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terça-feira, 12 de maio de 2009

Para que servem os economistas?

Já fazia esta pergunta muitas vezes.
Faço-a agora quase todos os dias, perante os números da crise.
Pensava que a economia servia, antes de mais nada, para combater a desigualdade na distribuição dos recursos, para combater a miséria e gerir o trabalho, no sentido de uma procura interminável da felicidade humana. Claro que pensava assim há muitos anos.
Infelizmente, com a idade fui deixando de ter ilusões sobre o objectivo da economia e dos economistas.
Não falo dos meus amigos economistas que honestamente e humanamente desempenham as funções que lhes pedem. Estes não são ouvidos na comunicação social, nem são chamados para administrar empresas públicas, e muito menos são ricos.
Falo, obviamente, daqueles economistas, ou aprendizes de economia, que aparecem a dar opiniões em tudo o que é órgão de comunicação social de referência, que passaram por cargos de gestão em governos, em empresas públicas e em bancos, gozando hoje de reformas chorudas e ganhando para dizer aquilo que os poderes estabelecidos, governantes e patrões, gostam de ouvir, sem mostrarem um mínimo de vergonha ou arrependimento por aquilo que fizeram.
Para esses, o factor trabalho é o que deve ser penalizado e responsabilizado pelo estado da “coisa”: corte-se nos direitos e nos “privilégios” dos trabalhadores!; reduza-se o valor do trabalho, congelando salários; aumente-se o horário de trabalho.
E eu que pensava que a economia era uma ciência humana!
O sr. Trichet é a imagem pública e europeia do total desnorte que reina no mundo dos economistas.
As suas previsões, ou pecam pela total irrealidade ou andam a reboque da política norte-americana.
No fundo, para bem da Europa, o sr. Trichet já devia estar reformado (uma reforma humilde, coincidente com a sua irresponsabilidade, candura e incompetência). Mas não é isso que acontece. Toda a gente continua a dar-lhe ouvidos, e a crise continua sem fim à vista.
Na Europa, ao contrário dos Estados Unidos, não se vislumbra um rasgo de imaginação por parte dos políticos e economistas que nos lideram.
Não existe coragem política para encerrar os offshores, para controlar a especulação financeira, para combater as crescentes desigualdades sociais, para responsabilizar política e socialmente os bancos, para enfrentar os dumpings sociais fomentados pela liberalização dos mercados. Muitos menos em momento de eleições europeias. E depois quem lhes pagava as campanhas?
Não existe imaginação nem coragem política para propor verdadeiras mudanças na estrutura económica e financeira, como, por exemplo:

· Incentivar o uso de transportes públicos em detrimento do privado, tornando-os mais rápidos, mais baratos,mais cómodos e menos poluentes. (isso ía contra o interesses dos construtores de automóveis, que chantageiam com o desemprego, contra o interesse das petrolíferas, contra o interesse das grandes empresas construtoras de auto-estradas….);
· Apoiar a produção em detrimento da especulação intermediária, tornando o produto mais barato e premiando economicamente quem na verdade produz ou se relaciona directamente com o consumidor (os agricultores, os industriais e os comerciantes);
· Combater as fortunas construídas com base na especulação, nomeadamente a financeira, com taxas elevadas sobre os lucros assim obtidos (seria importante diferenciar o lucro obtido na pura especulação, do obtido com trabalho e inovação);
· Tornar os trabalhadores mais interventivos, participando directamente, como accionistas, nas empresas onde trabalham, com lugar na administração e beneficiando directamente nos seus lucros
· Desenvolver e incentivar a organização empresarial baseada no cooperativismo, em detrimento das empresas meramente privadas ou estatais;
· Apostar na inovação tecnológica, na indústria cultural, nos recursos naturais, no ambiente…

Claro que, para executar algumas destas medidas, era necessário alterar muitos dos paradigmas em que se baseou a construção europeia nas últimas décadas.
E, obviamente, a execução de um programa económico inovador, ía deixar no desemprego os economistas que, tal brigada do reumático, continuam a “oferecer” os seus “préstimos” para combater a crise que eles próprios ajudaram a criar, defendendo as velhas receitas de sempre.
Enquanto lhes continuarmos a dar ouvidos, só nos resta esperar pelos resultados da verdadeira inovação que Obama está a produzir do outro lado do Atlântico, e esperar que a nossa crise dure pouco tempo, por obra e graça do Espírito Santo, Trichet, Barroso e Sócrates….

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