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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Rostos da Tragédia Climatérica

Inicia-se hoje a Cimeira de Copenhaga, talvez a última oportunidade para a humanidade evitar a catástrofe ambiental.

Infelizmente, muita gente já sentiu na pele os efeitos das dramáticas mudanças climatéricas.
Foi delas que se lembraram a jornalista Mathias Braschler e a fotógrafa Monika Fischer, que percorreram o mundo para recolherem as histórias de gente anónima afectada, de várias maneiras, pelas mudanças climatéricas.
Desse trabalho resultou uma reportagem fotográfica, ontem publicada no El País, denominada “A Mudança Climatérica na Primeira Pessoa”, e da qual iremos dar conta hoje e nos próximos dias (os textos foram adaptados):



“QUANDO ERA PEQUENO, CHOVIA MUITO. AGORA APENAS CAÍ ALGUMA ÁGUA”
Chai Erquan, de 65 anos, agricultor e pastor na província chinesa de Ganzu sofre à muito com a desertificação que ameaça seriamente a agricultura da região. A multiplicação de tempestades de areia faz o deserto avançar rapidamente sobre as terras de cultivo: “Creio que a vida será cada vez mais difícil. Não temos muita esperança”, recordando que, quando era pequeno “chovia muito e tínhamos água por toda a parte”.



 “O TEMPO ESTÁ LOUCO E ISSO PREOCUPA-NOS MUITO”
Gumersindo Sutta Illa, de 54 anos, e o seu neto Richard Guerra Sutta, de 10, são agricultores que vivem em Chahuaytire, no Perú. A temperatura nos Andes peruanos aumentou muito e o tempo é cada vez mais imprevisível. As populações indígenas desta zona cultivam batatas há milhares de anos, mas este tubérculo já não se dá bem com as novas condições climatéricas: “O tempo está louco, muda constantemente e isso preocupa-nos muito. Não sei o que se passa, mas há muitas geadas e o aumento da temperatura está a afectar a terra”.



 “SE ISTO PIORA, O GADO DESAPARECE. E NÓS TAMBÉM”
Dogna Fofaza, de 66 anos, é caçador e agricultor em Dioumara no Malí. Na última década a precipitação nesse país diminuiu cerca de 40%. A Época das chuvas chega tarde e a más horas: “Não percebo porque razão agora faz mais calor que antigamente. Deu-se uma grande mudança. A água que cai não chega. Se a situação piora, o gado desaparecerá. E nós também”.



“NUNCA ESQUECEREI ESSES FURACÕES”
Yusnovil Sosa Martínez, de 33 anos, a sua mulher, Antónia González Cotino, de 41 e o seu filho Yosdany Miranda González, de 10, vivem em Pinar del Río, em Cuba. A intensidade dos furacões nas Caraíbas está a aumentar. Em 2008 o “Gustav” e o “Ike” provocaram chuvas intensas. A casa dessa família foi destruída e, um ano depois, Yusnovil e a sua família continuam a viver numa pequena cabana: “[os furacões] chegaram um a seguir ao outro. Nunca o esquecerei. Foi um desastre. Por onde passavam não ficava nada de pé”.



”OS CONFLITOS ENTRE AMIGOS SÃO PROVOCADOS PELA FALTA DE ÁGUA”
Tsering Tundup Chupko, de 51 anos é agricultor na região indiana de Ladakh, nos Himalaias. Aquele que era até há pouco um deserto de gelo, tem vindo a derreter-se rapidamente. Mas mesmo assim os agricultores daquela região sofrem e falta de água, pois neva cada vez menos: “Em geral, nós, a gente de Ladakh, vivíamos em harmonia com os nossos vizinhos, mas agora estão a aumentar as tensões, e acredito que essa situação se deve à falta de água”.

Ao longo destes próximos dias, aqueles durante os quais decorre a Cimeira de Copenhaga, iremos divulgando outros casos revelados nela excelente foto reportagem, que nos revela que já existem vítimas da catástrofe climatérica.
Se nada for feito, aquilo que agora parece distante e pontual irá tornar-se o nosso modo de vida.
É para isso que essas pessoas nos alertam.

(CONTINUA)

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