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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os "Mercados"...



No meio da “euforia geral” com as medidas de rigor orçamental tomadas na Europa e, em particular, em Portugal, economistas, banqueiros, ex-ministros das finanças, gestores de topo e comentadores de economia, aproveitam para lançar a confusão com frases feitas, pondo tudo no mesmo barco.

Uma dessas frases feitas é  a falácia como falam no “mercado” , para justificar a situação actual.

Mas,   que “mercado” é esse, o tal que “pressiona” as os governos europeus para tomerem medidas de “rigor” e que andam “nervosos” com a instabilidade financeira?

Numa sociedade capitalista “justa” (!) o “mercado” éramos todos nós, os produtores e consumidores, os que mantemos o sistema económico em funcionamento.

Numa sociedade capitalista “justa” (!) o “mercado” era dominado por pequenos e médios accionistas que teriam, por essa via, o controle maioritário sobre as próprias empresas onde trabalhavam ou sobre os sectores chave da economia essenciais à qualidade de vida dos cidadãos.

Numa sociedade capitalista “justa” o leque de rendimentos não ultrapassaria a distância de 1 para 10, sendo que no topo estavam os mais qualificados (professores catedráticos, investigadores, juízes e médicos cirurgiões) e os que tinham cargos de maior responsabilidade (presidente da República e primeiro-ministro), isto porque, na sociedade capitalista a liberdade de cada um mede-se pelo seu rendimento.

Contudo, os “mercados” a que aqueles se referem, como se fossem os “donos” da economia e da decisões económico-sociais de um país e de um continente, são, única e exclusivamente, os sectores especulativos financeiros (a bolsa, os bancos, as empresas de rating…), exactamente aqueles que levaram a Europa e o país para o descalabro e cuja chantagem atemoriza tanto os fracos e comprometidos governos europeus e, pelos vistos, tanto agradam aos nossos comentadores de economia , que se “babam” todos cada vez que falam em “medidas de rigor”, como se não fosse nada com eles (e provavelmente não é, pois muitos deles estão ligados a esses mesmos interesses, de forma directa ou indirecta – quem controla financeiramente a comunicação social? Quem controla financeiramente as escolas de economia? Quem dá empregos aos professores e alunos dessas escolas?...).

Seria bom recordar aqui que esses mesmos comentadores e esses mesmos “mercados” ainda há poucos meses “mendigavam” apoio financeiro dos governos para salvar esse sector e agora, esses mesmos, vêm exigir contenção nos deficits públicos, em grande parte agigantados por esses apoios, não à custa da regulamentação rigorosa e firme dos “mercados”, mas através da “contenção” do rendimento dos funcionários públicos, da estagnação do investimento público, do aumento dos impostos sobre quem trabalha e quem produz e dos cortes sociais de apoio às principais vítimas de toda esta situação, os mais pobres e os desempregados.

Algumas dessas medidas até podiam ser aceitáveis na actual situação se, em paralelo, fossem tomadas medidas no sector financeiro, através de uma regulamentação mais rigorosa da sua actividade, através da ilegalização dos off-shores, penalizando judicialmente e financeiramente, com coragem e consequências, a utilização desses sectores para o branqueamento de dinheiro oriundo do mundo do crime, da fuga aos impostos e da fraude económico-financeira, na criação de uma empresa europeia de rating credível e independente, e na investigação a nível Europeu das práticas financeiras que levaram a esta situação, com consequências para os responsáveis.

O tal “mercado” que “anda nervoso”, exige mais “medidas de rigor” é, por isso pouco credível e deve ser combatido como um cancro na economia Europeia do Século XXI.

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