra Peninsular. No “Módulo 5”, intitulado “O Liberalismo – Ideologia e Revolução, Modelos e Práticas nos Séculos XVIII e XIX”, apenas com alguma boa vontade se poderá encaixar uma referência ao tema no subcapítulo “A implantação do liberalismo em Portugal”, quando se sugere, como conteúdo de abertura, o tema “Antecedentes e Conjuntura (1807 a 1820)”.
Se juntar a esses dados oficiais do ensino de história, a minha experiência como aluno e como docente de História há quase trinta anos, o tema das invasões francesas não tem merecido, nos programas de História, a atenção que justificaria.
Embora de forma empírica, pus-me a pensar nas razões pelas quais os vários regimes político-ideológicos portugueses, destes dois últimos séculos, sentiram algum incómodo na abordagem desse tema.
O Liberalismo, ao identificar-se com o ideário da revolução francesa, terá sentido o incómodo de recordar um episódio no qual muitos dos liberais históricos passaram por “traidores” à “nação”. Incómodo era-lhes também esse tema, pela figura de Beresford, contra a qual se tinham batido os liberais portugueses.
Para a regeneração, por causa do conflito com os ingleses, em relação à partilha africana, não conviria recordar o seu papel na “libertação” do país das tropas napoleónicas.
Aos Republicanos, que se expandiram desde 1891 graças à contestação contra a cedência da monarquia aos ingleses na questão africana, enaltecer os ingleses naquele episódio histórico também não seria muito do seu agrado. Apesar de combaterem ao lado destes na Primeira Guerra, eram igualmente aliados dos antigos inimigos, os franceses, cujo território defenderam militarmente.
O Estado Novo, apesar de enaltecer o “nacionalismo” patente naquele episódio da nossa história, não veria com muitos bons olhos o carácter popular de resistência aos invasores, muito pouco de acordo com a ideário de “ordem” e “autoridade” que defendia.
Por último, a democracia, da qual se esperava uma atitude educativa mais preocupada com o esclarecimento da verdade, pelo contrário, como se vê pelas orientações programáticas acima referidas, parece procurar igualmente escamotear a importância do tema, numa atitude “politicamente correcta” de tentar fazer esquecer as velhas divergência com as Nações Europeias, tentando agradar aos nossos parceiros na União Europeia.
Em oposição à ambiguidade do ensino formal na abordagem do tema, tem sido a tradição oral e a memória popular a manter viva a importância histórica desse acontecimento, situação muito mais evidente aqui em Torres Vedras, onde tudo se conjuga para valorizar essa memória.
Pessoalmente, a minha memória sobre a importância desse tema sempre foi cultivada pela existência de um obelisco comemorativo no “centro” da então vila, pelo impacto da dimensão dominante do Forte de S. Vicente, pelo destaque às Piscinas e às “Águas do Vimeiro”, pertencentes à localidade da Maceira, no concelho de Torres Vedras, mas assim designadas por razões de marketing comercial, devido à proximidade geográfica com um lugar vizinho, pertencente a outro concelho, mas internacionalmente conhecido, o Vimeiro.
Ainda criança, tendo nascido com a televisão, era ainda com orgulho que ouvíamos referência ao local dos seus primeiros estúdios, localizados na “Alameda das Linhas de Torres”.
Comemorando-se agora o duplo centenário desse acontecimento, talvez fosse tempo de abandonar complexos e, de uma vez por todas, o tema ser integrado nos programas de história com o destaque devido.
Em Torres Vedras as comemorações iniciaram-se no passado Sábado, dia 16, com um colóquio intitulado “A Guerra Peninsular nos Livros escolares e na nossa memória”.
O debate foi moderado por Ana Miguel, tendo participado Mónica Green, de origem inglesa, e Stephanie de Jesus, de origem francesa, ambas professoras em Torres Vedras, bem como Alicia Laspra, espanhola, professora da Universidade de Oviedo, em Torres Vedras para participar na 12ª edição dos encontros Turres Veteras, e eu próprio, nascido em Torres Vedras, professor.
O objectivo era confrontar pessoas, com origem nos quatros países envolvidos na Guerra Peninsular, para falarem, não só na forma como lhes chegou a memória desses acontecimentos, mas também na forma como esse acontecimento é transmitido no sistema de ensino.
Coube-me a mim falar da situação portuguesa, e é com base nos tópicos que recolhi para a minha comunicação que alinhavei as seguintes linhas:
Comecei por fazer um breve levantamento dos programas oficiais de História, divulgados no site do Ministério da Educação, para perceber como se aborda o tema das Invasões Francesas nos programas de ensino.
Assim, no programa do 1º ciclo não existe qualquer referência explicita em relação a esse acontecimento histórico, mas insiste-se na abordagem de temas de História Local, pelo que depende da memória histórica de cada lugar ou do interesse do professor, a hipótese de se abordar esse tema.
Já no 2º ciclo, a referência no programa de História às Invasões Francesas surge de forma explicita e elaborada, integrada no subtema “1820 e o Triunfo dos liberais”. Sugere-se “uma breve referência” ao Bloqueio Continental, relacionando-o com a 1ª Invasão e com a fuga da Corte para o Brasil.
De “forma sucinta” propõe-se ainda a abordagem à resistência contra o invasor, à identificação de algumas batalhas, e ao papel do exército inglês.
Como actividade sugere-se ainda o registo, num mapa, dos itinerários das três invasões francesas.
Tudo isto, com ligação à expansão do liberalismo, o tema principal, e sempre com um tempo muito limitado para abordar o assunto.
Infelizmente, nos restantes ciclos, o tema merece ainda menos atenção.
No programa do 3º ciclo, no tema “O Triunfo das Revoluções Liberais”, apenas se sugere a “análise de mapas que permitam localizar (…) as invasões francesas em Portugal” e “a recolha de testemunhos da tradição popular e da toponímia sobre as invasões francesas”, embora os temas principais a estudar neste capítulo sejam a Revolução Francesa e a Revolução Liberal Portuguesa .
Chegados ao ensino secundário, desaparece, pura e simplesmente, qualquer referência explicita à Guerra Peninsular. No “Módulo 5”, intitulado “O Liberalismo – Ideologia e Revolução, Modelos e Práticas nos Séculos XVIII e XIX”, apenas com alguma boa vontade se poderá encaixar uma referência ao tema no subcapítulo “A implantação do liberalismo em Portugal”, quando se sugere, como conteúdo de abertura, o tema “Antecedentes e Conjuntura (1807 a 1820)”.
Se juntar a esses dados oficiais do ensino de história, a minha experiência como aluno e como docente de História há quase trinta anos, o tema das invasões francesas não tem merecido, nos programas de História, a atenção que justificaria.
Embora de forma empírica, pus-me a pensar nas razões pelas quais os vários regimes político-ideológicos portugueses, destes dois últimos séculos, sentiram algum incómodo na abordagem desse tema.
O Liberalismo, ao identificar-se com o ideário da revolução francesa, terá sentido o incómodo de recordar um episódio no qual muitos dos liberais históricos passaram por “traidores” à “nação”. Incómodo era-lhes também esse tema, pela figura de Beresford, contra a qual se tinham batido os liberais portugueses.
Para a regeneração, por causa do conflito com os ingleses, em relação à partilha africana, não conviria recordar o seu papel na “libertação” do país das tropas napoleónicas.
Aos Republicanos, que se expandiram desde 1891 graças à contestação contra a cedência da monarquia aos ingleses na questão africana, enaltecer os ingleses naquele episódio histórico também não seria muito do seu agrado. Apesar de combaterem ao lado destes na Primeira Guerra, eram igualmente aliados dos antigos inimigos, os franceses, cujo território defenderam militarmente.
O Estado Novo, apesar de enaltecer o “nacionalismo” patente naquele episódio da nossa história, não veria com muitos bons olhos o carácter popular de resistência aos invasores, muito pouco de acordo com a ideário de “ordem” e “autoridade” que defendia.
Por último, a democracia, da qual se esperava uma atitude educativa mais preocupada com o esclarecimento da verdade, pelo contrário, como se vê pelas orientações programáticas acima referidas, parece procurar igualmente escamotear a importância do tema, numa atitude “politicamente correcta” de tentar fazer esquecer as velhas divergência com as Nações Europeias, tentando agradar aos nossos parceiros na União Europeia.
Em oposição à ambiguidade do ensino formal na abordagem do tema, tem sido a tradição oral e a memória popular a manter viva a importância histórica desse acontecimento, situação muito mais evidente aqui em Torres Vedras, onde tudo se conjuga para valorizar essa memória.
Pessoalmente, a minha memória sobre a importância desse tema sempre foi cultivada pela existência de um obelisco comemorativo no “centro” da então vila, pelo impacto da dimensão dominante do Forte de S. Vicente, pelo destaque às Piscinas e às “Águas do Vimeiro”, pertencentes à localidade da Maceira, no concelho de Torres Vedras, mas assim designadas por razões de marketing comercial, devido à proximidade geográfica com um lugar vizinho, pertencente a outro concelho, mas internacionalmente conhecido, o Vimeiro.
Ainda criança, tendo nascido com a televisão, era ainda com orgulho que ouvíamos referência ao local dos seus primeiros estúdios, localizados na “Alameda das Linhas de Torres”.
Comemorando-se agora o duplo centenário desse acontecimento, talvez fosse tempo de abandonar complexos e, de uma vez por todas, o tema ser integrado nos programas de história com o destaque devido.
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