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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Reflectindo sobre o abandono escolar na Europa e em Portugal

A edição desta quinzena do “Jornal de Letras” dedica um dossier sobre o anunciado aumento da escolaridade obrigatória .
Chamou-me especial atenção a publicação de dois quadros com dados relativos à “taxa de saída precoce do Sistema de Ensino” e à escolaridade obrigatória nos países de União Europeia (sem referência a fontes ou ao ano de referência).
Os dez países que apresentam a pior taxa de abandono escolar, segundo esses dados são:
Malta, com 37,6% de abandono precoce;
Portugal, com 36,3%;
Espanha, com 31%;
Itália, com 19,3%;
Roménia, com 19,2%;
Reino Unido, com 17%;
Bulgária, com 16,6%;
Letónia, com 16%;
Luxemburgo, com 15,1%;
Grécia, com 14,7%.
Convém dizer que mais de metade desses países tem mais de nove anos de escolaridade obrigatória, aos quais se junta agora Portugal.
Um dado a reter é que a totalidade dos chamados países do Sul integram esta lista dos “dez piores”, destacando-se, contudo o caso dos Países Ibéricos.
É igualmente significativa a posição do Reino Unido, o 6º pior, contradizendo as virtualidades do sistema educativo deste país, apontadas por muitos dos nossos “opinadores”, que o consideram um modelo a seguir.
Observemos agora a lista dos dez países com os melhores resultados:
Eslovénia, com uma taxa de abandono escolar de apenas 4,3%;
Polónia, com uma taxa de 5%;
Eslováquia, com 7,2%;
Finlândia, com 7,9%;
Suécia, com 8,6%;
Lituânia, com 8,7%;
Hungria, com 10,9%;
Áustria, com 10,9%;
Irlanda, com 11,5%;
Holanda, com 12%.
É evidente o óptimo resultados de dois grupos de países, os antigos países de leste e os países nórdicos.
Quanto à escolaridade obrigatória, metade deles tem apenas nove anos.
Comparando estes dados, é possível concluir duas coisas:
que o tempo da escolaridade obrigatória pesa pouco nos índices de abandono escolar;
que o maior ou menor abandono escolar parece estar ligado com o maior ou menor desenvolvimento económico-social e com razões de ordem cultural.
Os países nórdicos, com um sistema social mais consolidado, contrastam com aquele que é o maior símbolo europeu das opções neo-liberais, o Reino Unido.
Do ponto de vista cultural, é contrastante a situação dos países do sul, principalmente os Ibéricos, por um lado, e os países do leste, que valorizam muito o conhecimento e a escola, como o pode comprovar quem conhece a situação dos alunos do leste que frequentam o nosso ensino.
Podemos assim concluir que, sem valorizar uma cultura de conhecimento e os agentes deste (os professores), dificilmente se irá alterar a situação de países com Portugal.
Pelo contrário, toda a campanha levada a cabo pelo actual Ministério da Educação contra os professores, com o apoio irresponsável de vários comentadores de serviço, não vai contribuir para uma significativa melhoria do ensino e para a valorização da educação, por mais que se aumente o tempo de escolaridade.
Pelo contrário, com essa atitude, os professores continuarão a ser desautorizados, a escola continuará a ser vista como um fardo e uma obrigação, e continuaremos na cauda dos índices educativos.
Não me esqueço de, num ano em que dei aulas no Algarve, me chamarem a atenção para uma situação habitual nessa e noutras escolas da região: quando se aproximava a época balnear, registava-se um abandono escolar em massa .
Colegas que tentavam inverter essa situação, recebiam como resposta, dos alunos, ou mesmo dos encarregados de educação: “ o que é que interessava estudar, como tinham feito os professores, se, numa época de trabalho, na praia, ganhavam mais que um professor num ano…" (?).
O episódio passou-se há vinte anos.
Desde então muita coisa se alterou no ensino em Portugal, mas o "caldo cultural" que o provocou voltou a evidenciar-se com a política "socrática".

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