Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 16 de março de 2011

ANTES PELO CONTRÁRIO...

Não tenho escrito nada neste espaço que o Venerando, na sua generosidade, me facultou. Hoje não resisto a meter a colher, amigavelmente, como sempre que falamos os dois.

Não te acompanho neste teu desabafo, meu amigo. Por uma razão simples: Sócrates é a direita no poder, com uma máscara de esquerda na cara, como os nossos miúdos no carnaval. É por isso que o Passos Coelho anda a encanar a perna à rã e não tem apetência nenhuma para ir para lá. Não saberia fazer melhor. E acirraria mais aquelas franjas de centro-esquerda que ainda vão acreditando que não há alternativas ao Sócrates.
Estás farto do homem, queres uma mudança. Mas mudar o quê? O estilo mais truculento do Sócrates pelo estilo mais penteadinho do Coelho?

Estamos num impasse político e não é a cavacal figura que o vai desfazer. Até porque ele está ao lado do Sócrates, embora tenha feito a discursata inconsequente da tomada de posse - aquilo foi para agradar à sua Maria e aos filhos... podes crer.

Uma saída poderá ser o que Marcelo Rebelo de Sousa tem andado a defender, até dentro do PSD: é uma espécie de governo de salvação nacional, com outra gente do PS, do PSD e até do CDS. Seria a única solução que o directório europeu aceitaria, para além da manutenção do Sócrates. Mas Cavaco não tem estatura para lidar com um processo destes...

O grande drama da nossa política é a total inoperância da "esquerda à esquerda do PS", como bem disse o Daniel Oliveira que eu citei noutro lugar. Tanto o BE como o PCP esgotam a sua intervenção em tiradas moralistas sobre "outras políticas" mas são incapazes de apresentarem uma solução de governo que diga como seria possível pô-las em prática. Não se dão conta de que jogam ao absurdo: exigir aos políticos de direita que prossigam políticas de esquerda. E continuam teimosamente nesta lenga-lenga, que não arrasta ninguém para o seu campo e só convence os próprios fiéis. Têm uma linguagem e um comportamento sectários, sem perspectivas na vida democrática.

Como homem de esquerda, acho que o PCP e o BE deviam:

Jogar o jogo democrático,  começando por eles próprios se aliarem, numa convergência leal, sem sectarismo, e procurando alianças com todos os sectores de esquerda não alinhada, ou com sensibilidades de esquerda dentro dos partidos do Centro (PS/PSD). Não hostilizando o Presidente da República, antes procurando com ele linhas de diálogo, aproveitando por exemplo, a deriva "esquerdóide" do discurso da tomada de posse. Delineando um "Programa de Governo" exequível, pondo-o em cima da mesa para discussão e negociação. Pelo menos haveria uma alternativa credível, um espaço produtivo de discussão.

Mas não tenho ilusões. Aquela gente, sobretudo o PCP, vive a política como uma religião. Têm fé, mais nada. São incapazes de lidar com a realidade complexa da vida social, que vêem a preto e branco, num mundo em que só há bons ( "os trabalhadores e o povo") e maus ( os outros, sobretudo os que não pensam como eles). Actuam com base numa crença: se acirrarem os descontentes, se explorarem o desespero dos que têm fome, eles acabarão por se levantar numa insurreição popular e entregarão, finalmente, o poder ao grande Partido dos trabalhadores e do povo. Seria a albanização de Portugal, a saída do Euro, a miséria mais negra. Mas eles são cegos para a realidade.
Quanto à hostes do BE, são uma espécie de PCP mais culto e actualizado mas com as mesmas limitações políticas.

De modo que... mal por mal, antes a cadeia do que o hospital, como diziam na minha terra.
Até que surja D. Sebastião?...

2 comentários:

Venerando António Aspra de Matos disse...

No essencial até concordo contigo. Mas o que tu dizes acertadamente não anula a minha opinião sobre o Sócrates. Claro que nas minhas intervenções por aqui há sempre uma certa dose de provocação. Mas penso que em democracia a alternância não é o caos e neste momento este governo já não governa nem consegue conter ou agradar aos mercados, sendo este o único objectivo "ideológico" de Sócrates.
Por isso, para o país regressar a uma certa "normalidade", tudo é preferível à continuação desta política estagnada, que, essa sim, vai levar o país para o abismo e, mais grave ainda, vai obrigar os nossos filhos a trabalhar para pagar os juros e os desvarios desta gente.
Não tenho ilusões em relação ao Coelho, mas até este é preferivel à eterna mentira e fraude que é José Sócrates e a sua "trupe".
E já agora, deixem vir o FMI, não vai fazer pior do que aquilo que já nos fizeram, nem nos vai exigir mais que os burocratas incompetentes da UE, e até talvez traga alguma moralidade à economia e às finaças. Já passei por duas intervenções do FMI e nem me lembro do que tive de pagar, mas não me vou esquecer dos retrocessos profissionais, económicos e sociais que o Sócrates me aplicou.
Além disso, o FMI de hoje não é o mesmo de há décadas e até tem à sua frente um homem decente (ao contrário do que se passa nas instituições europeis).
Um abraço de consideração e amizade.
Venerando

Manuel F. V. G. Mourão disse...

Há aqui um problema. O PCP diz tudo o que tem a dizer mas não apresenta soluções realistas. O BE diz algumas verdades, as que lhes convém mais mas já não tem nada para trocar com o PS. Estes só dizem o que lhes convém e do verdadeiro estado da Nação só vamos sabendo quando são anunciadas mais medidas de austeridade a serem aplicadas quando tudo estava a correr pelo melhor (dizem eles). O PSD obriga o PS a negociar mas não diz claramente quais as medidas com que concorda doutrinariamente ou quais as que apoia devido à conjectura. Quando chegar ao Poder (parece inevitável) não vai desfazer aquilo que criticou, aposto. O CDS vai propondo medidas que nem são consideradas pelos outros (com razão? sem razão?). Já não há esquerda nem direita. Há anacronismos e oportunismos. Ou a esquerda repensa muito bem os seus princípios doutrinários e a sua forma de agir ou será depositada no baú das velharias e outros aproveitarão a oportunidade para, encobertos pela fachada dos partidos políticos, firmarem um Poder cada vez mais distantes dos que não possuem poder nenhum.
E as pessoas vão aprendendo a viver com aparente felicidade neste estado das coisas.