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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Recordando João Bénard da Costa


A notícia foi divulgada há poucas horas pela agência Lusa: João Bénard da Costa morreu hoje em casa aos 74 anos.
Ainda segundo aquela mesma notícia, “João Bénard da Costa, que foi subdirector da Cinemateca Portuguesa desde 1980 e director de 1991 a 2009, foi substituído na direcção da Cinemateca Portuguesa em Janeiro último por Pedro Mexia devido a problemas de saúde.”
“Nascido em Lisboa em [7 de Fevereiro] 1935, João Pedro Bénard da Costa, licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, dirigiu o Sector de Cinema do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e presidia à Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal (…).
“Pelo trabalho à frente da Cinemateca, Bénard da Costa foi condecorado em Setembro passado pelo ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro com a medalha de mérito cultural.”
O antigo regime impediu-o de seguir a carreira universitária, pelo que leccionou História e Filosofia, entre 1959 e 1965, em dois colégios de Almada, no Liceu Camões e no Colégio Moderno. Tal como outro grande divulgador cultural, recentemente falecido, Vasco Granja, foi dirigente cineclubista entre 1957 e 1960, nascendo aí o seu grande interesse pela cultura cinematográfica, da qual ele foi um dos mais brilhantes divulgadores em Portugal.
Autor de vários livros de cinema, o seu entusiasmo por esta arte levou-o a desempenhar vários papéis em filmes de Manoel de Oliveira e de João César Monteiro, usando o pseudónimo de Duarte de Almeida.
Escrevia com prazer e paixão sobre arte e, principalmente, sobre cinema, sempre com um sentido irónico, criativo e rigoroso.
Num país mergulhado numa tremenda crise de valores, nomeadamente de valores culturais, a sua perde é gigantesca, mas o seu exemplo é motivador.

O 25 de Abril de Bénard da Costa

“Tinha-me deitado tardíssimo na véspera, jantara com o Vasco Pulido Valente, que ficou até de madrugada a tentar convencer-me, numa imensa discussão, que o Marcelo tinha o poder garantido por mais 20 anos...
E na manhã do 25 de Abril, sem saber ainda de nada - a não ser estranhar não haver trânsito nas ruas -, encontro o Villaverde Cabral à porta do Conservatório que me disse: "É agora!"
"O quê?", perguntei.
"É agora o fim do regime!" Bem, eu estava vacinado de fazer profecias que nunca se verificavam...
E não sabendo rigorosamente nada sobre o MFA, com aquilo que estava a acontecer no Carmo percebi que era imparável.
Embora hoje esteja menos convencido disso do que nesse dia.
Se tem havido uma resistência militar a sério e com o que hoje se sabe sobre a preparação militar do 25 de Abril, se calhar ele teria abortado!
A verdade é que ninguém esteve para arriscar.
Só não foi tão excessivo como o 5 de Outubro, em que meia dúzia de oficiais mudaram o regime... Tudo isto para lhe dizer que na noite de 25 para 26 percebi que era irreversível.”

(excerto de uma entrevista conduzida por Maria João Avilez para o jornal “Público” em 1994. Pode ser lida na integra através do seguinte endereço: http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=ejcosta )

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