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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

SANTANA SÓCRATES


Nunca percebi o modo diferenciado como a nossa imprensa tratou Santana Lopes e José Sócrates.
Ambos conheceram alguma projecção pública na televisão num frente a frente que se realizava no início deste século.
Santana Lopes saltou do programa para o cargo de primeiro-ministro quando Durão Barroso abandonou o barco.
José Sócrates, até então menos conhecido do público que o primeiro, saltou para a direcção do PS e daí par primeiro-ministro, muito por influência das jogadas de bastidores de Jorge Sampaio.

Entre os dois não existiam, à partida, grandes diferenças. Ambos tinham o dom da palavra, sabiam vender a sua imagem à comunicação social, eram demagógicos quanto baste, usavam o pragmatismo para disfarçar a falta de coerência política e ideológica, ambos eram ambiciosos e vaidosos.
Apenas uma diferença os separava. Enquanto Santana Lopes era um homem autêntico, que fazia da sua vida um livro aberto, Sócrates mantinha uma imagem mais resguardada, deixando transpirar para a imprensa cor de rosa apenas aquilo que contribuísse para criar a imagem que mais lhe convinha às suas ambições políticas.
Talvez por isso Santana começou a perder o pé na comunicação social, enquanto Sócrates ganhava apoios cada vez maiores junto dela.

Santana Lopes pouco tempo teve para demonstrar o que valia como primeiro-ministro. Incapaz de lidar com as intrigas e rasteiras da comunicação social, qualquer deslize do seu governo tornava-se um pesadelo.
Nos bastidores Sampaio conspirava para expurgar o PS da sua ala esquerda, aproveitando-se do caso Casa Pia para fritar em lume brando Ferra Rodrigues.
Quando essa ala foi de vez afastada e José Sócrates acendeu ao poder, Jorge Sampaio só esperou por um pequeno pretexto, com o apoio da comunicação social, para derrubar Santana Lopes, convocar eleições antecipadas e entregar de bandeja o poder a José Sócrates.

Os deslizes de Sócrates foram-se revelando mais graves e frequentes que os de Santana, a incompetência e a truculência da sua governação muito mais desastrosa que a revelada por Santana Lopes, mas os comentadores, jornalistas e economistas continuaram a delirar com a “competência” e “coragem” da sua governação.

O jeito de José Sócrates para lidar com a comunicação social tem-se revelado o seu melhor seguro de vida política, mas começa a cansar, e quando cansa, a comunicação social, que gosta tanto de navegar na onda da frente, vai ser, a prazo, a coveira dessa politica, pois, tão rápida como é a promover políticos como quem promove sabonetes, também rapidamente destrói os mitos que criou, gerando outros novos, numa voragem que é a razão de ser da maior parte dessa comunicação social.

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